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Pegida expõe divisão social e "deve ser levado a sério"

Naomi Conrad (md)6 de janeiro de 2015

Reações a passeatas "anti-islamização" mostram que tema imigração divide população alemã. Cientistas políticos defendem comissão nacional para promover a diversidade.

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Foto: picture-alliance/dpa/Hendrik Schmidt

Horas antes de uma nova marcha contra uma suposta "islamização" da Alemanha reunir cerca de 18 mil pessoas nesta segunda-feira (05/01) em Dresden, no leste do país, cientistas políticos se reuniram na cidade para alertar para um fenômeno "que deve ser levado a sério".

O movimento Pegida (sigla em alemão para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente") revela um racha cada vez mais profundo na sociedade alemã, opondo aqueles que acolhem os migrantes e aqueles que os demonizam, argumentou o etnólogo Werner Schiffauer, da Universidade Viadrina, de Frankfurt ao Oder. Ele preside o Conselho para as Migrações (RfM, na sigla original), uma rede de 79 pesquisadores dedicados ao assunto.

Desde que as passeatas semanais do Pegida começaram, em outubro, elas têm atraído cada vez mais pessoas em Dresden. Nesta segunda-feira, o número de participantes foi recorde: cerca de 18 mil. Marchas menores também ocorreram em outras cidades alemãs. Algumas, porém, foram bloqueadas por manifestações contrárias, como em Colônia, Berlim e Munique.

Num manifesto publicado em dezembro, o Pegida declara ser a favor do direito de asilo para refugiados de guerra e aqueles que enfrentam perseguição política. O movimento também se diz a favor da "resistência a uma ideologia política violenta e misógina, mas não contra os muçulmanos integrados que aqui vivem" e exige uma "política de tolerância zero contra os requerentes de asilo e imigrantes ciminosos".

Flüchtlinge willkommen!
"Refugiados são bem-vindos!": marchas do Pegida são acompanhadas por manifestações contráriasFoto: picture-alliance/dpa

Preconceito generalizado

Para o sociólogo Andreas Zick, da Universidade de Bielefeld, o Pegida é sintomático de uma ideia equivocada sobre a imigração, amplamente difundida entre os alemães. Segundo ele, cerca de 40% dos alemães estão convencidos de que aqueles que solicitam asilo mentem, dizendo sofrer perseguição em seus países.

"Mais da metade dos alemães entrevistados numa pesquisa recente se disse contra a construção de uma mesquita em sua vizinhança", lembrou a cientista social Naika Foroutan, da Universidade Humboldt, de Berlim. Na mesma sondagem, 40% dos consultados afirmaram que somente aqueles que têm pais alemães podem ser considerados alemães de verdade.

Os pesquisadores concordam ser uma tarefa difícil lidar com ideias desse tipo. "Não há soluções rápidas", afirmou Schiffauer, acrescentando que pessoas com pouco ou nenhum contato com estrangeiros e migrantes tendem a ter visões mais extremistas.

Comunicação falha

Os analistas defendem a criação de uma comissão nacional, formada por cientistas políticos, membros da sociedade civil e políticos, para elaborar uma diretriz nacional que "abrace a diversidade" e influencie os currículos escolares. Eles ressaltam que diretrizes semelhantes resultaram numa mudança positiva no Canadá e nos EUA.

Outros concordam que comunicação é fundamental. O presidente da Associação Alemã de Municípios, Gerd Landsberg, disse que a principal forma de combater o Pegida é através de uma estratégia de comunicação melhorada. Até agora, segundo ele, as autoridades alemãs se dedicaram muito pouco a explicar por que refugiados trocaram países devastados pela guerra, como a Síria, pela Alemanha. "Se você deixar claro que esses refugiados escaparam por pouco da morte, ninguém terá objeções [a que eles fiquem]."

Neujahrsansprache Angela Merkel 2015
Em mensagem de Ano Novo, Merkel pediu que os alemães rejeitem o Pegida e acolham refugiadosFoto: Reuters/Maurizio Gambarini

Em muitos casos, prefeitos foram avisados às vésperas que requerentes de asilo estavam sendo transferidos para suas comunidades. "Nesses casos, eles não têm tempo suficiente para se comunicar adequadamente com a população local."

Pegida tem aprovação de muitos

Uma recente pesquisa de opinião constatou que um em cada oito alemães participaria de uma marcha "anti-islamização" caso ela fosse organizada em sua cidade. Realizada pelo instituto de pesquisa Forsa e publicada na quinta-feira passada pela revista Stern, a sondagem também revela que 29% dos entrevistados acreditam que a influência do islã sobre a vida na Alemanha é tão forte que as marchas são justificadas.

Mas, numa contundente mensagem de Ano Novo, a chanceler federal Angela Merkel pediu que os alemães rejeitem o Pegida, rotulando seus membros de "racistas cheios de ódio". A Alemanha deve acolher as pessoas que fogem de conflitos e de guerras, afirmou Merkel.

Alguns dos membros de seu parceiro de coalizão, a União Social Cristã (CSU) – agremiação conservadora da Baviera aliada à União Democrata Cristã (CDU) –, podem ter menos escrúpulos em relação ao Pegida. "Estou preocupado que partes da CSU possam se deslocar para a extrema direita, partindo do princípio de que não deve haver nenhum partido à direita deles", afirmou Schiffauer. "Isso seria fatal."