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Sexualidades marginalizadas em foco no Queer Lisboa – "Focus on Africa"

Carla Fernandes26 de setembro de 2014

O Queer Lisboa, Festival Internacional de Cinema Queer, o mais antigo festival de cinema de Lisboa, decorre na capital portuguesa (19 a 27.09). Pela primeira vez, em 18 anos, destaca o cinema africano.

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Foto: Queer Festival

Para a décima oitava edição, o Queer Lisboa tem África na sua seção Queer Focus – Focus on Africa, resultado de uma parceria com o projeto África Cont.

Os filmes estão a ser exibidos no cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa. Para além de filmes o Queer Lisboa também apresenta instalações, performances e debates.

Pedro Marum é um dos programadores de cinema e responsável pela programação do Queer Focus on Africa, e explica que o Queer é um conceito que nasce dentro da comunidade LGBT ( Lébica , Gay Bissexual e Transgénero). No entanto, o Festival Queer Lisboa, utiliza o termo Queer como cinema que explora identidades e sexualidades que fogem um pouco à norma, que são politizantes e militantes para contrariar a heteronormatividade.”

Orientações sexuais perigosas

Em vários países africanos homosexuais e lésbicas podem ser alvo de presseguições, violência, prisão ou morte. A ILGA,(International Lesbian, Gay, Bisexual, Trans and Intersex Association), associação que defende os direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgénero, conta 77 países no mundo em que existem leis contra a expressão destas sexualidades – 37 desses países são africanos.

Filmes desde o Egito até à África do Sul podem ser vistos no Focus on Africa do Queer Lisboa. Beverley Ditsie vem da África do Sul, é realizadora e sempre esteve ligada às artes e aos ecrãs. No entanto, o facto de ser lésbica fez com que não fosse escolhida para papéis por ser muito masculina. Nessa altura, começou a sua caminhada como ativista pelos direitos das Lésbicas, Gays, Bisexxuais e Transsexuais – LGBT. Beverley está no Queer Lisboa, com o seu filme Simon & I.

Queer Festival Filmszene Simon and I
Cartaz do filme Simon & I da realizadora Beverley Ditsie (esq.)Foto: Queer Festival

“O filme foi uma narrativa pessoal e a ideia era reconhecer o Simon Nkoli como o pioneiro na defesa de direitos dos gays na África do Sul. Então começou como um tributo ao Simon, uma biografia dele. Quase como uma carta de amor para ele. Mas porque eu estava a dizer que ele mudou a minha vida pessoalmente, depois tornou-se numa questão de ‘quem és tu e como é que mudou a tua vida?’.”

Narrativas reais tocam mais

Berveley colocou a pergunta a si mesma mas indiretamente também a colocou às pessoas que veriam o filme, porque “usando-me como um exemplo de alguém cuja vida foi mudada pelo Simon, acabei sendo a representante de outras pessoas, cujas vidas ele tinha mudado, apenas sendo corajoso e por ter assumido a sua homosexualidade, enquanto estava nas prisões durante o apartheid. E algumas das pessoas que estavam na prisão com ele, são algumas das pessoas que estão no governo atualmente. E por ele os ter educado sobre a sua sexualidade, quase que foi como o pavimentar de um caminho para a forma como a constituição da África do Sul foi escrita.”

Verfassungsgericht in Uganda kippt Anti-Homosexuellen-Gesetz
Pessoas no Uganda com a bandeira que simboliza o orgulho gayFoto: Isaac Kasamani/AFP/Getty Images

A África do Sul é um dos poucos países no mundo que comtempla direitos relativos à orientação sexual na sua constituição. No entanto, também é nesse país que pessoas são vítimas de violações em grupo por serem lésbicas. Por isso Berveley procura a melhor forma de esclarecer a população, em geral, sobre a realidade LGBT.

“Enquanto fazia discursos e aparecia na televisão era mal representada, porque os jornalistas escreviam coisas que eu não dizia ou intrepretavam-me de uma forma estranha. Entao, ser realizadora, significava que eu controlava o que estava a dizer e de como seria apresentado.”

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Muitas mulheres lésbicas são violadas por expressar a sua sexualidadeFoto: picture-alliance/dpa

Segundo Berveley Ditsie, as pessoas identificam-se mais com a história de pessoas reais do que com discursos sobre o tema dos direitos de pessoas que vivem sexualidades marginalizadas. O festival de cinema Queer Lisboa insere-se, nesta sua décima oitava edição, nos espaços onde estas narrativas podem mudar vidas.

Africa on Focus

Um dos maiores desafios para os programadores, foi definir o que África seria representada porque “o continente africano é um continente muito vasto. Não se resume a uma unidade. Existem milhões de Áfricas. Portanto, torna-se difícil aqui encontrar uma representatividade. Pelo que o que nós tentámos encontrar foi algumas linhas precisamente para explorar esta ideia de que África não é só uma. E depois viajámos de norte a sul, este a oeste, para preceber o que se faz um pouco por todo o continente africano.”, declara Pedro Marum, programador do Africa on Focus do Queer Lisboa.

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