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Quando a comunidade monitora a floresta

Mariana Santos31 de outubro de 2013

Levantamentos feitos a partir de instrumentos simples, como fitas métricas e estacas, podem produzir dados mais precisos do que equipamentos modernos. Estudo defende maior engajamento de moradores de áreas de mata.

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Foto: Degi Harja/World Agroforestry Centre

A fim de garantir informações precisas e confiáveis sobre reserva de carbono em áreas verdes, a participação das comunidades que vivem em florestas tropicais no processo de monitoramento da região é essencial. Usando instrumentos simples, como fitas métricas e estacas, eles conseguem obter resultados ainda melhores e mais próximos da realidade do que especialistas utilizando equipamentos de alta tecnologia, como satélites.

Esta é a conclusão do estudo Monitoramento comunitário para Redd – promessas internacionais e realidades em campo, desenvolvido pelo Centro Mundial Agroflorestal (Icraf, da sigla em inglês). Os 22 cientistas envolvidos chegaram ao resultado a partir de pesquisas feitas em 289 áreas verdes no sudeste da Ásia – como florestas baixas na Indonésia, florestas tropicais na China e florestas de monção no Laos e no Vietnã. Acompanhados por técnicos, moradores dessas localidades contaram árvores, mediram diâmetros de troncos e calcularam a quantidade de biomassa por hectare.

Os pesquisadores depois compararam as medidas com as que haviam sido coletadas pelos especialistas com ajuda de computadores. Os resultados corroboram uma tendência entre pesquisadores ao ressaltarem que, devidamente treinados, moradores de pequenas comunidades e de baixa escolaridade conseguem ir a campo e monitorar com sucesso a biomassa de florestas.

O levantamento das reservas de carbono em uma área verde é importante para que especialistas possam, com base na biomassa preservada, incluir na contabilidade das emissões de gases estufa as liberações evitadas acom a redução do desmatamento. Este é o conceito da chamada Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (Redd).

O ecologista finlandês Finn Danielsen, coordenador da pesquisa, vai além. Para ele, a falta de engajamento local pode fazer com com que levantamentos sobre as reservas de carbono corram sérios riscos de não resultarem em medidas concretas.

"Você pode ter todo tipo de pesquisa numa área, mas se você não envolver os membros da comunidade, será muito difícil transformar toda o monitoramento em medidas reais para a floresta. Pois há um grande risco de não haver um link entre o monitoramento e o manejo floresta", assinala Danielsen, ecologista na Fundação Nórdica do Meio Ambiente e Desenvolvimento, em Compenhague. "E o principal ponto é manejar florestas para que as árvores sejam preservadas."

Icraf WWF
Comunidades da Indonésia precisam buscar o equilíbrio entre explorar e preservarFoto: Endri Martini/World Agroforestry Centre

Alternativa a dados oficiais

Danielsen ressalta que existem iniciativas em vários países, como Quênia e Índia, que envolvem produtores locais. No entanto, segundo o estudo – o primeiro a fazer um levantamento quantitativo sobre a participação comunitária no Redd – quase metade dos projetos relacionados a dados sobre reservas de carbono em florestas ignora a participação dos moradores locais. Estima-se que cerca de 240 milhões de pessoas vivam em florestas tropicais em países de desenvolvimento atualmente.

Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), florestas tropicais representam hoje 15% da superfície terrestre e contêm cerca de 25% de todo o carbono contido na biosfera terrestre.

"Nós descrevemos o que é densidade florestal, explicamos técnicas de medição e o que queremos obter com elas", explica a pesquisadora Subekti Rahayu, analista do Icraf que conduziu o trabalho de campo na Indonésia e no Vietnã. Segundo ela, muitos dos locais já tinham trabalho para empresas florestais, por isso já contavam com alguma experiência em levantar dados sobre árvores.

Subekti destaca que as principais dificuldades em campo estão relacionadas à falta de conscientização da população, especialmente entre os mais jovens, sobre a necessidade de preservação do ambiente em que vivem. "Eles vivem um dilema. Eles querem conservar a área, porque querem ter água limpa, por exemplo, mas por outro lado eles precisam tirar dinheiro de algum lugar para viver", avalia.

Além do efeito positivo na preservação das áreas, para Danielsen o engajamento das comunidades pode ainda se converter em fonte de renda para a população, que oferece sua mão de obra. Além disso, o monitoramento por parte das populações pode ainda servir como um contraponto para validar os levantamentos feitos pelos governos, já que dependendo do país a credibilidade dos dados sobre as florestas pode ser questionada.