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Recrutamento de alemães pelo radicalismo islâmico preocupa autoridades

Dеnnis Stutе (md)10 de setembro de 2014

Cada vez mais jovens aderem a organizações extremistas na Síria e no Iraque, onde frequentemente são empregados como homens-bomba. Governo alemão está em alerta, mas conter esse fluxo não é tarefa fácil.

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Militante islamista fotografa desfile militar do EI em Raqqa, no norte da SíriaFoto: Reuters

Cerca de 12 mil estrangeiros de 74 países estão combatendo na Síria atualmente – a maior mobilização internacional de combatentes das últimas décadas, segundo novos números do ICSR, instituto de pesquisa especializado em radicalização do King's College de Londres. Mais de um quinto dos combatentes, predominantemente árabes, vem de países ocidentais; 400 deles, da Alemanha.

O caminho para a jihad nunca foi tão fácil. Na Alemanha há hoje uma forte cena de jovens radicais islâmicos, que cresce continuamente. Embora estes 5 mil a 10 mil salafistas representem apenas uma pequena fração dos cerca de quatro milhões de muçulmanos na Alemanha, eles são muito ativos.

Eles distribuem gratuitamente edições do Alcorão nas calçadas das cidades, convidam para eventos, fundam grupos nas imediações das mesquitas e promovem campanhas que costumam provocar controvérsia no país. Em muitas cidades, salafistas tentam recrutar novos seguidores usando métodos assistencialistas, especialmente entre os jovens sem perspectiva.

Respostas e estruturas claras

O caminho da radicalização pode ser diverso, mas há padrões recorrentes, diz Florian Endres, diretor do centro de aconselhamento sobre radicalização do Departamento Federal para Migração e Refugiados (BAMF). "Muitas vezes, a busca por um sentido na vida ou uma crise pessoal cria um terreno fértil para ideologias radicais islâmicas", afirma, acrescentando que o salafismo oferece respostas e estruturas claras. "A ênfase no senso comunitário é muito forte em grupos salafistas. Eles se consideram uma elite."

De acordo com conhecedores da cena, a Síria é atualmente o tema central entre os salafistas. Embora a maioria dos grupos não propague a violência jihadista, as discussões são acompanhadas por propaganda da internet oriunda da Síria e do Iraque. O departamento de mídia da milícia terrorista "Estado Islâmico" (IS) elevou a publicidade para a jihad a um novo patamar: filmes produzidos profissionalmente mostram a luta na Síria e no Iraque como cinema de ação.

"Para um ou outro, viajar para a Síria pode representar uma forma de autodescoberta ou afirmação pessoal", diz Endres. E isso é algo simples, segundo ele. Um voo para a Turquia dura três horas, e a travessia da permeável fronteira síria pode ser facilmente organizada com antecedência.

Salafisten in Deutschland Islam Koran Verteilung
Salafista distribui Alcorão a passantes na AlemanhaFoto: dapd

Desconhecimento da cultura árabe

Aparentemente, no Iraque e na Síria, os recrutas da Alemanha raramente assumem um papel importante em suas organizações. "Um dos problemas é a falta de competência intercultural", diz Marwan Abou-Taam, responsável pelo setor "crime com motivação política" da polícia do estado alemão de Renânia-Palatinado.

Ele observa que, muitas vezes, os europeus causam conflitos por não estarem familiarizados com a cultura do mundo árabe. Além disso, eles chegam sem experiência de combate. "A maioria não serviu o Exército", afirma o cientista social, "enquanto a maioria dos combatentes árabes prestou serviço militar."

Frequentemente, combatentes oriundos da Alemanha são empregados como homens-bomba, que têm um papel central na tática do EI. Primeiro, eles abrem uma brecha nas linhas de defesa do inimigo, com caminhões explosivos, por exemplo, antes que tropas do EI cheguem disparando suas armas.

Há cerca de um mês, o alemão convertido ao islã Philip Bergner detonou uma bomba em seu próprio corpo perto de Mossul, matando a si mesmo e a outras 20 pessoas. Pelo menos cinco jihadistas alemães cometeram ataques suicidas no Iraque. Mas esses são apenas os casos identificados: o número real deve ser muito mais alto.

As autoridades de segurança se veem relativamente impotentes diante dessa situação. Convocar abertamente para a luta na Síria seria passível de punição criminal, mas também algo desnecessário, pois o tema já está presente nos círculos islâmicos radicais e já existem convocações suficientes na internet. Tentar impedir suspeitos de sair do país através do confisco do passaporte é um método pouco efetivo, pois cidadãos alemães não precisam de visto para entrar na Turquia. E, muitas vezes, os jihadistas voltam facilmente para a Alemanha.

É possível que eles sejam processados, diz Abou-Taam. "Mas o problema é que não podemos investigar na Síria ou no Iraque. Simplesmente não sabemos o que eles fizeram lá."

Screenshot Youtube Philipp B. alias abu osama
Philip Bergner, alemão convertido ao islã, cometeu atentado suicida no IraqueFoto: Youtube

Risco elevado

Aqueles que retornam preocupam cada vez mais as autoridades de segurança. "Alguns voltam decepcionados e se afastam da ideia de jihad, outros voltam com problemas de saúde mental e experiência de combate e são muito imprevisíveis", afirma Abou-Taam. "E existe também o terceiro grupo, que volta para a Europa com uma missão e quer levar a luta às sociedades ocidentais." Além disso, muitos combatentes não são conhecidos das autoridades, o que torna a situação ainda mais nebulosa. "Este é o quarto grupo, que pode operar clandestinamente sem ser notado."

As autoridades alemãs ainda não têm evidências de que cidadãos que retornaram tenham missões terroristas concretas. No entanto, o terrorismo do EI já atingiu um país vizinho, a Bélgica. O autor do atentado contra o Museu Judaico de Bruxelas, que matou três pessoas em maio, teria sido guarda em prisão do EI e torturado reféns.

Após a recente decisão do governo alemão de enviar armas ao Iraque, a ameaça de ataques aumentou no país, segundo avaliação geral. Até mesmo o ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, não descarta um "risco elevado".

Para ter o problema sob controle a médio prazo, especialistas pedem uma estratégia de combate ao islamismo radical nos moldes de programas do governo alemão de educação política e de incentivo ao abandono do radicalismo de direita.

Endres acredita que sobretudo as escolas deveriam esclarecer seus alunos sobre questões como islamismo, salafismo ou islamofobia. "Notamos repetidamente que as pessoas que se orientam em direção ao salafismo têm pouco conhecimento e experiência na área religiosa."