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É bom comer inseto, diz pesquisador

Brigitte Osterath (cn)17 de maio de 2014

Para especialista, problema não é o gosto, mas percepção que se tem sobre os insetos. Geralmente associados à sujeira, grilos, gafanhotos e larvas podem ser apreciados em muitas receitas. Tudo depende do preparo.

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Foto: Georgios Angelou

Uma das medidas para combater a fome proposta pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) é o consumo de insetos. Para alguns pesquisadores, esses animais são considerados o alimento do futuro e possuem um enorme potencial para garantir a segurança alimentar do planeta.

E para promover os insetos como alimento humano e ração animal, a FAO e a Universidade de Wageningen, na Holanda, organizaram a conferência Insetos para Alimentar o Mundo, que começou nesta quarta-feira (14/05), em Wageningen, e vai até este sábado.

A DW entrevistou Arnold van Huis, pesquisador de insetos da Universidade de Wageningen e um dos organizadores do evento. Ele e dois colegas escreveram um livro de receitas em que insetos são o ingrediente principal. Para Van Huis, gafanhotos e grilos podem ser muito gostosos – tudo depende da maneira como são preparados.

DW: Professor Van Huis, o senhor come insetos?

Arnold van Huis: Sim, cerca de uma vez por semana. Na Holanda, várias lojas vendem insetos e também dá para comprar pela internet. Vendem-se gafanhotos liofilizados [processo de desidratação no qual os alimentos são primeiro congelados e, em seguida, a água é retirada sem passar pelo estado líquido] e dois tipos de tenébrios, que são larvas de besouros [também conhecidas como bichos da farinha].

Qual é o inseto que o senhor mais gosta?

Gafanhotos e grilos, mas eles ainda não são vendidos no mercado holandês.

Como é o sabor dos insetos?

É como frango ou carne de gado: sem tempero, a maioria das pessoas não acha a carne saborosa. Insetos também precisam ser preparados corretamente, é preciso fazer algo de bom com eles. Por exemplo, grilos ficam muito gostosos fritos.

Qual é a melhor maneira de temperar insetos?

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Assim como na carne bovina ou de frango, sabor de insetos depende do preparo, defende Van HuisFoto: Fotolia/imkenneth

Com um pouco de sal, tomate e cebola, por exemplo. Eles podem ser branqueados ou moídos e acrescentados a todos os produtos possíveis.

E qual é a consistência? Os insetos são crocantes ou macios?

No momento, a maioria dos insetos que existe no mercado são liofilizados e, portanto, crocantes. Por enquanto, essa é a única forma de conservá-los por um longo período. Mas esse método custa caro, e não é o mais recomendável para o futuro. Seria melhor apenas congelá-los.

Mas gafanhotos não são sempre duros por causa do exoesqueleto, independentemente do método de conservação?

Depende de quando são pegos. Logo após o nascimento, eles ainda são moles. Duas ou três semanas depois, ficam bem duros e não recomendo o consumo.

Por que insetos são considerados uma fonte alimentar para o futuro?

Atualmente, mais de 70% da área agrícola é usada para a pecuária. Se a demanda por carne dobrar, precisaremos de outras fontes de proteína, e insetos são nutricionalmente semelhantes à carne – ou até melhores.

E são bons para o meio ambiente?

Sim. Insetos produzem menos gases do efeito estufa e amoníaco. Além disso, eles transformam o que comem em peso corporal de forma muito eficiente, provavelmente por serem animais de sangue frio. Eles não precisam de comida extra para manter sua temperatura corporal. Para cada quilograma de carne bovina são necessários 25 quilogramas de ração e, em contrapartida, para cada quilograma de grilo, apenas dois de ração.

Qual inseto é a fonte alimentar mais promissora?

Há mais de 200 espécies de insetos comestíveis, mas nem todos podem ser criados em fazendas. Teremos de fazer isso no futuro, para que possamos produzi-los em grande quantidade. No Ocidente, são consumidos basicamente grilos, gafanhotos e tenébrios.

Mas a maioria das pessoas não consegue se imaginar comendo insetos...

Não, mas isso depende da percepção e dos sentimentos. É um fenômeno psicológico. O problema não é o gosto dos insetos, podemos prepará-los de maneira muito saborosa.

Como o senhor pretende convencer as pessoas a comer insetos?

Primeiro precisamos informá-las sobre os insetos. Dizer, principalmente, que não é perigoso comê-los. Muitas pessoas associam insetos à sujeira. Além disso, a gastronomia precisa oferecê-los em pratos saborosos.

Existem restaurantes que possuem insetos no cardápio?

Sim, por exemplo, o restaurante Noma em Copenhague, que há duas semanas foi eleito o melhor do mundo. Eles têm insetos no cardápio. Com frequência, cozinheiros copiam receitas de chefes de cozinha famosos. Esperamos que algum dia haja programas de televisão que mostrem receitas com insetos. Na Holanda, já temos um programa assim. E, quando for o momento, a mentalidade e a percepção mudarão bem rápido.