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Templo da arte alemã reaberto na Ilha dos Museus

Simone de Mello, de Berlim3 de dezembro de 2001

Após três anos de reforma, a Galeria Nacional Antiga de Berlim foi reinaugurada neste domingo (2): o museu de pintura e escultura do século XIX, fundado há exatamente 125 anos.

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"À arte alemã – 1871": a inscrição sob o frontão da fachada não se refere à data da inauguração do edifício, cinco anos mais tarde, mas sim à da unificação política da nação alemã. Além disso, a coleção de 262 quadros do banqueiro Johann Wagener, de onde se originou o acervo da Galeria Nacional, não incluía apenas pintores alemães contemporâneos, sobretudo prussianos e bávaros, mas também artistas belgas, franceses e italianos.

A inscrição na fachada do templo das artes projetado pelo arquiteto Friedrich August Stüler, discípulo do mestre da arquitetura neoclássica prussiana, Karl Friedrich Schinkel, marca o entusiasmo pela configuração de uma identidade nacional através das artes.

Panteão germânico - Na fachada do templo de oito colunas, ao centro do tímpano, Germânia abre os braços sobre as artes. No interior do edifício, em torno da escadaria, o friso de Otto Geyer apresenta, cronologicamente, o panteão germânico, em vultos e nomes. Lutero, Gutenberg, Dürer, Bach, Kant, Goethe, Beethoven, Hegel são apenas alguns expoentes de uma tradição cultural reinterpretada, que transmitia a ilusão de continuidade histórica e projetava um plano comum de identificação entre principados recém-unificados sob a liderança da Prússia. Ao lado dos outros quatro templos da Ilha dos Museus (Museu Antigo, Museu Novo, Museu Pergamon e Museu Bode), concebida na primeira metade do século XIX como compêndio das artes e ciências desde a Antiguidade, a Galeria Antiga também representava a tentativa de contextualizar as diversas manifestações artísticas contemporâneas, criando a ilusão de uma arte nacional.

Acervo - Ao longo de três andares do edifício, restaurado com discrição pelo escritório de arquitetura HG Merz, de Stuttgart, o eclético acervo do museu se espalha por salões, corredores e gabinetes. Além de o espaço do museu já implicar uma apresentação fragmentada da coleção, a curadoria destaca o pluralismo das manifestações artísticas de todo um século, de high lights como Caspar David Friedrich e Adolph Menzel até no names de movimentos regionais.

O passadismo do grupo dos "Nazarenos", que tornava a popularizar os motivos cristãos, recorrendo a técnicas da pintura renascentista; o recorte do presente na pintura de gênero realista e naturalista; a antecipação das vanguardas no Impressionismo francês: tudo isso, lado a lado, para mostrar a "simultaneidade do não-simultâneo", como explica o diretor da Galeria Nacional Antiga, Peter-Klaus Schuster. Exposições temporárias, instaladas em pequenos gabinetes, interrompem o fluxo da mostra permanente, aumentando ainda mais a sensação de descontinuidade.

Conflito político - A história do acervo da Galeria Nacional é pontuada pelo conflito entre o programa político nacionalista, preocupado em estabelecer um paradigma da arte puramente alemã, e a postura cosmopolita de certos diretores e curadores, interessados em abrir as portas do museu para correntes estrangeiras. Hugo von Tschudi, diretor do museu de 1896 a 1909, desafiou o Kaiser para conseguir comprar uma das coleções mais antigas do Impressionismo francês. No entanto, nem os bombardeios de 1945, responsáveis pela destruição de 70% da Ilha dos Museus, foram tão fatais como o expurgo cultural nazista, que - através de sua campanha contra a "arte degenerada", desde 1937 – destruiu toda a coleção de arte de vanguarda, que hoje deveria estar na Nova Galeria Nacional, instalada no edifício de Mies van der Rohe.

Modernização - A Galeria Nacional Antiga reúne a coleção que havia ficado em Berlim Oriental e a "Galeria do Romantismo", abrigada até então no Museu de Charlottenburg. As perdas do acervo durante a guerra e a diferente evolução das coleções em Berlim Oriental e Ocidental desaparecem por trás dos trabalhos de modernização do primeiro museu a ser completamente restaurado na Ilha, cartão de visita da nova Berlim reunificada. O evento simbólico promete ofuscar por algum tempo todo o conflito em torno do financiamento da restauração da Ilha dos Museus, uma prioridade da política cultural do atual governo alemão.