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Mercenários fora-da-lei?

21 de setembro de 2007

Chefe do serviço secreto alemão critica amplo uso de forças privadas de segurança em zonas de guerra. Tiroteio recente em Bagdá denuncia falta de "sensibilidade diplomática".

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Iraquianos vêem oficiais de empresas privadas norte-americanas como mercenáriosFoto: AP

Empresas privadas de segurança não estão tão expostas à vigilância internacional quanto tropas oficiais e por isso tendem com maior freqüência a quebrar a lei, afirma Ernst Uhrlau, presidente do Serviço Federal de Informações (BND) alemão, em Berlim.

A Alemanha não emprega empresas privadas de segurança em missões de paz, mas governos de diversos países ocidentais acabaram se tornando dependentes do setor privado para uma série de serviços, entre eles a preparação de alimentos, a análise estratégica e a segurança.

Mercenários fora-da-lei?

Um tiroteio envolvendo empregados da empresa estadunidense de segurança privada Blackwater deixou um saldo de 11 mortos, em um bairro de Bagdá, no último domingo (16/09). Contratados para garantir a segurança de diplomatas norte-americanos, eram vistos por muitos iraquianos como mercenários fora-da-lei, dispostos a atirar sem esperar por uma provocação.

O ministro do Interior do Iraque informou que suspenderá a licença da empresa e processará todos os empregados suspeitos de ter agido em descompasso com a lei. Além disso, o ministério revisará a situação de todas as empresas de segurança em operação no país.

Ernst Uhrlau, der neue Präsident des Bundesnachrichtendienstes
Uhrlau, presidente do BNDFoto: picture-alliance / dpa

Se os funcionários da Blackwater forem processados, "isso será um sinal duradouro para a indústria, a ser escutado não apenas pelo governo norte-americano", disse Uhrlau.

Guerra é negócio lucrativo

Estima-se que haja cerca de 125 empresas privadas de segurança em operação no Iraque. Segundo Uhrlau, "a confiança nelas está crescendo". Ele estima que o filão movimente mais de 70 bilhões de euros.

No entanto, alerta que é preciso aumentar o controle sobre companhias privadas atuando em zonas de conflito. "Há um amplo consenso de que é necessário criar um mecanismo de supervisão internacional para evitar a violação dos direitos humanos", avisa.

Governo não tem controle

Muitos países ocidentais enxugaram seu exércitos, preenchendo a lacuna através de empresas privadas empregadas na defesa de diplomatas, no treinamento de policiais e seguranças, na administração de penitenciárias e na prestação de auxílio em operações militares.

No entanto, em muitas delas falta transparência, de modo que os governos não têm como garantir que estejam agindo conforme a lei. Uhrlau alerta que, por mais que ofereçam um nível de eficiência característico do setor privado, companhias privadas não atendem aos interesses dos governos, mas sim aos de seus acionistas.

Além disso, "o emprego de forças privadas permite que o governo reduza o número de soldados mortos, reduzindo com isso a reação pública".

Entretanto, Uhrlau admite que há determinados casos em que os governos deveriam considerar o emprego de empresas privadas. Elas podem, por exemplo, prestar um ótimo serviço quando se trata de manter a segurança a curto prazo, de modo a permitir a reconstrução de uma região abalada por uma guerra. Mas nunca deveriam ser contratadas para operar em conflitos de longo prazo, que exigem um alto nível de sensibilidade diplomática.

"A Alemanha possui uma posição própria", disse, lembrando que o país, por princípio, não faz uso de serviços privados em missões de paz no exterior. (rr)