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Um jogo diferente sobre a Primeira Guerra Mundial

Silke Wünsch (ip)10 de julho de 2014

Solucionar enigmas na companhia de um cão e num visual de HQ: "Valiant Hearts" é um game diferente sobre a Primeira Guerra Mundial. Em meio a guerra e destruição, seu tema também é amizade, amor e família.

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Foto: Ubisoft

Émile corre, seguido de perto por Freddie e pelo cão Walt. Atrás deles, ameaçadoras nuvens de gás verde flutuam pelo túnel. Adiante, a terra obstrui sua rota de fuga. Émile escava o caminho para fora, o mais rápido que pode. Mas o gás venenoso os continua perseguindo, os três têm de correr por suas vidas. Súbito, buzinas, gritos, acenos. Um carro se aproxima, guiado por uma enfermeira. Um salto decidido para dentro do automóvel – e os amigos estão salvos.

A cena faz parte do jogo de computador #link:http://valianthearts.ubi.com/game/en-GB/home/index.aspx:Valiant Hearts# (Corações Valentes), lançado internacionalmente por ocasião do centenário do início da Primeira Guerra Mundial. Trata-se de uma época atípica no mundo dos games – é o que Martin Bayer escuta o tempo todo.

O cientista bélico se ocupa de tudo relacionado a cultura, arte e guerra, além de alimentar o blog #link:http://www.wartist.org/blog/:wartist.org#. "Quando converso com outras pessoas sobre jogos que se passam durante a Primeira Guerra, a primeira reação é: 'Claro que não existe nenhum jogo sobre isso! Como seria? Ficar sentado numa trincheira até receber ordem de atacar o front inimigo, e aí receber um tiro. Que coisa sem graça!'."

O cão é o herói secreto

Apesar de tudo, os programadores conseguiram desenvolver um jogo emocionante. Em especial, graças à trama central comovente: entre batalhas e trincheiras, o francês Émile procura por Karl, seu genro alemão. Em sua missão ele conta com a ajuda do legionário americano Lucky Freddie e a enfermeira belga Anna. Porém o verdadeiro herói é Walt, o cão. Sem ele, muitas vezes o jogador dificilmente conseguiria ir adiante, pois o cachorro tem que acionar alavancas, encontrar objetos enterrados ou trazer bananas de dinamite de cantos inacessíveis.

Computerspiel Valiant Hearts
"Valiant Hearts" dá uma visão diferente do grande conflitoFoto: Ubisoft

Um outro fator diferencia Valiant Heartsdos jogos de guerra típicos: não se trata de um game de atiradores ou de estratégia, mas sim de aventura. Para se passar de fase, é necessário solucionar enigmas. Perseguições bastante engraçadas se alternam com missões de tocaia na trincheira.

O visual também é um diferencial: ao invés de imagens 3D em alta definição, Valiant Heartsrecebe o jogador com um estilo graphic novel, de história em quadrinhos de alto nível, de início multicolorido. Mais tarde as cores desbotam em direção ao marrom e azul, entremeados pelo amarelo berrante do fogo das metralhadoras. "Só assim é possível representar o verdadeiro horror", analisa Bayer.

Realidade nos detalhes

Apesar das imagens estilizadas, os programadores se esforçaram por uma representação realística. Para tal, tomaram como inspiração cartas de soldados, as quais também podem ser encontradas nos jogos. Além disso, ao desenvolver seu computergame, a equipe contou com o apoio de historiadores.

Deutschland Kriegswissenschaftler Martin Bayer
Martin Bayer pesquisa cultura, arte e guerraFoto: Martin Bayer

Muitas vezes a imagem da guerra é, antes, unilateral, observa Bayer. "Em muitos jogos e filmes, o foco é só o realismo audiovisual: o rifle faz o mesmo ‘bang!’ que a arma original, e tem exatamente a mesma aparência. Mas falta o realismo factual, ou seja: como é, de fato, viver numa guerra?"

Em Valiant Heartssão justamente as pequenas coisas que preenchem essa lacuna: de cantis de bolso e chapas de identificação a obras de arte – esculpidas com estilhaços de granadas: por toda parte ocultam-se artefatos como esses que ajudam o jogador a saber mais sobre a vida dos soldados e civis. O menu traz, ainda, pequenos textos informando, por exemplo, sobre o primeiro emprego de um lança-chamas.

Porém o próprio jogo também vai informando, com naturalidade, sobre o dia a dia dos soldados. Na primeira fase, Émile golpeia algumas vezes uns bonecos de palha, e súbito já está em plena batalha. "Isso pode parecer absurdo. Mas, em princípio, mostra que na realidade os soldados também não eram muito mais bem treinados do que isso", explica Bayer.

Do lado do simples soldado

Num único ponto os programadores não foram muito fieis à realidade. No jogo, os alemães lançam bombas de gás sobre a cidade belga de Ypres. "Naquela época, ainda não existiam bombas de gás, ele era liberado manualmente a partir de cilindros", retifica Bayer. "Além disso, a cidade não foi bombardeada, nenhum civil foi atacado. O gás era usado no front – isso é um nível totalmente diferente de crime de guerra."

A cena, porém, representa de forma simbólica os crimes de guerra que os alemães cometeram na França e na Bélgica, continua Bayer. E também discorda que o jogo, desenvolvido pelo estúdio Ubisoft em Montpellier, tome partido dos franceses.

Esse não é o caso, não só por as personagens virem dos dois lados e por tratar de um amor franco-alemão, enfatiza. Na verdade, o jogo toma partido é do simples soldado, não importa de que lado. Quem joga Valiant Hearts, adquire ao menos uma noção do que era a vida nas trincheiras, cem anos atrás, sob a ameaça de bombas, o fogo das armas e gases tóxicos.

Computerspiel Valiant Hearts
Realismo factual em visual de história em quadrinhosFoto: Ubisoft