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"RENAMO não conseguirá dividir Moçambique"

Nádia Issufo4 de junho de 2014

O maior partido da oposição moçambicana ameaça dividir o país se o Governo não aceitar a paridade nas forças de defesa e segurança. Mas analista não acredita nessa possibilidade.

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Tropas moçambicanas em Maringué, no centro do país em outubro de 2013Foto: picture-alliance/dpa

Depois da retomada dos confrontos em Moçambique agora a RENAMO ameaça dividir o país, caso o Governo não aceite a sua proposta de paridade na composição das forças de defesa e segurança.

O secretário-geral da RENAMO, Manuel Bissopo justificou que "não podemos deixar que os moçambicanos entrem em confronto, sendo que esse Moçambique é grande e cada um pode ocupar o seu espaço". Face ao endurecimento de posições a DW África entrevistou Albino Forquilha, ex-militar e especialista para a promoção da paz na FOMICRES, uma ONG que trabalha na área do combate à proliferação de armas.

DW África: A RENAMO tem capacidade para dividir Moçambique ou não?

Mosambik Albino Forquilha
Albino Forquilha, entrevistado da DW ÁfricaFoto: Fórum para a Investigação de Crimes e Reinserção Social

Albino Forquilha (AF): Eu diria que a RENAMO não teria capacidade para fazer uma divisão do país em termos militares. Mas, entretanto, também temos de ter em conta que o estilo de guerra que a RENAMO usa é mesmo guerrilha e a divisão do país poderá não ser de forma física. Mas psicologicamente, pode passar para um conjunto de moçambicanos um sentimento de uma deslocação, praticamente inibida. De que não possam circular, que todos os dias não possam usar os seus veículos do norte para o centro ou o sul e vice-versa. Desta maneira, poderá, se calhar, perceber-se uma divisão do país. Mas o país que nós temos é uno constitucionalmente e não acredito, no sentido de ter um novo Estado, que a RENAMO possa conseguir lograr este propósito.

DW África: A RENAMO tem um grande apoio no centro do país que é o seu bastião. Acha que este partido pode fazer um aproveitamento étnico para realmente efetivar os seus objetivos?

AF: A guerra da RENAMO foi em parte étnica mas também devemos dizer que ao longo do tempo esta questão de etnicidade deixou de ter um certo valor, se formos analisar os resultados das eleições. Ao longo dos últimos quinze, vinte anos, a RENAMO perdeu essa capacidade. Todavia, aquilo que está a acontecer neste momento… Eles aparecem à beira da estrada, disparam e voltam a esconder-se. Mas em volta tem aldeias, tem pessoas que lá vivem… Agora se se pode fazer uma ligação entre este assunto e questões de etnias… talvez, sim. Mas, por outro lado iria puxar o aspecto do medo que as populações teem. As pessoas sabem o que é bom e o que é mau. As pessoas não querem a guerra. Podem apoiar a RENAMO como partido político mas não os ataques. Mas podem ter o receio de denunciar e entre as comunidades haver também traições (…) e depois há represálias.”

Membros da Renamo após captura do exército (17.10.2013)
Membros da Renamo após captura do exército (17.10.2013)Foto: Maria Celeste Mac' Arthur/AFP/Getty Images

DW África: A RENAMO decretou há cerca de um mês o cessar- fogo unilateral e esta semana derrubou-o. E, nos últimos dias, o número de vítimas aumentou consideravelmente. Como vê o extremar de posições no seio da RENAMO neste momento?

AF: É difícil de facto colocar a RENAMO numa mesa e nos permitir alguma análise íntegra. A RENAMO habituou-nos a dizer uma coisa hoje e amanhã poder mudar… Parece-nos, numa análise mais calma, que a RENAMO tem receio de que indo de facto às eleições, como os outros partidos, teme poder ficar sem os resultados que tem no Parlamento. Pode ficar em terceiro ou quarto lugar, porque hoje está em segundo lugar, após a FRELIMO, e prefere ganhar esta posição ou o seu poderio político na mesa de negociações através das armas que tem. Penso que a RENAMO está a procurar, como alguns dizem, fazer o que se chama um golpe de Estado. [O que a RENAMO diria, segundo Adelino Forquilha] Sentamos à mesa, e se voces não aceitam matamos o povo.

DW África: Numa entrevista o porta-voz da RENAMO, António Muchanga, disse que os homens da RENAMO agora vão enfrentar o exército por uma questão de sobrevivencia e que, por isso, a palavra do líder Afonso Dhlakama já não vale. Ontem [03.06.14] o secretério geral da RENAMO Manuel Bissopo, veio fazer a ameaça de dividir o país. Com tudo isto considera que existe sinais de que o poder está dividido na RENAMO, uma vez que são estas duas figuras que aparecem a fazer as ameaças?

Manuel Bissopo Generalsekretär der Oppositionspartei RENAMO
Manuel Bissopo, secretário-geral da RENAMOFoto: Nelson Carvalho

AF: Eu não excluiria esta possibilidade, de que a RENAMO está, ou estaria já, de forma clara dividida há muito tempo. Primeiro porque nós temos o próprio senhor Bissopo que é um deputado na Assembleia da República. Nós temos a RENAMO que está no Parlamento moçambicano, que não tem estado a aparecer muito, a falar sobre este tipo de assunto. Estes demonstram claramente que estão interessados nos procedimentos do processo democrático e a lutarem pelos desígnios do seu partido por via política. Temos o outro grupo, esse que está no mato e que tem estado associado, às vezes, ao Bissopo, talvez por causa da poisição que tem, que é o de secretário geral, e estão lá a disparar. Agora, a coisa mais admirável é que mesmo os que estão no Parlamento, não podem comentar muito contrariando os militares, porque, provavelmente, eles acham que a sua manutenção no Parlamento vai depender dos resultado dessas hostilidades. Mas o outro pode ser o facto de que eles mesmo contrariando os homens armados possam sofrer. Porque a RENAMO mata. A RENAMO está a disparar.

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