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X Congresso da FRELIMO evidencia queda de braço interna do partido

24 de setembro de 2012

Presidente moçambicano Armando Guebuza (foto) não pode ser reeleito, mas poderá comandar Moçambique se conseguir manter direção do partido e eleger aliados para o comité central, que escolhe o candidato presidencial.

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O presidente moçambicano Armando Emílio Guebuza
O presidente moçambicano Armando Emílio GuebuzaFoto: picture-alliance/dpa

O X Congresso da FRELIMO – partido que governa Moçambique desde a independência do país de Portugal, em 1975 – deverá ditar os rumos futuros da política moçambicana.

Armando Emílio Guebuza, presidente de Moçambique e líder da FRELIMO, não pode mais se candidatar a presidente do país oriental africano porque está a cumprir o segundo – e último possível, de acordo com a Constituição – mandato no cargo mais alto do país.

Segundo a agência noticiosa LUSA, o nome do candidato à sucessão de Guebuza não deverá sair da reunião de cinco dias da FRELIMO. Mas a eleição do comité central, o principal momento do Congresso, deverá servir para definir as forças dos grupos internos do partido. Guebuza concorre à própria sucessão como líder do partido.

Será o comité central da FRELIMO que vai nomear o candidato às presidenciais de 2014, e, face ao estado em que se encontra a oposição, Renamo e MDM, o seu provável vencedor. Por isso, ainda segundo a LUSA, as várias correntes tentarão colocar o maior número de elementos no comité central.  

Ainda de acordo com a LUSA, Guebuza parece ter vantagem sobre outros setores do partido, como o do ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano. A eventualidade de co-existência de dois líderes – um na presidência do país, e outro, mais importante, na liderança do partido, tem aumentado os receios de que Guebuza, mesmo abandonando a chefia de Estado, continuará a dirigir o país através do comité central da FRELIMO.  

Sem unanimidade

Esta segunda-feira (24.09), segundo dia do X Congresso da FRELIMO, dois históricos dirigentes da formação política quebraram o tom de unanimidade que estava a marcar o encontro.

Até ao momento, o tom geral do X Congresso da FRELIMO, segundo a LUSA, foi de satisfação "com as vitórias alcançadas" pelo partido.

Intervindo na abertura do encontro, por exemplo, o presidente moçambicano e líder do partido governista FRELIMO, Armando Guebuza, destacou que graças às condições criadas pela FRELIMO Moçambique regista há mais de uma década e meia um crescimento médio de 7% com impacto na melhoria da qualidade de vida dos moçambicanos.

Eleições em Moçambique em 2004 mostram pôster com foto de Guebuza, que não pode ser reeleito...
Eleições em Moçambique em 2004 mostram pôster com foto de Guebuza, que não pode ser reeleito...Foto: AP

Guebuza deteve-se igualmente sobre o impacto de recentes descobertas  de recursos naturais, apontando que estes recursos devem beneficiar a todos os cidadãos: "Esses recursos devem igualmente beneficiar o reforço da unidade nacional, a consagração da nossa auto-estima e a consolidação da paz. Estas são condições fundamentais para continuarmos a fragilizar a pobreza até fazê-la passar à História", discursou o presidente moçambicano.

Metas e espaço nos media públicos

O presidente Armando Guebuza anunciou no Congresso os principais desafios do partido nos próximos cinco anos. Entre eles, estão "preservar e consolidar a unidade nacional e a auto-estima dos moçambicanos, prosseguir com o aprofundamento do trabalho político nas bases, continuar o desenvolvimento da luta contra a pobreza rumo à construção do bem estar do povo moçambicano, promover a cultura do trabalho, assegurar a formação do capital humano".

Guebuza também disse querer desenvolver redes de comercialização agrícola em todo o país, além de expandir serviços financeiros e bancos para as zonas rurais, entre outras metas.

As sessões plenárias do Congresso, incluindo a apresentação do relatório do Comité Central e os debates, estão a ser integralmente transmitidas em direto pela rádio e a televisão públicas, que, para o efeito, tiveram de alterar a sua programação e realizam emissões especiais alusivas ao encontro da FRELIMO.

Mais diálogo interno

Segundo a LUSA, Jorge Rebelo, ligado à chamada "ala pura" ou ortodoxa da Frente de Libertação de Moçambique, discursou exigindo mais diálogo interno e também resultados da direção partidária liderada por Armando Emílio Guebuza, o presidente moçambicano, que deverá ser reconduzido no cargo de presidente da FRELIMO durante o Congresso que vai até o fim desta semana.  

De acordo com a LUSA, numa sessão vetada à imprensa, Rebelo, histórico dirigente do partido, também disse estar apreensivo com "os perigos que rodeiam a unidade nacional", dando como exemplo apelos de dirigentes, que não citou, sobre a necessidade da prevalência dos chamados "originários".  
 
Também Marcelino dos Santos, fundador da FRELIMO, contestou os que querem fazer de Moçambique "apenas" um destino turístico. "Estou convencido que o desenvolvimento industrial é uma manga muito importante também para o desenvolvimento intelectual. É preciso que nós estejamos claros de que só avançando para o desenvolvimento industrial é que nós vamos também poder avançar pelos caminhos do desenvolvimento destas novas tecnologias", disse, segundo a agência LUSA.  
 
Cultura do medo

O dirigente histórico da FRELIMO, Marcelino dos Santos (dir.), destacou importância do desenvolvimento industrial de Moçambique
O dirigente histórico da FRELIMO, Marcelino dos Santos (dir.), destacou importância do desenvolvimento industrial de MoçambiqueFoto: Ismael Miquidade
...mas, dependendo dos membros do comité central, poderá ter mais força política que a ala do ex-presidente Joaquim Chissano (foto)
...mas, dependendo dos membros do comité central, poderá ter mais força política que a ala do ex-presidente Joaquim Chissano (foto)Foto: DW/M.Barroso

No primeiro dia do Congresso foi lançada uma crítica aquilo que foi descrito como cultura de medo instalada no partido, numa altura em que aumenta o coro de vozes contra a alegada ausência de debate aberto e franco no seio do partido: "Camarada presidente, no meu partido existe medo de dizer a verdade [aplausos]. Muitos têm sentido problemas, mas não conseguem expor porque têm medo de retaliação", discursou Francisco Julião, um dos representantes da FRELIMO.

Pemba

A capital da província nortenha de Cabo Delgado, Pemba, palco do X Congresso da FRELIMO, está com todos os hotéis lotados e os vôos cheios, de acordo com a LUSA no fim de semana. Eram esperadas 5 mil pessoas para o Congresso, entre delegados, pessoal de apoio, jornalistas e convidados.

A cidade recebeu benefícios em termos de aumento de capacidade energética e de telecomunicações e foi construído de raiz o pavilhão onde se realiza o X Congresso.

Autor: Leonel Matias (Maputo)/RK/LUSA
Edição: António Rocha

24.09 Congresso Frelimo - MP3-Mono

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