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Vitória russa permanece instrumento político

Ingo Mannteufel/rw

O sofrimento dos soviéticos na Segunda Guerra foi imensurável. Ainda hoje, a vitória sobre a Alemanha nazista é dia de grandes comemorações na Rússia. Só que o forte nacionalismo impede o distanciamento crítico.

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Dia da vitória sobre os alemães é celebrado com pompas militaresFoto: AP

A capitulação do Exército alemão em 1945 − a 9 de maio, por causa do fuso horário de Moscou − tradicionalmente é dia de grandes celebrações na Rússia.

O ritual é praticamente o mesmo desde os tempos de Stalin: no Dia da Vitória, unidades do Exército e veteranos de guerra desfilam na Praça Vermelha em Moscou e os poderosos do país fazem seus pronunciamentos no Mausoléu de Lênin. Os sofrimentos da Segunda Guerra Mundial são lembrados em todo o país, em inúmeras cerimônias.

Feriado preferido dos russos

Nos tempos da União Soviética, o pomposo desfile militar do 9 de maio não era apenas uma forma de a propaganda comunista documentar a supremacia do sistema soviético. As festividades vinham ao encontro, também, de uma necessidade natural da população, já que praticamente todas as famílias têm pelo menos um veterano de guerra ou alguém que tenha sofrido as agruras do front.

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Soldados alemães rendem-se aos soviéticos em 25 de janeiro de 1943. Alguns dias depois, a Alemanha perderia a Batalha de StalingradoFoto: AP

O feriado do Dia da Vitória ainda hoje tem um significado extraordinário entre a população soviética. Depois do Ano Novo, o 9 de maio é o feriado preferido dos russos. Uma enquete mostrou que mais de 70% dos russos consideram o dia uma oportunidade importante de rememoração, e querem que o feriado persista.

Visão limitada da história

O grande valor simbólico do 9 de maio na Rússia e seus rituais fixos impedem, no entanto, que a população faça uma análise crítica de seu passado. Exemplo disso ocorreu há dez anos: por ocasião da inauguração de um monumento pelo Dia da Vitória, em Moscou, não se falou em Segunda Guerra Mundial, mas da "grande guerra patriótica de 1941 a 1945", bem ao estilo soviético.

Esta política faz predominar em grande parte da população o desconhecimento e os estereótipos soviéticos de interpretação da história. Isto vale, por exemplo, em relação ao apoio de Stalin à invasão da Polônia (Pacto Hitler-Stalin), à brutal ocupação dos países bálticos, da Polônia e da Bessarábia de 1939 a 1941, e pode ser visto ainda na omissão da verdade em relação aos erros crassos da liderança soviética diante da ofensiva alemã, que levaram a enormes perdas e milhares de prisioneiros.

O mesmo vale para o imensurável sofrimento por que passaram alemães, poloneses, ucranianos e outros civis na ofensiva do Exército Vermelho em direção a Berlim. E, acima de tudo, não se debate o fato de os soldados soviéticos terem libertado o país da ocupação nazista, mas − ao mesmo tempo − terem ocupado outros países do Centro da Europa, impondo-lhes o regime stalinista.

Vitória soviética como instrumento de poder

Sowjetische Kriegsgefangene
Prisioneiros soviéticos com soldados da WehrmachtFoto: Walter Henisch

As lembranças distorcidas se refletem também na linha política e nas celebrações dos dois últimos chefes de Estado, Boris Ieltsin e Vladimir Putin. Em vez de aproveitarem seus pronunciamentos no Dia da Vitória para um debate crítico, exploram o patriotismo dos russos, apelando pela unidade da população.

O desequilíbrio social e étnico na atual sociedade russa, a dor pela derrocada do império soviético e a ameaça do terrorismo fizeram com que a vitória na Segunda Guerrra Mundial fosse usada como um instrumento duradouro para a política.

Prova disso é que, desde 2004, os veteranos já não participam mais da parada militar. Agora, ao lado dos soldados, desfilam os veteranos das guerras do Afeganistão e da Chechênia, assim como unidades do Ministério para Catástrofes.