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Solução para a SIDA não está à vista

Simone Schlindwein / Glória Sousa22 de julho de 2014

O mundo está ainda longe de encontrar a cura para a SIDA, anunciaram investigadores que participam na 20ª conferência internacional sobre a SIDA que decorre, esta semana, em Melbourne, na Austrália.

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Olive Hasal, doente de sida no UgandaFoto: DW/S. Schlindwein

Ativistas de todo o mundo que participam no encontro acusam os países que adotam leis rígidas contra os homossexuais de criarem condições, como a dificuldade de acesso aos cuidados de saúde, que contribuem para a propagação do vírus.

Em todo o mundo, há 35 milhões de pessoas com o vírus HIV/SIDA. E em mais de 30 anos, a doença já matou 33 milhões de pessoas.

O Uganda já foi pioneiro na luta contra o HIV/SIDA. Mas atualmente o combate à doença está a regredir no país da África Oriental onde a homossexualidade é um crime que pode ser punido com pena de prisão.

Foi numa aldeia piscatória de Kasensero, no leste do Uganda, que em 1982 surgiu a primeira epidemia de SIDA que atraiu investigadores de todo o mundo.

O especialista ugandês em virologia Joseph Konde-Lule foi dos primeiros médicos a estudar a doença que, há 32 anos, se tornou pela primeira vez uma ameaça no continente.

Apesar dos avanço a solução definitiva está longe

Mulago Krankenhaus in Kampala, Uganda
Um paciente no laboratório do hospital de Mulago, em KampalaFoto: picture alliance/Yannick Tylle

O Professor Konde Lule lembra que "o reconhecimento da doença foi o primeiro passo importante." E o especialista revela o seguinte: "A cada cinco anos concentramo-nos num novo aspeto. Por isso mudam também os métodos de luta contra a SIDA."

Lule dá exemplos de alguns avanços: "Hoje concentramo-nos nos métodos de prevenção. Temos os medicamentos, os antiretrovirais que estamos a melhorar, com menos efeitos secundários. Também pesquisamos métodos de cura mas ainda estamos muito longe”.

Com o primeiro surto da doença, milhares de dólares de países doadores, como os Estados Unidos da América, foram disponibilizados para o Fundo Global de luta contra a SIDA no Uganda.

A aposta na investigação trouxe resultados: o ministério da Saúde ugandês conseguiu reduzir as taxas de HIV na década de 1990 e, há alguns anos atrás, o país tinha taxas de prevalência de 4%, sendo das mais baixas do continente africano.

Desvio de fundos

Mas em 2003, 40 milhões de dólares desapareceram do Fundo Global de luta contra a SIDA. E muitos programas de combate à doença nao puderam mais continuar a ser financiados.

Anos mais tarde, o jornalista ugandês Edward Sekeywa investigou o que aconteceu a esses milhões.

Aids Medikamente werden in Uganda kostenlos verteilt
Os antiretrovirais são distribuidos gratuitamente no UgandaFoto: DW/S. Schlindwein

Numa zona de residências de luxo na capital, Kampala, Edward Sekeywa aponta uma explicação: ”Veja estas casas. Esta é a Casa do Fundo Global. Esta pertence ao ex-ministro da Saúde, que desviou o dinheiro do Fundo Global. Foi dinheiro internacional doado para financiar o combate à doença e os medicamentos. Mas ele simplesmente tirou o dinheiro e fez o que quis, construiu casas, comprou carros."

Edward Sekeywa lamenta o facto: "É assustador para as pessoas mais pobres, a quem estava destinado esse dinheiro. Ele arrendou a casa à ONU e vive ao lado – é inacreditável”.

O Uganda é um dos Estados mais corruptos do mundo: ocupa a posição 140 de um total de 177 países no Índice de Percepção de Corrupção da organização Transparência Internacional.

Entretanto, os números do HIV/SIDA sobem de forma alarmante no Uganda. O país tem atualmente as mais elevadas taxas de novas infeções na África Oriental: só no ano passado houve 150 mil novos infectados.

Falsas esperanças

No Uganda fala-se abertamente sobre a doença. A SIDA é hoje menos ameaçadora, quando comparada com outras doenças como a malária e a febre tifóide, afirma Ereezer Mugisha, que trabalha no centro de informação sobre SIDA.

Só para exemplificar ele conta: “Um pescador sabe que se cair à água morre, por exemplo. Mas se ele ficar infetado com o HIV sabe que pode viver mais 20-30 anos."

Fischer Joshua Katumba Hiv positiv
Joshua Katumba é pescador e tem SIDAFoto: DW/S. Schlindwein

Ereezer Mugisha lembra que "a doença hoje não é tão fatal, o que cria nas pessoas falsas esperanças. Com os antiretrovirais, pode-se viver razoavelmente bem. "

E essa situação traz mais problemas aindam conta Mugisha: "Então, as pessoas descuidam-se e a doença progride: infetam os parceiros, por exemplo, porque as pessoas não querem morrer nem sofrer sozinhas“.

Estudos recentes no Uganda indicam que sobretudo os jovens com educação das zonas urbanas utilizam cada vez menos o preservativo e os jovens têm cada vez mais relações com vários parceiros.

E, depois dos milhões de dólares outorgados pelos doadores internacionais que foram desviados, a comunidade internacional está relutante em ajudar o Uganda na luta contra a SIDA.

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