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"Questão dos refugiados passa pelo trabalho ilegal na UE"

Iveta Ondruskova (as)23 de abril de 2015

"Se oportunidades de trabalho não existirem, ninguém dirá 'quero de todo jeito ir para a Europa'", diz o político alemão Charles M. Huber. Ele também defende um plano diretor para o desenvolvimento econômico da África.

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Foto: Italienische Marine/dpa

A África necessita de um plano diretor de desenvolvimento econômico e social para fazer frente aos desafios do crescimento demográfico, afirmou em entrevista à DW o deputado Charles M. Huber, porta-voz para assuntos africanos da bancada da União Conservadora Cristã (CDU)/União Social Cristã (CSU) no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão).

Para ele, o desenvolvimento da economia africana e a criação de oportunidades de emprego são pontos importantes para evitar que os jovens tentem deixar o continente em travessias arriscadas, como a do Mar Mediterrâneo, que frequentemente acabam em tragédia.

"Trata-se de desenvolver no continente africano uma cadeia produtiva que agregue valor, que permita que as pessoas se tornem economicamente ativas", disse.

Para o deputado, também é necessário coibir o trabalho ilegal na União Europeia. "Se as oportunidades não existirem, ninguém dirá 'quero de todo jeito ir para a Europa'", argumentou. Muitos refugiados acabam optando pela criminalidade, segundo ele.

Huber, de 58 anos, é filho de um diplomata senegalês e de uma alemã da Baviera. Antes de entrar para a política, ele se tornou conhecido no país como ator de uma série de televisão.

DW: A Alemanha precisa de melhores opções de migração legal, a fim de barrar a onda de refugiados da África para a Europa?

05.05.2014 DW typisch deutsch Charles M Huber
Alguns refugiados acabam na criminalidade, afirma o deputado Charles M. Huber

Charles M. Huber: A questão não é se precisamos de uma migração legal, mas como acabar com as práticas de contrabando ilegais. Essa não é uma ação altruísta de pessoas que querem ajudar os pobres, mas de pessoas que querem "aliviar" os outros de suas economias.

Trata-se de uma taxa entre 3 mil e 5 mil euros. Para a renda média de um trabalhador na África, 3 mil euros correspondem a mil ou até 3 mil dias de trabalho. E quem pode reunir de 3 mil a 5 mil euros para uma travessia marítima não pertence àqueles que não têm o que comer na manhã seguinte.

Esse é um aspecto do problema. O outro aspecto é que, com práticas de contrabando, você também financia redes terroristas. E aqui não estamos lidando com amadores, mas com pessoas inteligentes que conhecem muito bem o efeito das imagens que vemos atualmente na televisão e que são muito emotivas e também muito trágicas.

Agora salvar vidas vem em primeiro lugar. Neste momento grave, devemos cuidar dos refugiados. Isso está correto, mas é apenas uma ajuda emergencial por razões humanitárias, e não uma solução permanente. Ao contrário: quanto mais pessoas acolhermos, mais serão enviadas. E mais irão ganhar os traficantes e os bandos criminosos.

Como acabar com o jogo dos traficantes?

Acontece o seguinte: só resgatamos as pessoas que morrem perto das nossas costas. Mas há também pessoas que morrem logo após a partida. Uma solução poderia ser reforçar o patrulhamento perto da costa [africana], ou seja, fora do limite de três milhas das águas dos países do norte africano.

O objetivo dos resgates é salvar o maior número de refugiados. Mas o que acontece com as pessoas que chegam à Europa?

Parto do princípio de que há um ou outro que não consegue reunir o dinheiro para a travessia, e esses muitas vezes acabam nas redes do tráfico. Esse também é um assunto pouco discutido. Estamos lidando com uma joint venture entre as redes terroristas e o crime organizado. Os refugiados são, em parte, integrados a essas redes: as mulheres na prostituição, e os homens na venda de drogas. Isso pode soar como se estivéssemos criminalizando pessoas que chegam até nós em meio ao sofrimento. Mas essa é a realidade. Certamente isso não vale para todos, mas assustadoramente vale para muitos. Não podemos apoiar essas práticas.

A Europa não é a única responsável pela atual crise de refugiados, mas também os países africanos de onde essas pessoas vêm. O que deve acontecer nos países africanos para que as pessoas possam encontrar perspectivas por lá?

Primeiro, é necessária uma mudança de pensamento. A África também precisa ser pró-ativa, capital africano deve ser investido na África e não enviado ao exterior. Devem ser criadas possibilidades para que o setor privado na Europa tenha um ponto de contato no setor privado desses países, e não só na política. É necessário mostrar um alto grau de responsabilidade e autodisciplina. Porque todo político lá sabe que há um déficit de segurança. Todo mundo sabe que há grupos terroristas e que eles conseguem atrair muitos jovens desempregados. Acho que a África necessita de um plano diretor de desenvolvimento econômico e social para fazer frente aos desafios do crescimento demográfico. Naqueles países já se fala hoje numa duplicação da população até 2050.

Além disso, para que o terrorismo não se espalhe pela África, temos de definir um conceito, em conjunto com os governos africanos, de como desenvolver a economia do ponto de vista da sustentabilidade. Trata-se de desenvolver no continente africano uma cadeia produtiva que agregue valor, que permita que as pessoas se tornem economicamente ativas.

A maioria dos refugiados que optam pelo Mediterrâneo alcança solo europeu pela Itália. O país não consegue lidar sozinho com esse problema. Como ajudar a Itália?

Não podemos ajudar a Itália tendo pena dela. A Itália é só um ponto de chegada. É necessário coibir o trabalho ilegal, tanto na Itália como na União Europeia. Quando os imigrantes chegam à Europa, eles têm a possibilidade de comprar cartões telefônicos baratos. Todos compram logo um celular e telefonam ao país de origem para dizer: "Eu consegui." E possivelmente também: "Eu tenho trabalho."

Trata-se, na maioria das vezes, de trabalho ilegal, seja na agricultura, ajudando na colheita, seja em domicílios, no trabalho doméstico. Se essas oportunidades não existirem, ninguém dirá "quero de todo jeito ir para a Europa". Porque, então, com os 3 mil ou 5 mil euros, a pessoa iria comprar um táxi ou qualquer outra coisa e começar um negócio.

Como a Alemanha pode ajudar na definição de um "plano diretor para a África"?

O importante é que ele contenha uma abordagem que deixe claro para as pessoas nos países pobres que há uma evolução relativa ao desenvolvimento econômico. Precisamos promover a educação profissionalizante nesses países. Precisamos incentivar o setor privado na Alemanha e na Europa a atuar nesses países. Precisamos dizer aos políticos desses países que eles devem prover a segurança necessária aos investidores, de modo que haja uma dinâmica econômica no nível das pequenas e médias empresas. Do lado africano, portanto, devem ser criadas as condições básicas para o investimento. Então, o continente terá uma chance.