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Moçambique: "Reconciliação está sobre pernas muito trémulas"

Glória Sousa8 de agosto de 2014

A afirmação é do psicoterapeuta moçambicano Boia Efraime. Depois do consenso entre o Governo e a RENAMO sobre o acordo para o fim das hostilidades, é preciso "fazer calar as armas" de vez.

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Foto: DW/L. Matias

Boia Efraime, psicoterapeuta moçambicano e membro da Associação Reconstruindo Esperança, diz que os efeitos do conflito RENAMO - FRELIMO na sociedade de Moçambique podem ser desastrosos. Por isso, é urgente o fim das hostilidades que duraram 18 meses e fizeram vários mortos no país.

DW África: Quais os efeitos do conflito na sociedade moçambicana?

Boia Efraime (BE): Houve, de facto, uma rotura na vida social e económica em Moçambique. Houve crianças que não fizeram os exames e que ficaram fora das escolas, camponeses que não puderam continuar a produzir, obrigados a uma condição de deslocados de guerra, etc. Oficialmente, o Governo não reconheceu essas pessoas como vítimas de guerra.

Mosambik Afonso Dhlakama Führer der Oppositionspartei RENAMO 2013
Afonso Dhlakama, presidente da RENAMO, anunciou que vai assinar o recente acordo de pazFoto: Getty Images/AFP

Há muita gente ainda traumatizada com os conflitos no passado. Essas pessoas voltaram a ficar assustadas, feridas foram reabertas. Os traumas ainda não estão superados. Mais do que isso, o conflito atual mina a capacidade das pessoas de terem confiança no futuro. Isto significa que a nossa reconciliação ainda está sobre pernas muito trémulas.

DW África: Como deve ser feito o processo de reconciliação para que não se repita os erros na implementação do acordo de Roma de 1992?

BE: Eu penso que o mais importante é, de facto, a reconciliação nacional. É importante que a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) reconheçam que a reconstrução do país passa pela coexistência dos dois partidos e também de outros partidos. O que acontece neste momento é que a resolução dos problemas é a eliminação física do outro, é a destruição do outro. Eu penso que tanto a FRELIMO como a RENAMO mostram que continuam a pensar dentro deste paradigma. Mas isso tem de ser quebrado. E isso só pode ser quebrado, em meu entender, com a inclusão de outras forças. Seja a sociedade civil, sejam outros partidos...

DW África: Acha que com este acordo se pode acabar com a mentalidade de guerrilha da RENAMO?

Mosambik Krise Präsident Armando Guebuza mit Soldaten 24.10.2013
Armando Guebuza, líder da FRELIMO e Presidente de Moçambique, assinará o acordo em representação do GovernoFoto: Ferhat Momade/AFP/Getty Images

BE: A RENAMO é, nesse ponto, muito parecida com a FRELIMO. Enquanto a RENAMO não vir uma vantagem adicional, encarando a FRELIMO como um aliado para a construção do país, e a FRELIMO não fizer o mesmo, vamos estar sempre perante o mesmo problema. Por um lado temos uma RENAMO que usa as armas para levar a cabo os seus objetivos políticos, por outro lado temos um Estado que se submete a uma lógica de partido único, do partido que está no poder.

DW África: Com o acordo agora negociado será mais fácil atingir os ideais que a sociedade almeja?

BE: Penso que o Acordo Geral de Paz serviu bem os objetivos de paz neste país. No passado, houve uma fase em que o exército do país era constituído por homens da FRELIMO e também alguns da RENAMO que foram integrados, depois dos acordos de paz. Nos últimos anos, retiraram-se homens da RENAMO e passámos a ter um exército orientado pelo partido no poder.

DW África: Que virtudes vê neste acordo?

BE: Numa sociedade em que temos um Parlamento, numa sociedade em que as coisas deveriam ser discutidas de facto, o objetivo principal é fazer calar as armas. E isso passa por um consenso entre a FRELIMO e a RENAMO.

"Reconciliação em Moçambique está sobre pernas muito trémulas"

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