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Pioneiros da unificação

Christiane Wolters (as)20 de março de 2007

A Europa unida permaneceu sendo um sonho durante muito tempo: a realidade era marcada pela guerra. Se o cenário é diferente hoje, isso se deve à obstinação de alguns políticos, os pais da União Européia.

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O conde Richard Coudenhove-Kalergi foi o fundador do Movimento Pan-EuropeuFoto: dpa

Principalmente depois da Primeira Guerra Mundial e das suas devastadoras conseqüências, a busca por soluções européias foi posta em primeiro plano por intelectuais, políticos e líderes econômicos. Um papel destacado foi ocupado pelo cosmopolita conde Richard Coudenhove-Kalergi. Em seu escrito Pan-Europa, publicado em 1923, ele formulou a idéia de uma confederação, da qual fariam parte todos os países europeus continentais.

"A Pan-Europa não é um instrumento da atual política européia, mas o seu oposto. É uma nova fonte de energia, uma nova tempestade de idéias que se torna mais forte ano após ano", escreveu. Para ele, se todos os líderes europeus reconhecessem de forma clara a necessidade da integração européia, a Pan-Europa se tornaria realidade em seis meses.

Tão rápido, as coisas não se desenrolaram – ainda que o Movimento Pan-Europeu tenha encontrado muitos adeptos por toda a Europa, incluindo vários políticos de destaque. Durante a Segunda Guerra Mundial, o tema se manteve presente, mas somente ganhou impulso com o final do conflito. As potências mundiais se separavam cada vez mais, e para a Europa se abria um espaço como terceira força entre o Ocidente e o Oriente.

Churchill: igualdade entre pequenos e grandes

Nesse contexto, um novo impulso ao pensamento europeu foi dado em setembro de 1946 pelo então líder da oposição na câmara baixa do Parlamento inglês, Winston Churchill. O ex-primeiro-ministro, que não tinha fama de ser um "europeu convicto", conclamou os europeus a superar a tragédia do pós-guerra e criar uma espécie de "Estados Unidos da Europa".

Winston Churchill
Após a Segunda Guerra, Churchill retomou a idéia de uma Europa unidaFoto: AP

"Se a Europa um dia for unida, não haverá limites para a felicidade, a riqueza e a glória que os seus 300 ou 400 milhões de habitantes viverão", afirmou. O primeiro passo para a reconstrução da família européia deveria ser uma parceria entre França e Alemanha. De acordo com Churchill, a revitalização da Europa não seria possível sem uma França espiritualmente rica e sem uma Alemanha espiritualmente rica. As pequenas nações seriam tão importantes como as grandes e seriam respeitadas pela sua contribuição.

O discurso em favor da Europa, proferido por Churchill em Zurique, trouxe a idéia da união européia de volta à imprensa internacional. Além disso, trouxe também a percepção de que essa idéia poderia ser realizada – até porque ela havia sido formulada por um dos três grandes vencedores da Segunda Guerra Mundial.

Schuman: destino comum

Mas o pontapé inicial para a união dos europeus partiu de um francês: Robert Schuman. Em 9 de maio de 1950, o então ministro das Relações Exteriores se dirigiu à imprensa, em Paris, e sugeriu "colocar a totalidade da produção franco-alemã de aço e carvão sob o controle de uma autoridade reguladora comum."

Bildgalerie 50 Jahre Römische Verträge Bild 3 Robert Schuman
Robert Schuman defendeu a criação da Comunidade Européia do Carvão e do AçoFoto: picture-alliance / akg-images

Era o início da Comunidade Européia do Carvão e do Aço (em alemão freqüentemente chamada de "Montanunion"), que pela primeira vez previa a cessão, por países europeus, de direitos relacionados com a soberania nacional. "Esta Europa é aberta para todos os países livres da Europa. Esperamos que outros países se juntem a nós", disse Schuman.

De acordo com ele, todos esses esforços eram guiados pela crescente convicção de que os países europeus eram solidários entre si e compartilhavam um destino comum. "Fortaleceremos esse sentimento à medida em que focalizarmos nossas energias e nossas vontades e à medida em que harmonizarmos nossas ações por meio de encontros freqüentes e de uma confiança crescente em nossas relações."

Monnet: indispensável para a paz

O chamado Plano Schuman foi na verdade concebido por outro político francês: Jean Monnet. Ele era uma personalidade cosmopolita, com muita experiência internacional e, em vez de aceitar condições adversas, queria modificá-las. Monnet estava convencido de que era necessário organizar o desenvolvimento econômico da Europa, já que também o bem-estar da França dependia disso.

Jean Monnet
Jean Monnet: barreiras erigidas pela Europa nacionalistaFoto: picture-alliance/ dpa

"Pela primeira vez na nossa história, começam a cair as barreiras que as nações européias erigiram entre os nossos povos", afirmou Monnet. A união era, para ele, indispensável ao renascimento da civilização européia e à manutenção da paz. Monnet e Schuman são considerados hoje os fundadores da Europa unificada. Inúmeras cátedras dedicadas a questões européias recebem os seus nomes.

Spaak: impedir bloqueios

Menos lembrado é um contemporâneo dos franceses que também deu uma grande contribuição para que a Europa se tornasse o que ela é hoje: o belga Paul-Henri Spaak. Ele recebeu o apelido Monsieur Benelux por ter sido o condutor da união aduaneira entre a Bélgica, a Holanda e Luxemburgo.

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Assinatura dos Tratados de Roma, em 25 de março de 1957Foto: picture-alliance / akg-images

Spaak teve um papel fundamental na assinatura dos Tratados de Roma. Na época, ele deu provas de visão ao exigir que regras européias deveriam ser firmadas pela maioria dos países-membros, com o objetivo de impedir bloqueios. A Europa acabou tomando outro rumo: até hoje as decisões são tomadas por unanimidade. Mas o trabalho de Spaak ainda é reconhecido em Bruxelas, e o seu nome faz parte do dia-a-dia dos parlamentares europeus: um dos dois prédios do Parlamento Europeu leva o nome desse incansável europeu.