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Sociedade civil apela à paz em Moçambique

António Rocha23 de outubro de 2013

Face ao clima tenso no país, organizações da sociedade civil enviaram ao Presidente da República uma carta intitulada "Não queremos mais guerra, queremos paz". A DW África falou com uma das responsáveis pela iniciativa.

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Foto: picture-alliance/dpa

Não se trata do primeiro apelo que os cidadãos moçambicanos lançam aos políticos do país. Em abril, uma carta aberta enviada ao Presidente da República, Armando Guebuza, e ao líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, apelava à paz.

A mensagem agora enviada, segundo Graça Samo, diretora executiva do Fórum Mulher, é mais um apelo ao chefe de Estado moçambicano para "usar os poderes que a Constituição lhe confere e assegurar a paz e a ordem pública, evitando a eclosão de uma guerra no país.

Deutsche Welle (DW): Face à situação em Moçambique, o que é que esta nova mensagem da sociedade civil pretende?

Graça Samo (GS): Hoje nós posicionamo-nos mais uma vez com outras organizações da sociedade civil protestando contra a invasão da base da RENAMO em Satunjira, na província de Sofala, porque incitou a mais uma situação de insegurança, medo e de intranquilidade.

Mosambik Krise Flüchtlinge
Devido à escalada da tensão em Maringué, na província de Sofala, vários habitantes abandonaram as suas casasFoto: picture-alliance/dpa

A invasão da base da RENAMO levou este partido a pronunciar-se contra o Acordo Geral de Paz. Mesmo reconhecendo que o Acordo Geral de Paz cessava com as eleições de 2004, sabemos que há muitos aspetos dentro do próprio acordo que precisavam ter sido encaminhados por mecanismos que tinham de ser postos a funcionar pelo Governo.

O que também nos preocupa é a questão da falta de diálogo para resolver estas diferenças entre o governo e a RENAMO. Na verdade, a RENAMO não pode mais ser vista como um grupo guerrilheiro. Tem de ser visto como o maior partido político da oposição. A tomada da base e o facto do presidente da RENAMO estar em lugar incerto deixa o país inseguro.

DW: Isso quer dizer que o cenário da guerra está instalado em Moçambique?

GS: Preferíamos dizer que não, porque não é o que queremos como cidadãs e cidadãos moçambicanos, e estamos a fazer tudo ao nosso alcance para que isso não aconteça. Mas não podemos deixar de reconhecer que estamos numa situação de ameaça, até porque desde o início do ano foram surgindo surtos de violência localizada e muitas vezes não sabemos a quem podemos atribuir essas responsabilidades. A menos que a liderança da RENAMO assuma que é da sua responsabilidade a autoria de certos focos de violência. O simples facto de haver um ataque onde morrem pessoas, isso já é um ponto de insegurança e instabilidade.

Sociedade civil apela à paz em Moçambique

DW: Acredita que o Presidente Armando Guebuza vai escutar o vosso apelo “Não queremos mais guerra, queremos paz”?

GS: O curioso é que isto é o que o nosso Presidente tem dito nos seus discursos, mas o pronunciamento tem também de ser manifestado com atos. A segurança e a estabilidade num país que está em paz é garantida pelas forças policiais, que estão sobre jurisdição do ministério do Interior. A presença de forças militares do ministério da Defesa, com tanques de guerra, já é uma ameaça a esse sentimento de paz.

Se o Presidente da República vai ouvir ou não, nós colocamo-nos numa posição de ter de acreditar que ele nos vai ouvir, porque nós, moçambicanos, queremos que eles nos ouça. Por isso estamos a usar todos os meios que temos. Na nossa carta fazemos um apelo à comunidade internacional, às Nações Unidas, à Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, à União Africana, inclusivé ao antigo Presidente da República Joaquim Chissano que teve um papel preponderante no processo de construção de paz do país. Apelamos também à Igreja Católica, à Comunidade de Sant'Egídio e a outros grupos religiosos... Fazemos questão de pedir que tomem um papel. Não podemos ter uma voz única que fale acima de todos, se esta voz não fala o que a maioria quer ouvir.

Dialog zwischen RENAMO und Regierung in Mosambik
Sucessivas rondas de negociação entre a RENAMO e a FRELIMO não traduziram um entendimento entre as partesFoto: DW/L.Matias

DW: Existe a disponibilidade de ambos os lados para dialogar?

GS: Sei que é difícil saber porque as condições que são colocadas por qualquer uma das partes não são efetivamente atendidas. Do nosso lado, como sociedade civil, não sabemos com toda a certeza o que está em jogo. Fala-se da lei eleitoral, mas há muito mais e há assuntos que não são conhecidos. E mesmo quem está a mediar o conflito não tem a primazia de tornar público o que tem vindo a ser conversado na mesa de negociações.

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