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Relvados de estádios de Angola secam ao abandono

17 de agosto de 2012

Após milhões de dólares investidos, alguns estádios do país estão em péssimo estado de conservação. Na província sul de Huíla, dos quatro existentes apenas um está em condições de ser utilizado.

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Estádio Nacional de Tundavala, Huíla
Estádio Nacional de Tundavala, HuílaFoto: Getty Images

O caso que tem despertado a indignação de muitas pessoas é o do Estádio Nacional de Tundavala (ENT), que, depois de ter custado quase 70 milhões de dólares norte-americanos aos cofres do Estado (mais de 56 milhões de euros), encontra-se praticamente abandonado.

Inaugurado em 2010, o estádio não está sendo utilizado, principalmente, por conta do péssimo estado da relva. A manutenção inadequada deve-se ao atraso no pagamento de 23 funcionários, que não receberam o salário equivalente ao período de janeiro de 2010 a julho de 2011.

A denúncia foi feita por uma funcionária do estádio ao blog Maka Angola, espaço dedicado à luta contra a corrupção no país. A mulher, que preferiu não se identificar, afirma que, atualmente, apenas oito pessoas trabalham no estádio devido à questão salarial.
O jornalista Lázaro Pinduca, que denunciou o caso, em entrevista à DW África, considera que a situação “é muito triste, porque é um estádio que custou muito dinheiro aos cofres do Estado e que, por causa da falta de salário para pagar os 23 funcionários, não está a ser bem cuidado, começando pela relva, que corre o risco de desaparecer. Há muito que não se rega por causa da avaria da conduta que leva água para o estádio. É complicado”.

A média salarial dos funcionários do estádio equivale a 145 dólares (cerca de 117 euros). Em contrapartida, o Campeonato Africano das Nações (CAN) 2010, para o qual o estádio foi construído, arrecadou  mais de mil milões de dólares, segundo o Maka Angola.

Estádio abandonado e votado ao silêncio

Lázaro Pinduca afirma que as pessoas evitam falar, abertamente, sobre a situação do estádio com medo de represálias. Uma ordem de censura, de acordo com o Maka Angola, teria sido dada aos órgãos de comunicação social do Estado. As rádios, por exemplo, estão, alegadamente, proibidas de falar no assunto.

De acordo com o jornalista angolano “as pessoas não querem falar, estão com medo de falar, porque dizem que é uma questão do Estado. Procurei falar com o diretor provincial da Juventude e Desportos, Francisco Barros, e ele diz que não fala, porque não é da competência dele e quando tomou posse, neste ano, encontrou o estádio com a dívida, ele disse”.
O Estádio Nacional da Tundavala, no entanto, não seria o único a apresentar más condições estruturais, segundo o jornalista. Na província de Huíla, no sul do país, afirma o jornalista, “temos o Estádio Nacional de Tundavala, temos o Ferroviário da Huíla, temos o Estádio da Nossa Senhora do Monte, onde atua o Clube Desportivo da Huíla, e temos o Estádio 11 de Novembro, que é do Benfica. Neste momento, em toda a província, o único estádio que está em condições de receber jogos é o do Benfica”. O problema, aponta Lázaro, é a condição da relva, que não está apropriada para os jogos.

O Estádio Nacional de Tundavala tem capacidade para 20 mil espectadores
O Estádio Nacional de Tundavala tem capacidade para 20 mil espectadoresFoto: Getty Images
O relvado do estádio de Tundavala está a secar
O relvado do estádio de Tundavala está a secarFoto: Getty Images

O jornalista afirmou ainda que o relvado do Estádio Nacional de Tundavala recebeu adubo, neste mês, para a preparação de um comício de campanha eleitoral do Presidente, José Eduardo dos Santos, que aconteceria no dia 14 de agosto. No entanto, a data do evento mudou, assim como o local do comício. Desde então, o estádio continua sem manutenção.

Para falar sobre o situação dos estádios, a DW África procurou o ministro da Juventude e Desportos, Gonçalves Muandumba, e também o diretor provincial do ministério, Francisco Barros. Mas os dois recusaram-se a dar entrevista. Radialistas, dirigentes espotivos, ativistas e pessoas da sociedade civil também não quiseram comentar o assunto.

Autora: Melina Mantovani
Edição: Glória Sousa / António Rocha

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