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África do Sul: 100° aniversário do ANC com sabor agridoce

4 de janeiro de 2012

Congresso Nacional Africano comemora 100 anos de existência envolvido em embaraçosos casos de corrupção. As desigualdades sociais e a pobreza persistem. Descontentamento popular cresce.

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Manifestação contra a aprovação de legislação do ANC que reduz a liberdade de informação e de expressão, em novembro de 2011, na Cidade do Cabo
Manifestação contra a aprovação de legislação do ANC que reduz a liberdade de informação e de expressão, em novembro de 2011, na Cidade do CaboFoto: picture alliance/dpa

O "Congresso Nacional Africano", partido político sul-africano conhecido pela sigla ANC, nasceu em Bloemfontein, cidade a sul de Joanesburgo, no dia 8 de janeiro de 1912, sendo atualmente o movimento de libertação mais antigo do continente africano.

Os fundadores eram maioritariamente intelectuais e representantes de organizações populares e da igreja. Na época o movimento foi batizado de South African Native National Congress, passando a denominar-se African National Congress (ANC) a partir de 1923.

Dennis Golberg, membro do ANC, explica que à data da fundação o objetivo dos fundadores era garantir direitos de cidadania e igualdade de direitos entre brancos e negros.

“Primeiro – precisou Goldberg – havia a separação da sociedade por etnia, instituída pelos britânicos. Depois das eleições de 1948, a separação ficou ainda mais forte. Havia repressão. Trabalhadores negros eram bastante explorados. O ANC defendeu, então, que a África do Sul pertencia a todos. Negros e brancos. Juntos!”

O legado de Mandela

O ANC logrou obter alguma relevância política apenas a seguir à Segunda Guerra mundial. Nas décadas de 40 e 50 começaram a ser organizadas as primeiras greves e boicotes ao mesmo tempo que crescia, gradualmente, a resistência pacífica aos decretos segregacionistas instituídos pelo governo.

Nelson Mandela nach seiner Freilassung 1990
Nelson Mandela discursa após a sua saída da prisãoFoto: picture-alliance / dpa

Em 1960, cessaram os protestos pacíficos após a polícia ter reprimido violentamente uma manifestação e ter liquidado a tiro 69 ativistas que reivindicavam direitos iguais entre brancos e negros.

Este dia, 21 de março de 1960, ficou marcado na história mundial como o Massacre de Sharpeville. O ANC foi proibido e passou à clandestinidade. O seu mais destacado dirigente, o advogado Nelson Mandela, decide intensificar a luta e funda a organização paramilitar do Congresso Nacional Africano.

“No princípio – recorda Mandela – os líderes do ANC estavam contra a criação do braço armado, mas eu achava que, na época, o governo não nos deixava outra alternativa.”

Em 1963, o regime do apartheid consegue prender Mandela e outros dirigentes do ANC. Os tribunais brancos desferiram um profundo golpe na organização ao sentenciarem todos com penas de prisão perpétua.

Liberdades e dificuldades

Oliver Tambo, na altura presidente do Congresso Nacional Africano é exilado em Londres. De lá, ele organiza protestos internacionais contra o regime segregacionista branco. A importância e eficácia política das ações de Tambo só foram reconhecidas pelo governo de Pretória em 1990, quando decidiu aprovar a libertação de Mandela.

Em 1994, o ANC venceu claramente as primeiras eleições democráticas realizadas na África do Sul com mais de 60% dos votos e Mandela passou a ser o primeiro presidente negro eleito da África do Sul.

A resolução das desigualdades económicas entre brancos e negros, a corrupção e o tráfico de influências, o surgimento da pandemia HIV/SIDA e a explosão dos já elevados índices de criminalidade dificultaram a tarefa de Mandela e dos seus correlegionários.

Em outubro de 2011, o atual presidente sul africano Jacob Zuma demitiu dois ministros e suspendeu um chefe de polícia por suspeita de corrupção. 

Ainda assim, o governo do ANC tudo fez para que a comemoração dos 100 anos do Congresso Nacional Africano seja grandiosa e colorida. Porém, não conseguirá esconder que a frustração cresce no país e que o legado de Nelson Mandela, líder incontestado e respeitado interna e mundialmente, se torna cada vez mais pesado para os atuais líderes negros sul-africanos.

Oliver Tambo (esq.) com Nelson Mandela (centro) no comício que assinalou o seu regresso à África do Sul após 30 anos de exílio, em Londres (Joanesburgo, 16.12.1990)
Oliver Tambo (esq.) com Nelson Mandela (centro) no comício que assinalou o seu regresso à África do Sul após 30 anos de exílio, em Londres (Joanesburgo, 16.12.1990)Foto: AP

Autor: Jörg Poppendieck(Cidade do Cabo)/Bettina Riffel
Edição:Pedro Varanda de Castro/António Rocha