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Perdão não impede nova subida da dívida são-tomense

17 de janeiro de 2012

O perdão da dívida externa criou condições para São Tomé e Príncipe ter acesso a outros financiamentos internacionais, mas o problema do endividamento mantém-se. E as receitas internas não chegam para cobrir as despesas.

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A produção interna são-tomense é muito frágil, o que não ajuda a desenvolver a economia do país
A produção interna são-tomense é muito frágil, o que não ajuda a desenvolver a economia do paísFoto: Edlena Barros

Atualmente, a dívida externa de São Tomé e Príncipe é de 172 milhões de dólares (cerca de 135 milhões de euros). Cerca de 57% a mais do que em 2007, quando os países do Clube de Paris perdoaram a dívida de 359 milhões de dólares (cerca de 282 milhões de euros) para 110 milhões de dólares (cerca de 86 milhões de euros).

Segundo Maria de Santa Tébus, coordenadora do Gabinete de Gestão da Dívida, a atual dívida externa é ainda insustentável para o governo são-tomense. “Existem algumas dívidas que são difíceis de negociar, dívidas bilaterais que não pertencem ao Clube de Paris. E depois tivemos de recorrer a alguns endividamentos para financiar as necessidades da economia”, explica.

Num país onde quase nada se produz e tudo é importado, as receitas produzidas internamente não são suficientes para cobrir as despesas do país. Maria Tébus afirma que só com um aumento das receitas São Tomé e Príncipe poderá diminuir o endividamento externo. “Tem que ser com a progressão interna”, sublinha, acrescentando que as exportações não irão crescer mais.

O analista Luís de Sousa diz que a atual crise mundial está a fechar muitas portas
O analista Luís de Sousa diz que a atual crise mundial está a fechar muitas portasFoto: Edlena Barros

Financiamento cada vez mais difícil

O perdão da dívida em 2007 tinha aberto novas portas para financiamentos internacionais. No entanto, com a crise que atualmente afecta a economia mundial muitas portas estão novamente a fechar-se, reduzindo assim o espaço de manobra do governo, considera o analista de mercado Luís de Sousa.

“É verdade que hoje é muito mais difícil conseguirmos financiamento externo do que há uns dez anos atrás”, diz o analista, “porque todos ou quase todos os países têm dificuldades em encontrar financiamento no mercado internacional.” Reconhece que, para crescer, é necessário que o país se endivide, mas de forma “a que os recursos que advêm dessa dívida sejam efetivamente para financiar os setores produtivos que geram rendimentos”.

No entanto, diz Luís de Sousa, internamente o país tem sido pouco atingido pela crise, uma vez que estão a ser feitos alguns investimentos estrangeiros no país. “Temos notado, de certo modo, criação de riqueza nacional e um investimento internacional a vir para o país”, refere, dando como exemplo o financiamento do porto e a construção de estradas, entre outros projetos de investimento.

Luís de Sousa (em baixo à esquerda), Maria de Santa Tebus (em baixo à direita), Aldro Umbelina (em cima à esquerda) e João Gomes (em cima à direita) numa conferência sobre a dívida externa são-tomense
Luís de Sousa (em baixo à esquerda), Maria de Santa Tebus (em baixo à direita), Aldro Umbelina (em cima à esquerda) e João Gomes (em cima à direita) numa conferência sobre a dívida externa são-tomenseFoto: Edlena Barros

Efeitos da crise já se sentem

O empresário são-tomense João Gomes, por sua vez, defende que esses investimentos são apenas perspetivas e que os efeitos da crise já são uma realidade em São Tomé e Príncipe. “Nos últimos três anos, temos sentido uma redução no investimento em São Tomé e Príncipe, o que faz com que haja mais dificuldades de emprego, o poder de compra da população também é mais reduzido e, quer as pessoas quer as empresas, acabam por sentir os efeitos dessa crise mundial”, afirma.

Segundo dados do último relatório do Banco Central de São Tomé e Príncipe referentes a 2011, a economia do arquipélago cresceu 5% e vai crescer 5,5% em 2012.

Autora: Edlena Barros (São Tomé)
Edição: Madalena Sampaio/António Rocha