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Vkhutemas, a "Bauhaus de Moscou", é tema de mostra em Berlim

Katsiaryna Kryzhanouskaya (ca)21 de dezembro de 2014

As Oficinas Superiores de Arte e Técnica, na Rússia, competiam com a Bauhaus. Mas ao contrário da escola alemã, a russa praticamente caiu no esquecimento, apesar de seus feitos arquitetônicos e artísticos.

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Projeto da fachada da Vkhutemas para o 10° aniversário da revolução comunistaFoto: Staatliches Schtschussew Museum für Architektur Moskau/VG Bild-Kunst, Bonn2014

Um novo ser humano e uma nova forma de sociedade: a década de 1920 foi um período em que a arte deveria atender a tal exigência. Na Europa, sob a direção do arquiteto Walter Gropius, a Bauhaus estabelecia as bases de uma nova era para a arquitetura e o design.

Mas também na antiga União Soviética, intelectuais, artistas e arquitetos acreditavam nessa utopia com uma euforia pós-revolucionária. Tanto ali quanto na Alemanha surgiram as primeiras instituições de ensino que promoviam a vanguarda na arte e, principalmente, na arquitetura. Em 1919, surgia em Weimar a escola Bauhaus, e, um ano mais tarde, foram fundadas em Moscou as Oficinas Superiores de Arte e Técnica – as Vkhutemas.

As duas escolas são, muitas vezes, motivo de comparação. Frequentemente, as Vkhutemas são chamadas de "Bauhaus russa". E, de fato, as escolas russas têm semelhanças com a Bauhaus na Alemanha, principalmente na abordagem pedagógica e compreensão da arte.

Houve também uma cooperação: nos anos de 1927 e 1928, os estudantes realizaram intercâmbios de visitas e ideias. Na década seguinte, tanto a Bauhaus quanto as Vkhutemas fecharam.

Passados cerca de 80 anos, o espaço de exposição Martin Gropius Bau, em Berlim, apresenta a mostra Vkhutemas. Um laboratório russo do modernismo. No entanto, os curadores da mostra não quiseram colocar as duas escolas em pé de igualdade. Pois, além das semelhanças, há também inúmeras diferenças entre elas.

"Uma centena de Gropius"

Qualquer um, mesmo sem conhecimentos especiais anteriores, podia estudar nas Vkhutemas, que foram abertas por decreto do governo soviético. Isso também teve impacto sobre o número de alunos. Enquanto somente no primeiro ano, as Vkhutemas registraram 2 mil matrículas, na Bauhaus, estavam inscritos somente 150 alunos, distribuídos nas faculdades de Pintura, Escultura, Têxteis, Gravura, Cerâmica, Madeira e Metalurgia. A Bauhaus dava destaque ao design industrial, e, nas oficinas russas, o foco estava na arquitetura.

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Estudantes da Vkhutemas executando tarefas práticasFoto: Staatliches Schtschussew Museum für Architektur Moskau

Nas Vkhutemas, os estudantes podiam escolher o professor ou professora cujo curso queriam frequentar. Essa decisão não era fácil. Enquanto na Bauhaus, Walter Gropius era o diretor criativo no círculo de seus seguidores, na Vkhutemas, havia "uma centena de Gropius", explica Gereon Sievernich, diretor do Martin Gropius Bau. Estes incluem arquitetos como Alexey Shchusev, Nikolai Ladovsky e Konstantin Melnikov ou pintores como Kazimir Malevitch, El Lissitzky e Vassily Kandinsky, que, mais tarde, manteve o espírito das Vkhutemas ao ensinar na Bauhaus.

Alunos superam professores

Nas Vkhutemas, o ensino se baseava no chamado "princípio sintético", que previa uma proficiência tanto em atividades artísticas quanto artesanais. Os alunos começavam com composições abstratas, para aprender conceitos de espaço, forma e equilíbrio. Posteriormente, recebiam tarefas práticas, tendo que projetar bancas de jornal, caixas d'água e centros comunitários.

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Projeto de Ivan Leonidov para o Instituto LêninFoto: DW/Katsiaryna Kryzhanouskaya

Algumas vezes, os projetos estudantis apresentavam uma extravagância que ficaram tão conhecidos quanto os projetos de seus professores e professoras. Por exemplo, após a defesa do trabalho de conclusão de curso por Ivan Leonidov, que projetou o Instituto e Biblioteca Lênin em Moscou, os docentes se levantaram de seus assentos em sinal de respeito: o aluno superara seus mestres.

Vkhutemas: uma lição para o futuro?

Apesar do sucesso, a "centena de Gropius" não conseguiu encontrar uma linguagem comum. Cada novo reitor – no total foram três – mudava radicalmente a política da instituição de ensino: as estruturas, o corpo docente e os objetivos. Em 1930, as Vkhutemas foram dissolvidas na esteira de outra reforma da educação.

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Habitação comunitária: projeto de Nikolai LadovskiFoto: Staatliches Schtschussew Museum für Architektur Moskau

As oficinas foram fechadas e caíram no esquecimento durante décadas. A vanguarda soviética foi substituída pelo "realismo socialista". Apesar de seu importante papel para o desenvolvimento da arte e da arquitetura, na Rússia e em toda a Europa, as Vkhutemas, diferentemente da Bauhaus, não se tornaram conhecidas mundialmente.

Para alguns historiadores da arte, isso ainda vai mudar: está por vir a época em que as conquistas das Vkhutemas receberão reconhecimento. De qualquer forma, até o dia 6 de abril de 2015, quem for ou estiver em Berlim poderá visitar a mostra, organizada em cooperação com o Museu Estatal de Arquitetura Shchusev, em Moscou.