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Relatório internacional denuncia violência policial contra "zungueiras" em Angola

António Cascais30 de setembro de 2013

A Human Rights Watch denuncia casos de perseguição policial de vendedoras ambulantes por parte da polícia angolana. O relatório da organização refere que as senhoras são tratadas com extrema violência pelas autoridades.

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Ataques contra mulheres que vendem na rua são cada vez mais frequentes em AngolaFoto: Getty Images

A organização internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) entrevistou 73 vendedoras de rua em Luanda - as denominadas "zungueiras" - e chegou à conclusão que a situação é grave: todas as senhoras entrevistadas já tinham sofrido ou presenciado situações de violência por parte das autoridades nacionais.

No relatório descreve-se, de forma detalhada, como agentes da polícia e funcionários das administrações municipais ameaçam e agridem as zungueiras, expulsando-as dos locais de venda. Muitos dos agressores estão fardados, outros usam roupa civil e não têm documentação, nem identificação oficial.

Relatório internacional denuncia violência policial contra "zungueiras" em Angola

O jornalista angolano Coque Mukuta registou inúmeras situações de violência e chegou a denunciá-las. Mas quem concretamente são os agressores? E atuam por ordem de quem? "Existem indivíduos à civil que as administrações do Governo recrutam", explicou à DW África Coque Mukuta .

Descreve os referidos indivíduos como "ladrões" e afirma que o executivo angolano "trabalha com estas pessoas". Relata ainda que "outros são polícias, alguns são fiscais do Governo e esses, com muita brutalidade, espancam e perseguem as senhoras".

Número de ataques cresce

Em Outubro de 2012, o governador de Luanda, Bento Bento, prometeu acabar com a zunga, isto é, com a venda de rua na capital do país durante o seu mandato. O governador prometeu ainda construir mercados com melhores condições - inclusive de higiene - para clientes e vendedores.

Desde então, a pressão sobre as mulheres tem vindo a aumentar. Os ataques têm sido frequentes e chegaram mesmo a registar-se mortes, sobretudo na sequência de atropelamentos de mulheres que tentavam fugir "à queima roupa" dos seus perseguidores.

Coque Mukuta responsabiliza as autoridades, nomeadamente o governador de Luanda. "Quando disse que poderia eliminar a zunga, o governador pensou que só torturando as pessoas acabaria com isso", diz.

MPLA-Provinzsekretär für Luanda Bento Bento
Bento Bento, governador de Luanda, numa reunião do MPLAFoto: Quintiliano dos Santos

O jornalista lamenta que o governador não tenha ponderado outras "grandes metodologias que poderia ter usado", sublinha. "Pensou que só à força poderia resolver isto, mas não é verdade", afirma Mukuta.

Muitas das zungueiras vivem em situação de extrema pobreza, refere-se no relatório da HRW. Trata-se de mulheres - muitas delas mães de bébes - que não encontram outro meio de subsistência. A maioria não tem acesso aos mais básicos serviços públicos. Não benefeciam de maneira nenhuma dos recursos naturais nem do crescimento económico que Angola tem vindo a registar, pode ler-se no mesmo relatório.