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Editor da revista "Titanic" defende capa sobre o Islã na edição de outubro

21 de setembro de 2012

Segundo Leo Fischer, intenção da revista é fazer piada com a ex-primeira-dama Bettina Wulff. Governo alemão eleva medidas de segurança no exterior.

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Foto: picture-alliance/dpa

A mão direita de um homem barbudo de turbante ergue um punhal. Já a mão esquerda segura a ex-primeira-dama Bettina Wulff, a esposa do ex-presidente alemão Christian Wulff. Essa montagem de fotos deve ser a capa da edição de outubro da revista satírica alemã Titanic. O título, adiantou a imprensa alemã, será "O Ocidente em convulsão: Bettina Wulff grava filme sobre Maomé".

O editor-chefe da publicação, Leo Fischer, diz não acreditar que essa sátira a dois temas muito discutidos da atualidade possa inflamar ainda mais os ânimos em países muçulmanos. "Pelo contrário. Acredito que esse título é uma contribuição para o esfriamento da situação no mundo árabe", diz Fischer, com um ligeiro tom de ironia, que manteve durante a maior parte da entrevista à Deutsche Welle. "Eu li o Alcorão várias vezes. O Alcorão não proíbe fazer piadas sobre Bettina Wulff."

De acordo com Fischer, satirizar a primeira-dama é a real intenção da revista. "É sabido que Bettina Wulff tem feito de tudo para vender o seu novo livro", afirma Fischer. A ex-primeira-dama lançou recentemente um livro de memórias. "Nós tememos que Bettina Wulff entre agora na onda do anti-islamismo e grave um filme anti-Islã barato e mal produzido", argumenta o editor-chefe da publicação, sempre em tom de ironia. Ele disse ainda não ter decidido se a capa terá uma imagem do profeta Maomé.

Preocupação com a violência

Autoridades alemãs estão preocupadas com o aumento da violência por parte de muçulmanos irritados com a representação de Maomé em filmes e revistas. O ministro do Exterior, Guido Westerwelle, disse que o governo elevou as medidas de segurança nas embaixadas e consulados localizados nos países em que houve protestos violentos.

UN-Generalversammlung Guido Westerwelle
Westerwelle: não se deve dar motivos para muçulmanos radicaisFoto: UN

Estão previstas manifestações também na Alemanha. Muçulmanos que vivem na cidade de Freiburg querem sair às ruas para protestar contra a maneira como o profeta Maomé está sendo representado na mídia ocidental. A polícia calcula que 800 pessoas vão participar da marcha e espera que a manifestação transcorra sem incidentes.

No centro da cidade de Münster, uma associação quer protestar sob o lema "Contra filmes na internet que são ofensivos às religiões". De acordo com uma pesquisa feita pela agência de notícias alemã DPA, também estão planejados protestos em Hannover e em Cuxhaven.

Quanto à edição planejada pela revista Titanic, Westerwelle alertou contra novas provocações que poderiam dar servir de pretexto para a violência por parte de muçulmanos radicais. "Liberdade de expressão não é a liberdade para ofender, insultar ou difamar fiéis de outras religiões", disse o ministro, acrescentando que liberdade pressupõe responsabilidade. "O livre pensador não é aquele que agora, por motivos bem diversos, joga mais lenha na fogueira".

O presidente do Departamento Federal de Proteção da Constituição, Hans-Georg Maassen, também disse estar preocupado com possíveis casos de violência na Alemanha, apesar de não ver "perigo concreto". "Mas o potencial de emocionalização entre os salafistas é muito grande", alertou.

Segundo ele, se o filme anti-Islã tiver exibições públicas no país ou caricaturas de Maomé foram vistas em jornais alemães, não se pode descartar que ações violentas ocorram na Alemanha ou contra alemães no exterior.

Só pra aumentar as vendas?

Para o editor-chefe da revista Titanic, o temor de reações violentas não é motivo para voltar atrás, mesmo que a capa da publicação seja mal interpretada ou usada para inflamar novos protestos contra o Ocidente. "Isso certamente é assim. Há agitadores políticos que fazem isso", disse ele. "Mas não é possível evitar isso deixando de fazer tais publicações [satíricas]."

Os agitadores políticos sempre encontrarão um motivo para criar protestos, diz o editor-chefe da Titanic, agora de forma sincera e sem ironia. "Não serve para nada colocar uma mordaça em si mesmo. Mesmo se fizéssemos isso, seria inútil, pois essas pessoas sempre encontram um motivo", argumenta.

Críticos dizem que é a Titanic que está tentando lucrar com a onda anti-islâmica, elevando as vendas da revista. "Se isso acontecer, lamentamos, mas aceitamos", comenta Fischer. A Titanic já acumulou boas experiências este ano com temas religiosos na capa. A controversa capa com o papa Bento 16, em julho, deu à revista um aumento de circulação de 70%.

Titanic Satirezeitschrift
Com o Papa na capa, revista teve aumento de 70% de vendas em julho desse anoFoto: picture-alliance/dpa

Autor: Wulf Wilde (fc)
Revisão: Alexandre Schossler