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Reféns do Boko Haram relatam horrores do cativeiro

4 de maio de 2015

Centenas de mulheres e crianças são resgatadas pelo Exército numa floresta no norte da Nigéria. Elas contam que homens e meninos foram mortos na frente das famílias e que muitos reféns morreram de fome e doenças.

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Soldado em meio a mulheres resgatadas numa floresta, em foto divulgada pelo Exército nigerianoFoto: picture-alliance/dpa/EPA/Nigerian Army

Militantes do grupo extremista Boko Haram mataram meninos mais velhos e homens diante das famílias antes de levarem mulheres e crianças para as florestas, onde muitas morreram de fome e doenças, afirmaram reféns libertadas neste domingo (03/05) na Nigéria.

O Exército nigeriano resgatou centenas de mulheres e crianças das mãos dos islamistas na floresta de Sambisa, no norte do país, na semana passada. A operação chamou atenção para as condições dos reféns.

Após dias na estrada em caminhões, 275 mulheres e crianças foram deixadas num campo de refugiados neste fim de semana, em Yola, no leste da Nigéria. "Agradecemos a Deus por estarmos vivas. Agradecemos ao Exército nigeriano por salvar nossas vidas", disse uma das mulheres libertadas, Asabe Umaru.

As prisioneiras sofriam de desnutrição e doenças, relatou a jovem de 24 anos, mãe de dois filhos. "Todos os dias, víamos uma de nós morrer e esperávamos pela nossa vez." Ela afirmou que os militantes acompanhavam as mulheres até mesmo quando elas faziam suas necessidades.

Outra vítima, Cecilia Abel, disse que o marido e um filho foram mortos diante dela. A milícia fez com que ela e os outros oito filhos permanecessem na floresta. Antes de os soldados nigerianos chegarem, ela praticamente não comeu por duas semanas.

"Recebíamos apenas milho seco à tarde. Não era bom para consumo humano", disse. "Muitos dos que foram capturados morreram na floresta de Sambisa. Mesmo depois de sermos salvos, cerca de dez morreram a caminho daqui."

Durante a operação de resgate, algumas reféns foram atropeladas por tanques militares, que se moviam pela floresta sem saberem que as mulheres estavam ali, relatou Binta Abdullahi, de 18 anos.

"Depois que os soldados renderam os combatentes do Boko Haram, eles colocaram as [mulheres] que estavam muito fracas ou doentes em veículos e pediram às demais para que andassem atrás deles. Ao menos três mulheres e alguns soldados morreram quando uma mina explodiu após uma de nós pisar nela", relatou a jovem.

As duas irmãs de Abdullahi também foram sequestradas, mas conseguiram escapar. Abdullahi disse que optou por ficar na floresta para cuidar de três crianças, de 3 e 4 anos, cujas mães não estavam entre as capturadas.

Cozinheiras e escravas sexuais

O Boko Haram vem usando sequestro como tática ao longo dos últimos seis anos. A Anistia Internacional estima que os insurgentes, que tentam estabelecer um califado na região que controlam, tenham capturado mais de 2 mil mulheres e meninas desde o início de 2014. Muitas foram usadas como cozinheiras, escravas sexuais ou escudos humanos.

Lami Musa, de 27 anos, foi salva de um casamento forçado com um dos assassinos de seu marido. "Eles me levaram para que eu casasse com um dos comandantes", conta. Quando perceberam que ela estava grávida, disseram que estava "impregnada por um infiel" e que o casamento ocorreria uma semana após o parto. Ela deu à luz uma menina na véspera do resgate pelo Exército nigeriano.

Cerca de 700 vítimas do Boko Haram foram resgatadas desde a terça-feira passada. As reféns libertadas receberam pão e chá assim que chegaram ao campo de refugiados em Yola, sob cuidados do governo. Dezenove foram encaminhadas a um hospital, disse um médico.

As prisioneiras libertadas até agora não parecem incluir nenhuma das mais de 200 meninas sequestradas em Chibok há cerca de um ano, incidente que chamou atenção mundo afora e desencadeou a campanha #BringBackOurGirls (Tragam de volta nossas meninas).

LPF/rtr/afp/ap