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Tribunal alemão deixa imprensa turca de fora de julgamento de neonazista

Nina Werkhäuser (as)28 de março de 2013

Apesar de a maioria das vítimas do grupo extremista NSU ser de origem turca, jornalistas e até embaixador da Turquia não conseguiram um lugar na corte de Munique que julga o caso.

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Foto: Reuters

Os jornalistas turcos mal puderam acreditar no que viram quando leram a lista dos veículos de imprensa que garantiram um lugar para acompanhar o julgamento dos crimes cometidos por uma célula neonazista na Alemanha. Na relação de credenciados, não havia sequer um representante da imprensa da Turquia.

"Surpreendente e chocante", disse à Deutsche Welle o jornalista Mustafá Görkem, colaborador em Berlim do Deutsch Türkische Journal, diário voltado para a comunidade turca na Alemanha. "Garantir um pouco de transparência teria sido bom para a credibilidade do tribunal."

O Tribunal Superior Regional de Munique permitiu que apenas 50 jornalistas acompanhem o processo, que começa no próximo dia 17 de abril. Oito dos dez mortos pela organização Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU, na sigla em alemão) tinham origem turca, o que explica o grande interesse que o caso desperta na Turquia e também entre os muitos descendentes de turcos na Alemanha. A principal acusada é Beate Zschäpe, única sobrevivente do núcleo central do movimento extremista.

Insensibilidade

Os principais jornais, revistas, agências de notícias e emissoras da Alemanha têm assento assegurado no tribunal. Poucos veículos da imprensa internacional conseguiram um lugar. Entre os ausentes não estão só os turcos, mas também nomes consagrados da mídia, como a emissora britânica BBC e o jornal americano The New York Times.

Rechtsextremistische Terroristin Beate Zschäpe NEU
Beate Zschäpe, a principal acusada no caso NSUFoto: Getty Images

O tribunal explicou que as credenciais foram distribuídas na medida em que foram sendo solicitadas – quem pediu primeiro, levou. Os juízes disseram ainda que 123 jornalistas foram credenciados, mas apenas 50 conseguiram um assento no tribunal. Se esses lugares forem liberados, os outros repórteres poderão ocupá-los, argumentaram. O processo foi tachado de burocrático, insensível e incompreensível por políticos e parte da imprensa.

Para Görkem, trata-se de muito mais do que apenas uma cobertura jornalística sobre um processo criminal. A série de mortes por motivos racistas cometida pela NSU não tem paralelo na história da República Federal da Alemanha. "Muitos turcos perderam a confiança nas autoridades de segurança da Alemanha. Eles se sentem discriminados e ludibriados", afirma.

Justamente por isso é importante que jornalistas turcos possam acompanhar o processo e relatar o caso a partir da perspectiva deles, argumenta, acrescentando que só assim é possível recuperar a confiança perdida. Se não puderem estar presentes ao julgamento, diz Görkem, os turcos terão de trabalhar com informações de segunda mão, o que prejudica a cobertura dos fatos.

Transferência para outra sala é improvável

Para o principal sindicato de jornalistas da Alemanha (DJV), reservar 50 lugares à imprensa é pouco para a importância e dimensão do caso. "É um absurdo que seja permitida a presença de apenas 50 representantes da imprensa", afirmou a porta-voz Eva Werner. "Isso não dá uma boa imagem à Justiça alemã." Segundo ela, o tribunal deveria buscar uma solução, como, por exemplo, ampliar o julgamento para uma sala vizinha. Até aqui, a possibilidade foi descartada pela corte.

Também a transferência do processo para uma sala maior é tida como improvável, já que a atual sala acabou de ser ampliada para 230 lugares. Pelo menos dos assentos serão ocupados pelas dezenas de coautores do processo e seus advogados. Depois, há as vagas para o "público em geral".

Também em relação a esses assentos destinados ao público houve polêmica, já que o tribunal não reservou lugar especial para o embaixador da Turquia na Alemanha nem para o encarregado de direitos humanos do Parlamento turco. A opção foi criticada por inúmeros políticos alemães, incluindo Sebastian Edathy, presidente da comissão de inquérito do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) para o caso NSU. Segundo ele, é inadmissível que o embaixador da Turquia tenha que fazer fila para entrar no tribunal, possivelmente ao lado de neonazistas que deverão acompanhar o caso.

Transparência em primeiro lugar

Para o tribunal, não se trata de garantir lugares, mas principalmente de garantir a segurança, já que uma das principais integrantes da NSU, um grupo extremista e xenófobo, estará em julgamento.

Já para a imprensa estrangeira, a transparência é o mais importante. Para ela, o processo é um sinal de como o Estado alemão lida com a série de assassinatos. Depois dos graves erros das autoridades de segurança, que ao longo de anos foram incapazes de associar os crimes ao grupo extremista, a expectativa de um julgamento justo é especialmente alta.

Os dois cúmplices de Zschäpe se mataram em 2011, quando a polícia já estava em seu encalço. O trio é acusado de dez mortes, diversos ataques à bomba e assaltos a bancos. Zschäpe, que se mantém em silêncio, é acusada de formação de organização terrorista. O tribunal vai julgar a participação dela nos crimes atribuídos ao movimento.