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Repressão a protestos põe à prova aliança entre Ocidente e Turquia

Spencer Kimball (md)19 de junho de 2013

Dura repressão aos manifestantes, ordenada por Erdogan, é condenada por EUA e a UE. Mas, à medida em que o Ocidente se envolve no conflito sírio, um rompimento com a Turquia se torna cada vez mais improvável.

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Foto: Reuters

Por muito tempo elogiada pelo Ocidente como um exemplo democrático para o mundo muçulmano, a Turquia tem recebido nas últimas semanas duras críticas de aliados como a União Europeia (UE) e os Estados Unidos.

Em reação à violenta repressão aos protestos, ordenada pelo governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, as duas potências apelaram a Ancara que respeite os direitos à liberdade de expressão e de reunião.

Em Washington, a administração do presidente Barack Obama se posicionou do lado dos manifestantes, ao menos em nível retórico. O porta-voz da presidência, Jay Carney, disse que a Casa Branca acredita que a maioria dos manifestantes são cidadãos cumpridores da lei. Erdogan os havia qualificado de extremistas.

"Acreditamos que a estabilidade, a segurança e a prosperidade estão melhor garantidas, a longo prazo, com a manutenção das liberdades fundamentais de expressão, reunião, associação e uma imprensa livre e independente", afirmou o porta-voz.

Turquia é importante aliada

Mas os protestos na Turquia ocorrem num momento crítico no Oriente Médio, quando as potências ocidentais se movem no sentido de se envolverem mais profundamente na guerra civil da Síria. Na semana passada, a administração Obama anunciou que começaria a fornecer armamentos aos rebeldes sírios, alegando que o governo Assad atravessou uma "linha vermelha" ao empregar armas químicas, como gás sarin.

Türkei Istanbul Protest Gezi Park
Tumultos em Istambul foram reprimidos com violênciaFoto: Reuters

A Turquia, que tem 822 quilômetros de fronteira com a Síria, tem desempenhado um papel fundamental no conflito do país vizinho, abrigando em seu território mais de 380 mil refugiados sírios e os rebeldes do Exército Livre da Síria (FSA, na sigla em inglês). Carregamentos de armas ocidentais deverão ser entregues ao FSA, considerado mais liberal e secular do que grupos rebeldes islâmicos que lutam para derrubar o governo do presidente Bashar al-Assad.

"Para os EUA poderem implementar essa política, é necessário cooperar com o governo turco como um canal para aquelas armas [chegarem ao rebeldes]", alerta o especialista em política externa turca Sinan Ülgen, professor visitante no Carnegie Endowment for International Peace, em Bruxelas.

"Parceiro indispensável"

Desde que assumiu o poder, em 2009, Obama vê a Turquia como um parceiro fundamental no Oriente Médio e procura construir laços pessoais com Erdogan, conforme ressalta o cientista político Emiliano Alessandri, do German Marshall Fund, sediado em Washington. "Obama queria construir um relacionamento muito pessoal e forte com Erdogan", diz o especialista em Turquia. "Se Erdogan continuar com esse tipo de atitude, é claro que relação pode ficar comprometida."

Desde o início da crise síria, Ancara queria que os EUA assumissem a liderança na resolução do conflito, comenta Alessandri. Mas agora, quando Washington começa a assumir esse papel, o primeiro-ministro turco, um interlocutor importante no que se refere à Síria, está se enfraquecendo internamente.

Angela Merkel zu Besuch in der Türkei
Erdogan e Merkel: chanceler criticou abertamente líder turcoFoto: Reuters

Na opinião de Ülgen, embora Erdogan esteja enfrentando ampla oposição interna, ele provavelmente continuará sendo indispensável para os parceiros ocidentais no que diz respeito à Síria. "Afinal, a Turquia é membro da Otan", destaca o analista. "A menos que as coisas ganhem uma dimensão muito diferente de abuso democrático, o Ocidente vai continuar a cooperação com a Turquia", acrescenta.

Ambivalência em relação à UE

Se a Turquia permanece sendo um parceiro indispensável para o Ocidente nas questões relacionadas ao Oriente Médio, a relação bilateral do país com a UE se torna cada vez mais ambivalente. Já fazem oito anos que a Turquia negocia sua entrada na União Europeia. O processo está paralisado há três anos, com Ancara sendo considerada em conformidade com apenas um dos 35 capítulos do direito europeu.

Ainda é incerto se a repressão do governo Erdogan aos protestos terá um impacto negativo sobre as negociações de adesão da Turquia à UE. Os líderes europeus têm sido mais estridentes do que os EUA nas críticas a Ancara. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, que se opõe à adesão da Turquia à UE, disse na segunda-feira ter ficado "chocada" com o modo como Erdogan tratou as manifestações.

"O que está acontecendo no momento na Turquia não está em consonância com a nossa ideia de liberdade de manifestação ou liberdade de expressão", disse a chanceler federal, em entrevista ao canal de televisão RTL, respondendo uma pergunta sobre se o comportamento de Ancara corresponde ao que se espera de um candidato à UE.

Antes das atuais turbulências na Turquia, a UE havia planejado retomar o processo de negociação com Ancara no fim deste mês. Apesar de o governo alemão ainda não ter assumido uma posição oficial sobre se os esforços devem ser suspensos, os últimos rumores indicam que Berlim tem dúvidas sobre se vale a pena avançar no processo.

E embora os EUA apoiem a adesão turca ao bloco de 27 países, Washington tem pouca influência direta sobre o processo de negociação. "A administração Obama chegou à conclusão de que, se sugerir a Turquia como membro, só colherá reações negativas da Europa, porque os europeus veriam isso como uma ingerência em seus assuntos internos", observa Alessandri. "Não acho que, neste momento, os Estados Unidos possam ter um papel positivo nessa questão."