1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Anistia aponta retrocesso nos direitos humanos sob Bolsonaro

29 de março de 2022

Novo relatório mundial da Anistia Internacional aponta que Brasil continuou a retroceder na educação, no meio ambiente e no combate à fome em 2021. ONG também destaca má-gestão do governo federal na pandemia.

https://p.dw.com/p/49C5n
Bolsonaro
"Bolsonaro respondeu à pandemia com um misto de negação, negligência, oportunismo e desprezo pelos direitos humanos", aponta relatórioFoto: UESLEI MARCELINO/REUTERS

O ano de 2021 foi mais um no "período prolongado de instabilidade e crise" que o Brasil vem atravessando, e foi marcado por milhares de mortes evitáveis na pandemia, agravamento das desigualdades e da fome, aumento das taxas de evasão escolar, violência policial e recorde de desmatamento.

O retrato sombrio está no relatório mundial da Anistia Internacional, que analisou a situação dos direitos humanos e individuais no ano passado em 154 países, divulgado nesta terça-feira (29/03).

O panorama global também é negativo: apesar da esperança de que 2021 representasse o ano em que o mundo superaria a pandemia de forma equitativa, o que se viu foi grande desigualdade na distribuição de vacinas. Além disso, alguns líderes nacionais usara a pandemia como desculpa para restringir a liberdade de expressão.

A secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard, resume o tom no prefácio do relatório: "2021 deveria ter sido um ano de cura e recuperação. Em vez disso, tornou-se uma incubadora de mais desigualdades e instabilidade."

No capítulo dedicado ao Brasil, a organização destaca que o governo federal não se comprometeu com a coordenação de respostas efetivas para a gestão da pandemia e, como consequência, "os grupos que sofrem discriminação histórica foram afetados de modo desproporcional pela emergência sanitária, que agravou a crise econômica e social, tornando suas condições de vida mais precárias".

""No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro respondeu à pandemia de Covid-19 com um misto de negação, negligência, oportunismo e desprezo pelos direitos humanos", aponta o relatório.

O relatório cita que, segundo o grupo Alerta, uma coalizão de ONGs, 120 mil mortes poderiam ter sido evitadas até março de 2021, e lembrou que em janeiro pessoas morreram no Amazonas em decorrência da falta de oxigênio nos hospitais. As maiores taxas de mortalidade por covid-19 foram entre pessoas negras e as que vivem em situação da pobreza.

O presidente Jair Bolsonaro, segundo a entidade, "continuou promovendo iniciativas contrárias às necessidades da maioria da população e prejudiciais ao meio ambiente e à justiça climática". E suas declarações, "que muitas vezes aviltavam defensores e ativistas de direitos humanos, também minaram a Constituição e a independência do Judiciário".

Fome e evasão escolar em alta

Outro problema grave de 2021 apontado pela Anistia Internacional foi o aumento da insegurança alimentar no país: segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar, a insegurança alimentar cresceu 54% desde 2018, e, em 2021, 19 milhões de pessoas, ou 9% da população, estavam em insegurança alimentar grave, quando há situação de fome.

A pobreza extrema, por sua vez, cresceu com a redução do auxílio emergencial, e atingia de forma mais grave as mulheres negras: 38% e 12,3% viviam em situação de pobreza ou de pobreza extrema, respectivamente, segundo dados citados no documento.

Na educação, o relatório chama a atenção para o aumento das taxas de evasão escolar em 2021, associado aos problemas do ensino remoto adotado durante a pandemia, como falta de acesso à internet e de equipamentos adequados. No ano passado, o Exame Nacional do Ensino Médio, de ingresso em instituições do ensino superior, registrou o menor número de candidatos em 13 anos.

A imprensa, os movimentos sociais e as ONGs passaram mais um ano sob ataque constante de Bolsonaro, e o presidente por diversas vezes tentou debilitar o Supremo Tribunal Federal e lançou dúvidas sobre o sistema eleitoral, aponta o documento.

Violência e recorde de desmatamento

A violência também chamou a atenção da Anistia Internacional, que mencionou a operação policial na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, em maio, que resultou na morte de 27 moradores e um policial, e a chacina no Complexo do Salgueiro, também no Rio, em novembro, que deixou nove mortos.

Um momento negativo para o combate à impunidade policial foi a absolvição, em agosto, de cinco policiais acusados de matar 13 pessoas na favela Nova Brasília, no Rio de Janeiro, em 1994, segundo o relatório. Além disso, o Brasil foi o quarto país com o maior número de assassinatos de líderes ambientais e defensores do direito à terra no mundo.

Além disso, 80 pessoas transgênero foram mortas no país apenas no primeiro semestre de 2021, e o número de estupros no primeiro semestre foi 8,3% maior do que no mesmo período de 2020. Foram registrados 666 feminicídios de janeiro a junho de 2021, o maior número no período desde 2017, início dos registros.

A Anistia Internacional destacou, por fim, que o Brasil também teve má resultados ambientais. Em agosto, a Amazônia brasileira teve a maior taxa de desmatamento para o mês de agosto em 10 anos, e houve aumento de incêndios na região amazônica e outros biomas.

"O que é chocante é que, para qualquer direção em que você olhe, houve retrocesso em relação ao cumprimento das obrigações de direitos humanos no Brasil", afirmou ao jornal Folha de S.Paulo a diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck. "A imagem do Brasil em 2021 é a de um país que emergiu como local de negligência, de violações de direitos humanos e de destruição do meio ambiente (...) É uma fotografia do pior que o Brasil é capaz de produzir."

bl (ots)