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Teoria do Big Bang ganha reforço extra com descoberta

Dirk Lorenzen (cn)19 de março de 2014

Observação de ondas gravitacionais reforça ideia de primeiros ecos emitidos pelo Big Bang. Descoberta detecta inflação cósmica, que significa uma rápida expansão do universo.

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Foto: REUTERS

A luz mais antiga do universo é radiação cósmica de fundo em microondas. O planeta é banhado por essa radiação que o atinge vindo de todas as direções do universo, e é tão fraca que astrônomos só podem identificá-la com telescópios especiais. Nessas observações, o céu não é apenas uma coleção de estrelas, planetas e galáxias, mas uma colcha de retalhos celeste.

Essa "colcha" é cheia de manchas – algumas escuras, outras mais claras. A equipe de John Kovac, da Universidade de Harvard, descobriu que essas torções na radiação cósmica de fundo em microondas não são distribuídas igualmente, mas parecem pequenas vértebras.

Segundo os pesquisadores, essa é uma prova da inflação cósmica, ou seja, da rápida expansão de todo o universo em uma fração de segundo após o Big Bang. Segundo essa teoria, o universo surgiu com a grande explosão e começou a se expandir. Após 0,000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 1 segundo – em comparação, o piscar de olhos é uma eternidade – a expansão normal terminou.

De repente, o universo inchou muito mais rápido. Ele passou repentinamente do tamanho menor do que um átomo para a proporção de uma bola de basquete. Após esse crescimento acelerado, a expansão do universo continuou no tempo normal, que persiste até hoje.

Inflação cósmica

A inflação cósmica é uma teoria popular há 30 anos. Ela permite aos pesquisadores explicar a constituição atual do universo. Até agora, esse fenômeno não passava de uma teoria, porém Kovac e sua equipe encontraram evidências, pelo menos, indiretas que o comprovam.

"A detecção destas ondulações é hoje um dos objetivos mais importantes da cosmologia", assinala Kovac.

A região onde os vestígios da inflação foram observados não poderia ser mais inóspita: o telescópio BICEP está localizado no meio da Antártida, olhando para as profundezas do universo. "Em nenhum lugar da Terra, o céu está mais perto do que no Polo Sul. A região é bem seca e perfeitamente clara. O local ideal para observar o eco do Big Bang", conta Kovac.

Nunca antes pesquisadores haviam recebido informações de um período tão precoce da história cósmica. Até agora, os primeiros 400 mil anos eram considerados inobserváveis, sendo uma névoa impenetrável. Após esse período, o universo se iluminou.

Depois da rápida expansão do cosmos, durante a fase de inflação, surgiram ondas gravitacionais, pequenas distorções no espaço-tempo, que ecoaram rapidamente no universo.

Amundsen-Scott Station Südpol
Do pólo sul, cientistas observaram os ecos do Big BangFoto: Reuters

Essa hipótese foi prevista na teoria geral da relatividade de Albert Einstein. Essas ondas gravitacionais teriam deixados sinais nos fragmentos mais antigos de luz. Durante anos, os pesquisadores procuraram essas marcas fracas. Encontrá-las é tão difícil quanto ler um jornal através de um vidro fosco. Mas agora os pesquisadores acreditam ter alcançado o objetivo tão sonhado.

O anúncio da descoberta durante uma coletiva de imprensa, e não em uma publicação científica, revela que os pesquisadores têm pressa. Provavelmente têm medo da concorrência. Se as suposições dos pesquisadores forem comprovadas, a descoberta pode valer um Nobel de Física.

Origem do universo

"Essa descoberta traz uma nova luz a certas questões fundamentais. Por que existimos? Como começou o universo?", comemora Avi Loeb, físico da Universidade de Harvard. Mas os astrônomos ainda enfrentam um dilema: eles possuem uma teoria matemática maravilhosa que descreve o surgimento e o desenvolvimento do universo. No entanto, a teoria não explica sequer 5% do cosmos. Os outros 95% são compostos de matéria escura e energia escura, e os pesquisadores não têm a menor ideia de que física está por trás delas.

Com frequência, os pesquisadores esquecem o que é fato e o que é teoria. A teoria da relatividade existe há quase 100 anos, sendo considerada um fato. No entanto, a prova direta da onda gravitacional, com a ajuda de instrumentos de medição na Terra, ainda está em aberto. O universo, cuja existência é estimada em 13,8 bilhões de anos, não é uma medida exata.

Essa medida surge quando dados de observações de ondas gravitacionais são analisados com base em teorias mais populares. Outra teoria poderia apontar outro resultado.

Na história da ciência, há exemplos de como supostos modelos se revelaram errados. Há um século e meio, os astrônomos tinham certeza de que a Terra era o centro do universo e que o sol, planetas e estrelas giravam em torno dela. Modelos matemáticos desenvolvidos na Antiguidade eram muito elegantes, mas não tinham nenhuma relação com a natureza.

O modelo do Big Bang recebeu mais um apoio com a inflação cósmica, mas pesquisadores estão longe do objetivo. As grandes perguntas como por que, onde, para onde caminha o universo ainda não foram respondidas.