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Série do Quénia satiriza ONGs estrangeiras

Antje Diekhans / Marta Barroso27 de março de 2014

De noite, bebem cocktails. De dia, recolhem donativos. É assim que uma série queniana apresenta as ONGs de ajuda ao desenvolvimento. Na sátira fala sobre europeus e americanos sem noção da realidade no terreno.

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Equipa de atores da série televisiva queniana "Os samaritanos"Foto: Xeinium Productions


O novo chefe está na casa de banho a treinar a sua apresentação perante os funcionários. Ele é que dirigirá a partir de agora a organização "Aid for Aid" (em português, ajuda pela ajuda) presente no Quénia.

A única experiência profissional que traz é um estágio em Marrocos. "O Scott terminou os estudos nos Estados Unidos. Não faz ideia daquilo em que se meteu. Só uma coisa é certa: a organização quer recolher muitos donativos – mesmo que os funcionários não saibam para que servirá depois o dinheiro”, diz o produtor Hussein Kurji.

Foi ele quem desenvolveu a história em torno da organização não-governamental. Juntamente com o seu sócio, Salim Keshavjee, dirige uma empresa de produção na capital queniana, Nairobi.

Distinguir ONGs sérias

Alkohol Coktail
Entre cokctails, ONGs debatem carenciadosFoto: Fotolia/Africa Studio

A ideia para a série televisiva „The Samaritans“ (em português, “Os samaritanos”) surgiu através do que veem diariamente. É que Nairobi é a Meca das organizações de ajuda, diz o realizador Salim. "Tudo começou quando veio para cá o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). E depois vieram todas as organizações de ajuda", explica.

Salim diz que muitas fazem um bom trabalho, mas "há outras que nós chamamos de “ONGs de caixa de correio”. São essas que arruinam a reputação das organizações não-governamentais.”

Tal como noutros países africanos, também no Quénia correm muitas anedotas sobre os cooperantes estrangeiros que, em situações de catástrofes, passam nos seus carros equipados com chapeus de safari e óculos de sol. Eles defraudariam as ONGs para as quais trabalham.

Salim Keshavjee conta como eles discutem a pobreza no conforto. "Muitos deles ficam hospedados em hoteis de cinco estrelas e comem humus enquanto discutem sobre pobreza. Apesar de terem boas intenções, este desiquilíbrio acaba por ser irónico.“

Só em poucos momentos de lucidez os funcionários visivelmente incompetentes da ONG fictícia "Aid for Aid” se apercebem do paradoxo. Então se lembram que os seus trabalhos em África não se tratam de festas, jantares nem da própria carreira.

E quem patrocina a série?

Dois episódios foram já gravados e ambos têm tido muito sucesso na Internet. Para mais capítulos, os produtores procuram ainda doadores.

Symbolbild Geldgeschäfte
É exatamente a carência que faz com que os produtores críticos busquem apoio das ONGsFoto: flashpics - Fotolia

Até agora é precisamente uma organização não-governamental, que pretende ficar no anonimato, que tem feito as maiores contribuições. "Nós apercebemo-nos de que os nossos maiores fãs são as ONGs. Adoram a série."

Mas o produtor diz que o assunto acabou por tomar outro caminho. "Nós só queríamos produzir uma série de entretenimento, mas acabamos por iniciar um debate. As pessoas discutem agora mais sobre como deveria ser o trabalho das organizações.”

Estão planeadas mais temporadas com 13 episódios cada e os produtores não temem que as ideias lhes faltem. No Quénia estão registadas mais de 6 mil ONGs que oferecem material suficiente.

Até agora foram gravados dois episodios que, sobretudo na internet, estão a ter muito sucesso.

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