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Também somos a Nigéria?

Stefanie Duckstein / António Cascais14 de janeiro de 2015

Duas mil pessoas terão morrido às mãos do grupo radical Boko Haram dois dias depois do ataque ao jornal francês Charlie Hebdo. Mas o mundo parece ter focado a sua atenção nos acontecimentos em França.

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Foto: Aminu Abubakar/AFP/Getty Images

Frank Heinrich, deputado ao parlamento federal alemão (Bundestag), regressou há dias de uma visita de estudo à Nigéria, um país mergulhado na violência e no terrorismo, sobretudo nos estados do norte, bastião do grupo islamista Boko Haram. O deputado cristão-democrata diz ter ficado bastante impressionado com o que viu. "Pensava que já tinha visto todo o tipo de atrocidades neste mundo. Mas o que vi na Nigéria em termos de violência chocou-me bastante."

Aldeias destruídas, milhares de pessoas em fuga: o massacre ocorrido na cidade nigeriana de Baga (a 9 de janeiro) foi um dos mais atrozes dos últimos anos, mas não tece muito impacto nos meios de comunicação social alemães, uma vez que estes se concentraram em relatar os atentados de Paris.

"Nos média alemães, os atentados na Nigéria são praticamente um tema de menor importância, apesar de eles terem uma enorme dimensão", diz Frank Heinrich. "África merece mais atenção da nossa parte."

Dois pesos, duas medidas?

Boko Haram will Mädchen freilassen
Apoiantes da campanha #BringBackOurGirlsFoto: AFP/Getty Images/P. Utomi Ekpei

Os ataques de Paris, que atingiram entre outros a revista satírica Charlie Hebdo a 7 de janeiro, despoletaram uma onda de solidariedade a nível internacional. Pessoas de todo o mundo foram para as ruas com cartazes de solidariedade com a inscrição "Je suis Charlie" ("Eu sou Charlie"). Ainda bem que assim é, salienta o deputado alemão. Mas o que intriga Frank Heinrich é a aparente indiferença em relação às vítimas muito mais numerosas na Nigéria.

"Por um lado atribuímos grande importância à morte de 20 pessoas em Paris, mas por outros ignoramos totalmente a morte de duas mil pessoas na Nigéria. Aparentemente, para nós, um ser humano não é igual ao outro. Há uns que têm mais importância que outros, e isso, para mim, é muito chocante e irritante", afirma Heinrich.

Terrorismo, um fenómeno global

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O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, concorda que os políticos, jornalistas e cidadãos em geral deveriam mostrar mais solidariedade com as vítimas do terrorismo perpetrado por islamistas em todo o mundo, e não só na Europa.

"Na minha alocução no Parlamento Europeu referi-me explicitamente aos atentados perpetrados na Nigéria pelo grupo terrorista Boko Haram, cuja ideologia é comparável à dos terroristas de Paris", diz Schulz. "Nós no Parlamento Europeu sabemos que o terrorismo não é um fenómeno estritamente europeu. É também cada vez mais, e de forma dramática, um problema africano."

Trauermarsch in Paris 11.1.2015
A 11 de janeiro, mais de 1 milhão de pessoas manifestou-se em Paris contra os ataques extremistasFoto: Reuters/Platiau