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Socorristas do 11 de Setembro sentem-se esquecidos

Gero Schließ (md)11 de setembro de 2014

Passados 13 anos dos atentados, integrantes das equipes de resgate ainda lutam para receber assistência. Após serem atingidos por escombros ou respirarem gases tóxicos, muitos convivem com graves sequelas.

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Foto: Doug Kanter/AFP/Getty Images

"Novamente ocorreram alguns suicídios", disse John Feal ao final de um pequeno evento realizado no início deste mês diante de um memorial aos integrantes das equipes de resgate do 11 de Setembro em Nesconset, a uma hora de Manhattan. "Se vocês não estiverem bem, nos liguem, falem comigo", disse o fundador da fundação FealGood, que já arrecadou mais de 2,5 milhões de dólares para apoio a socorristas doentes.

Feal, que também integrou as equipes de resgate, diz isso de maneira quase confidencial, diante da plateia de mais de 200 ex-bombeiros e agentes da polícia. Após os ataques de 11 de Setembro, eles procuraram restos das vítimas nos escombros das torres gêmeas do World Trade Center durante dias ou até semanas.

Passados 13 anos dos ataques, muitos dos "first responder", os primeiros a ajudar na tragédia, estão gravemente doentes. Eles sofrem das chamadas "doenças do 11 de Setembro". No Victim Compensation Fund, criado somente em 2011, são listados problemas como câncer, doenças respiratórias crônicas e graves sequelas psicológicas.

Entretanto, muitos socorristas sentem que não são tratados pelo governo como deveriam, pois até hoje lutam para obter o dinheiro necessário para o tratamento médico de que precisam. Um deles é Michael McPhillips, que foi capitão do porto da maior frota de barcas de Nova York e, no dia dos atentados, transportou mais de 290 mil pessoas a Nova Jersey, através do rio Hudson. "Desde 2004, estou incapaz de trabalhar. Tenho uma doença grave do fígado em estado terminal", diz, cuja doença causa dores permanentes.

Como muitos dos socorristas, McPhillips respirou, diariamente, vapores tóxicos vindos das ruínas das torres gêmeas por até 18 horas seguidas durante as ações de resgate. "Sabíamos disso quando fomos lá. Quase todo mundo sabia disso, mesmo que eles nos dissessem que o ar era limpo."

USA Gedenkveranstaltung der First Responder in Nesconset
Evento em homenagem a socorristas do 11 de SetembroFoto: DW/G. Schließ

Sentimentos de culpa e depressão

William Gardner também ajudou a resgatar sobreviventes dos escombros, como voluntário. Na maioria das vezes, ele trabalhou sem máscara protetora, e, às vezes, com uma máscara de papel. Ele sempre se sentiu "culpado" porque ele e sua família tinham uma vida melhor do que todas aquelas vítimas. Por isso, acabou sofrendo depressões graves, que fizeram com que, durante 13 anos, ele vivesse "quase como um prisioneiro em sua própria casa", quase sem sair à rua.

No dia dos atentados, a policial Carol Paukner foi empregada para retirar as pessoas de uma das torres gêmeas. Quando o arranha-céu desabou, ela foi atingida por destroços e ficou presa sob escombros. "Sofri três operações depois do 11 de Setembro. No meu ombro e nos joelhos. Tenho asma e dores de cabeça constantemente, e agora foi diagnosticado um câncer", diz.

Ela conta que, antes dos atentados, era uma mulher saudável e atlética. Hoje, está incapacitada de trabalhar, e, como os outros, revoltada e decepcionada. "Queria que o governo ajudasse mais os sobreviventes do 11 de Setembro. E que ele entendesse o que nós e nossas famílias temos passado", diz. "Não temos o apoio do governo. Temos que lutar."

Levou mais de dez anos para que o governo americano disponibilizasse dinheiro para cuidados médicos e apoio de pacientes através do John-Zadroga 9/11 Health and Compensation Act. A lei, batizada com o nome de um policial de Nova York que morreu de doença respiratória, expira em 2016.

Michael Mc Phillips Ersthelfer Anschläge in New York
Ex-capitão Michael McPhillips pede um memorial em homenagem aos socorristas em Nova YorkFoto: DW/G. Schließ

Neste 13º aniversário dos ataques, os sobreviventes lutam por uma extensão da lei por mais 25 anos. "Essa limitação de tempo é absolutamente inaceitável, tendo em vista o terrível sofrimento das pessoas", diz o político local John M. Kennedy Jr., que apoia o projeto.

Dever moral

A maioria não sabia que pessoas morreram não só na ocasião dos ataques, mas que muitos ainda morrem por conta das consequências dos atentados, diz Feal. "Perdemos 1.500 pessoas devido a doenças causadas pelo 11 de Setembro. Além disso, 3 mil têm câncer. Cada representante político eleito tem a obrigação moral de cuidar dessas pessoas", defende Feal.

O médico Michael Crane organiza assistência aos pacientes com doenças específicas do 11 de Setembro que são tratados em clínicas especiais. "Quem recebe as verbas públicas, recebe amplos cuidados médicos", garante. Segundo o especialista, quase 68 mil vítimas já procuraram um médico. "Entre eles, estão socorristas de primeira hora, bombeiros, moradores do bairro e ex-moradores da área das torres gêmeas."

Crane espera que ainda mais pessoas potencialmente em risco procurem atendimento. "Se supusermos que um total de 90 mil pessoas tenha sido afetado, ainda temos 22 mil que não procuraram assistência." Crane incentiva essas pessoas a procurarem um médico o mais rápido possível. "Assim, talvez ainda possamos impedir um câncer", ressalta.

O médico afirma ainda que, nas próximas semanas, clínicas direcionadas a atender vítimas do 11 de Setembro vão lançar um novo programa para registrar mais cedo pessoas possivelmente afetadas.

Veranstaltung der 9/11 First Responder in Nesconset USA
John Feal criou uma fundação para ajudar os socorristas doentesFoto: DW/G. Schließ

Entretanto, o ex-capitão McPhillips quer mais do que assistência médica. "Como um socorrista, não me sinto valorizado", reclama, diante da entrada do novo museu do 11 de Setembro em Nova York. "Deveria haver um memorial aos integrantes das equipes de resgate exatamente aqui."