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Traduções independentes mantêm série Perry Rhodan no Brasil

Luisa Frey
14 de setembro de 2011

Lançada na Alemanha há 50 anos, série de ficção científica tem legiões de fãs distribuídas pelo mundo. No Brasil, grupo de entusiastas das aventuras espaciais de Perry Rhodan financia a tradução de episódios antigos.

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Perry Rhodan, personagem criado há 50 anos na AlemanhaFoto: Verlag Pabel-Moexig

A primeira viagem espacial do major Perry Rhodan, administrador-geral do Sistema Solar, se passa no ano de 1971. Intitulado Missão Stardust, o episódio inaugural da série de ficção científica foi lançado uma década antes, em 8 de setembro de 1961. Cinquenta anos depois, mais de 2.600 volumes já foram publicados na Alemanha e mais de 700 no Brasil. Desde 2009, fãs do personagem em português financiam traduções independentes.

A ideia do Projeto Traduções surgiu pouco depois da interrupção da publicação da série pela Editora SSPG, que lançou 197 episódios – do 650 ao 847 – entre 2001 e 2007. Antes disso, os aficionados por Perry Rhodan já haviam vivido uma abstinência de dez anos. A Ediouro publicara 536 volumes da ficção científica, de 1975 a 1991.

"Como a SSPG começou sua edição pelo número 650, o Projeto inicialmente se propôs a lançar o hiato que não chegou ao Brasil, entre os episódios 537 e 649", diz Salomão Delgado Junior, um dos moderadores do grupo e revisor das traduções.

Apesar de não se considerar fanático por Perry Rhodan, Delgado diz ter sido cativado pela nostalgia. Ele leu a série na adolescência, no fim dos anos 1970, e coleciona os fascículos – tem todos os publicados no Brasil , inclusive alguns em alemão. "A série é algo especial e único, uma fictícia história da humanidade, que avança através dos séculos e milênios, mostrando certa evolução", declara.

Público acima dos 30

Perry Rhodan Comic
'Missão Stardust': primeiro episódio da série, de 1961Foto: Verlag Pabel-Moexig

As aventuras do astronauta foram criadas por K.H. Scheer e Walter Ernsting. Os autores alemães levaram Perry Rhodan ao espaço sideral e à Lua. Em suas viagens ao lado dos companheiros "terranos" (como os terráquios são chamados na série), o major se depara com povos que cruzam a Via Láctea em suas naves, e com superinteligências inimigas.

Em cinco décadas de Perry Rhodan, foram publicados mais de 2.600 episódios, que, em mais de 200 mil páginas, narram quase três mil anos do futuro da humanidade. Na Alemanha, 80 mil exemplares do título são publicados semanalmente pela editora Pabel-Moewig, escritos hoje por 11 autores, entre eles uma mulher. De acordo com o editor-chefe da série, Klaus Frick, 80% do público leitor são homens, a maioria deles profissionais de áreas técnica e científica.

No Brasil, Delgado diz que os fãs do personagem e membros do Projeto Tradução são geralmente antigos leitores da edição da Ediouro, e têm entre 35 e 55 anos. "Interessam-se por Perry Rhodan pessoas que gostam de literatura, principalmente de ficção científica e fantasia, e que fazem parte da geração pré-internet, acima dos 30", diz.

Aos 25, Tadeu Meniconi, um dos tradutores do Projeto, por exemplo, não conhecia Rhodan antes de realizar o trabalho. "Na época em que aceitei a proposta, perguntei a alguns amigos mais geeks que eu, e só um deles conhecia a série", conta.

Apesar de não ser fã de ficção científica, Meniconi diz que chamou sua atenção o esforço dos autores das aventuras para não deixar falhas no roteiro e "furos científicos". "Eles gastam mais de uma página para explicar como seria possível haver uma piscina em uma nave, por exemplo, já que ali não há gravidade. A solução é uma piscina esférica, com um dispositivo no meio atraindo a água. É muita criatividade, sensacional!", considera.

"Talvez a série fascine tanto por tratar de temas que sempre mexeram com o imaginário do homem e aguçaram seus desejos e ideais – como juventude eterna, viagens no tempo, viagens espaciais e poderes paranormais", completa Delgado.

Science Fiction Serie Perry Rhodan
No Brasil, grupo de fãs paga tradutores para continuar a ler as aventuras do astronauta em portuguêsFoto: Pabel-Moewig-Verlag KG, Rastatt

Como funciona o projeto

Além de Meniconi, que traduziu os episódios intitulados O sol não projeta sombra e O elixir dos deuses, outros oito tradutores já passaram pelo Projeto Traduções. Por cada volume, com em média 60 páginas, pagam-se 1.500 reais – repartidos entre os membros do grupo. No momento, três tradutores trabalham para o projeto, cada um deles traduzindo um número da série.

"Como se trata de uma iniciativa independente de fãs, não podemos pagar o preço de mercado. Os tradutores costumam, então, ser jovens profissionais ou estudantes com bons conhecimentos de alemão, que estão iniciando a carreira de tradutor ou fazem isso como um complemento de renda", explica Delgado.

É o caso de Meniconi, jornalista que fez as traduções em um período de transição entre dois empregos. "Quando voltei a trabalhar em redação, larguei o projeto para ter mais tempo livre." Apesar de o trabalho exigir bastante dedicação, Meniconi diz que um dicionário alemão-português com termos científicos e técnicos recorrentes na série, elaborado no Projeto, facilitava a tradução.

Atualmente, o Projeto tenta manter uma periodicidade mensal no lançamento dos episódios, enviados por e-mail para os membros. Informações sobre a iniciativa independente podem ser conferidas no blog que Delgado mantém sobre a série (delgado-projeto.blogspot.com) e na comunidade "Perry Rhodan Brasil", mantida no Orkut.

Cinquenta anos de sucesso

Perry Rhodan Comic
Juventude eterna, viagens espaciais e poderes paranormais fascinam os fãsFoto: Verlag Pabel-Moexig

Enquanto isso, na Alemanha, os aficionados podem consultar uma enciclopédia online sobre a série – a Perrypedia. São mais de 24 mil verbetes escritos por fãs, sobre termos como "terranos", "ertrusianos" e "arcônidas".

O personagem ainda é tão vivo em seu país de origem, que entre 30 de setembro e 2 de outubro será celebrada a Perry Rhodan WeltCon 2011 – uma conferência mundial por ocasião dos 50 anos da série –, na cidade de Mannheim.

Somente em alemão, mais de um bilhão de exemplares da ficção científica foram vendidos desde 1961. Perry Rhodan também é publicado em países como Japão, França, Holanda e República Tcheca.

No Brasil, o título chegou a ter uma tiragem de quase 15 mil exemplares por semana, na década de 1980. "Pelo que sei, depois da Alemanha, o Brasil é o país onde mais se lançaram números", diz Delgado. Foram 733 publicados pela Ediouro e pela SSPG e mais 22 traduzidos pelo Projeto Tradução até o momento.

O maior esforço do grupo independente é atrair novos participantes, o que diminuiria os custos e permitiria uma redução da periodicidade de lançamento. "Uma série que completou 50 anos e tem mais de 2.600 números é um fenômeno, de qualquer ângulo que se analise", resume Delgado.