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África Têxtil: outro "elefante branco" em Angola?

Carla Fernandes13 de maio de 2013

Prevê-se que a empresa África Têxtil volte a funcionar no início de 2014, depois de obras de reabilitação e ampliação. Mas peritos em economia não acreditam que o projeto tenha pernas para andar.

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Autoridades esperam que projeto África Têxtil produza toneladas de artigos têxteis por ano, mas analista duvidaFoto: DW/M.Braun

Inaugurada em 1974, a África Têxtil foi encerrada no final dos anos 1990. Atualmente, o projeto de reabilitação e ampliação da empresa do executivo angolano está orçado em 280 milhões de dólares.

O projeto África Têxtil, nos arredores de Benguela, faz parte de um programa mais amplo que inclui as empresas Satec, na cidade do Dondo, no Kuanza Norte, e a Textang, em Luanda. O projeto pretende relançar o setor industrial têxtil do país. Espera-se que, daqui a um ano, a unidade fabril venha a produzir 350 mil toneladas de colchas e 100 mil toalhas por ano.

Mas o investigador português Emanuel Lopes duvida que isso venha a acontecer.

Obstáculos

Benguela
Fábrica África Têxtil deverá começar a funcionar daqui a um ano em BenguelaFoto: DW

Há três grandes obstáculos ao projeto, diz o analista do Centro de Estudos Africanos do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. "O primeiro constrangimento é a corrupção. O segundo constrangimento tem a ver com a falta de energia. Angola não tem energia, o fornecimento de energia é feito através de geradores. Não se pode fazer indústria com energia cara. O terceiro constrangimento são os transportes", enumera Emanuel Lopes.
 
O investigador vai de encontro à opinião de fontes do Sindicato dos Jornalistas Angolanos que conhecem o dossier do projeto. O investigador acredita ainda que todos os fatores mencionados vão fazer com que os custos de produção sejam demasiado elevados.

Falta algodão

Um outro fator a considerar é o facto de Angola não produzir algodão há décadas.

No tempo colonial, Angola "produzia algodão em quantidade e esse algodão era depois exportado para Portugal." Porém, hoje em dia Angola já não produz algodão, conta Emanuel Lopes. "Os campos foram abandonados. Angola tem um território muito vasto mas, em termos agrícolas, é um território que tem muitas pobrezas."

Será difícil fazer uma fábrica funcionar quando se tem de importar a matéria-prima, diz o investigador.

Afrika Textilindustrie Ghana
O investigador Emanuel Lopes não acredita no futuro da África Têxtil - na foto, fábrica no GanaFoto: picture-alliance/dpa

Estima-se que os custos de produção serão bastante agravados tendo em conta a importação de mais de 90% do algodão necessário para que a indústria funcione. De momento, a produção do algodão para o relançamento da indústria têxtil está a ser feita de forma experimental na província do Kuanza Sul em campos abandonados há mais de 30 anos.

Mas mesmo que a produção viesse a ser bem sucedida, a questão da concorrência também se colocaria. No mercado nacional, os têxteis vindos de países como a Índia, o Bangladesh ou a China oferecem preços muito mais baixos: "A China, por exemplo, é o principal fornecedor de produtos manufaturados para Angola, para além de Portugal, e é um produtor forte a nível têxtil", refere Emanuel Lopes.

Encerramento depois da inauguração?

Espera-se que a África Têxtil em Benguela comece os trabalhos em janeiro de 2014. A Textang, em Luanda, deverá estar em funcionamento em agosto deste ano com a fiação de algodão, tecelagem, tingimento e estampagem de tecidos. Mais tarde virá a fase de acabamentos e fabrico de vestuário. Mas, mais uma vez, o investigador do Centro de Estudos Africanos do ISCTE mostra-se cético:

“O que eles vão fazer é gastar o dobro ou o triplo do que deviam. Depois levam os contentores de matéria-prima, fazem a festa de inauguração, vendem e ainda são capazes de fazer um desfile de moda com os produtos da Textang, da África Têxtil. Seis meses depois aquilo já deixou de funcionar.”

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