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Com Syriza no poder, gregos esperam dias melhores

Joanna Kakissis (Mp)27 de janeiro de 2015

Partido do premiê Alexis Tsipras conseguiu capitalizar insatisfação dos muitos cidadãos que não escondem a impaciência com a estagnação econômica e esperam que novo governo ceda menos às imposições dos credores.

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Foto: Reuters/Y.Behrakis

Em cinco anos, o Syriza foi de um pequeno partido sem grande expressão à primeira força política antiausteridade a vencer uma eleição na Europa. Liderada pelo carismático líder Alexis Tsipras, agora primeiro-ministro, a legenda soube canalizar a insatisfação popular dos gregos com os planos de resgate bilionários e as condições impostas ao país em troca de ajuda financeira.

As imposições da chamada troica – União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu – tiveram efeitos severos sobre a economia grega, transformando a recessão em depressão profunda: o país perdeu um quarto de sua produção econômica; mais de 25% dos gregos estão desempregados; e metade das famílias vive perto ou na própria linha de pobreza.

Panagiota Kontogianni, uma servidora pública, diz que compreende porque as pessoas votaram no Syriza, mesmo existindo sinais de que a economia esteja melhorando. Houve superávit primário, uma projeção de que a economia voltaria a crescer neste ano.

Ela votou no Nova Democracia, partido conservador que liderou a coalizão no governo durante 2012. Diz que gostaria de estabilidade, mas admite que muitos cidadãos perderam as esperanças.

“Você não tem o suficiente para comer, ou não tem eletricidade. Até quando você vai aguentar, um mês, um ano, dois anos? Eles perderam a paciência”, conta.

A arqueóloga Electra Kanellou diz que passou os últimos quatro anos temendo o futuro. “Estou vivendo com medo de que alguma coisa possa acontecer, de que eu vá perder meu emprego, e que talvez por isso eu tenha que me mudar da Grécia. Eu acho que isso é a principal coisa: medo. Estou sempre com medo de algo”, diz.

Electra votou no Syriza porque o partido prometeu devolver o poder para as pessoas, não para os bancos. Ela acredita que a Grécia perdeu a sua soberania para os credores internacionais desde o pacote de resgate de 2010.

“Fora troica”

O economista alemão Jens Bastian, que mora em Atenas, lembra que o novo governo do Syriza ainda terá de negociar com os credores. Muitos parlamentares do partido, recém-eleitos, dizem que vão “expulsar a troica do país”.

Syriza Unterstützer Feier 25.01.2015 Athen Transparent Merkel
Apoiadores do SyrizaFoto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

“Trata-se de uma declaração bastante desafiadora. Isso exige a seguinte questão: se você não negociar com a troica significa que a troica é persona non grata em Atenas? Se a resposta for sim, e vários representantes do Syriza dão esta resposta, então a próxima questão é: ok, você vai negociar? Quem é o seu parceiro para negociar? Quem vai sentar do outro lado da mesa? Quem tem a autoridade para entrar em qualquer solução ou numa grande barganha?”, questiona Bastian.

Negociar com a Europa deve ser mais difícil agora que o Syriza vai governar com o Gregos Independentes – um partido da direita nacionalista que descreve os alemães como “ocupantes”, evocando os nazistas da Segunda Guerra Mundial. No entanto, os dois partidos aparentemente têm um pouco mais em comum do que serem contrários à austeridade.

A aliança pode incomodar os esquerdistas europeus, que estavam em êxtase com a vitória do Syriza no domingo à noite. Militantes do “Podemos” – o movimento emergente antiausteridade, que lidera as pesquisas de intenção de voto na Espanha – flertam com os comunistas italianos e gregos.

Mas os líderes do Syriza se mantêm afastados, pelo menos agora, da tempestade ideológica que pode resultar desta parceria. Eles parecem tentar se concentrar no que precisa acontecer neste momento.

“O maior problema na Europa agora é a deflação, e a razão pela qual o Banco Central Europeu decidiu migrar para algum tipo de 'afrouxamento monetário quantitativo' para abordar o problema”, diz Mathaios Tsimitakis, repórter do Avgi, o jornal do Syriza.

Tsimitakis também prevê que os líderes europeus diminuirão a imensa carga da dívida grega: “Como sempre acontece na União Europeia, um acordo será alcançado. E o compromisso neste caso não será do Syriza e do Banco Central Europeu. É um compromisso entre os 27 Estados-membros, instituições europeias, e o novo governo na Grécia. Como esse compromisso será, eu realmente não sei. Mas eu sei que existe uma base, os limites, e a crise humanitária aqui é um deles.”

“Ninguém confia nos políticos”

No comício da vitória, no domingo à noite, Tsipras prometeu restaurar a dignidade e o respeito próprio do povo grego e ajudar aqueles que empobreceram devido à crise. Ele também prometeu lidar com as oligarquias do país e reprimir a corrupção endêmica no Estado.

Demonstrationen gegen die Troika in Südeuropa
Protesto contra a TroicaFoto: Reuters

Ilias Panteleakos, um estudante de engenharia naval, que lidera o movimento estudantil do Syriza, diz que isso é uma mensagem que estimula os jovens gregos:

“Algo muito importante para nós é o fim desta loucura de corrupção na Grécia. É muito importante. Nós somos um país europeu, e o Estado é tão corrupto que ninguém confia nos políticos nem nos mecanismos estatais. Um objetivo muito importante do Syriza é parar com isto e construir uma nova [relação] entre os políticos, o Estado e os cidadãos.”