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HistóriaAlemanha

Berlim diz adeus a seus trens da antiga Alemanha Oriental

Scott Roxborough
12 de novembro de 2023

Fãs têm última chance para andar nos queridos modelos 485, apelidados "latas de Coca-Cola", antes da aposentadoria. Modernos para a época em que foram lançados, serão trocados por trens mais eficientes e confortáveis.

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Trem vermelho e amarelo da S-Bahn em meio a bosque nevado
Trens do modelo 485 estão em operação desde o início da década de 90 Foto: Andreas Greif/DB AG

Os berlinenses costumavam chamá-los de "latas de Coca-Cola". Os vagões da série 485 passaram décadas emitindo seus ruídos típicos nos trilhos na rede da S-Bahn, em Berlim. Agora os últimos 22 trens antigos, originalmente encomendados e construídos na República Democrática Alemã (RDA), quando um muro dividia a cidade em duas, estão de partida. Neste domingo (12/11), os 485s farão suas últimas viagens pela cidade antes de serem aposentados.

A Alemanha está modernizando toda a rede ferroviária da Deutsche Bahn, como parte de uma iniciativa para tornar as viagens de trem mais eficientes no consumo de energia e cumprir as metas climáticas.

As mudanças chegam em boa hora para os usuários, que há muito tempo reclamam que a reputação da Alemanha de ter trens bons e pontuais vem sofrendo, com atrasos e cancelamentos frequentes e um equipamento antiquado, lento e que quebra com frequência.

Tecnologia pioneira

Mas, na década de 70, quando a Deutsche Reichsbahn da Alemanha Oriental encomendou os 485s pela primeira vez a uma fábrica em Hennigsdorf, a noroeste de Berlim, os trens "latas de Coca-Cola" traziam tecnologia de ponta.

Registrados em Berlim Oriental como série 270 (e mais tarde rebatizados de 485), os vagões ostentavam uma lataria de alumínio leve e um sistema de frenagem de última geração que recupera energia e gera eletricidade para o próprio trem.

Os modelos passaram por alguns testes no final da década de 80, mas, quando a frota completa estava pronta para circular, já era início da década de 90. O Muro de Berlim havia caído e o processo de Reunificação alemã estava em andamento. Os vagões recém-pintados atravessariam não apenas o setor oriental de Berlim, mas toda a cidade.

Trem da S-Bahn Berlim em meio a paisagem de inverno
Trens tinham inovações para a época em que foram lançados, como sistema de frenagem que recupera energiaFoto: Robert Schlesinger/dpa/picture alliance

A frota passou por algumas mudanças desde então, incluindo uma no estilo, já que, a partir de 2002, a tonalidade carmesim brilhante dos carros deu lugar à icônica combinação de vermelho bordô e ocre da S-Bahn de Berlim. Além das mudanças estéticas, o 485 mostrou-se notavelmente robusto. Berlim havia planejado eliminá-los em meados da década de 2000, mas só começou a substituí-los de fato pelos novos modelos 483 e 484 no ano passado.

Falhas de design

Os antigos 485s têm motores muito mais fracos do que os novos modelos, além de algumas falhas de projeto, como um sistema de ventilação resfriado a ar vulnerável a flocos de neve, que podem passar pelas fendas e derreter, danificando os componentes eletrônicos.

Os trens mais novos usam canais separados para resfriar os componentes eletrônicos no chassi, protegendo-os do clima externo. Os novos modelos também são mais acessíveis para cadeiras de rodas. Os modelos 485 deixavam um pequeno espaço entre a plataforma e o trem, enquanto as versões mais recentes ficam niveladas com as plataformas das estações.

O sopro da morte definitivo do 485 veio com a introdução de um sistema de segurança de trem controlado remotamente que facilitou o monitoramento da velocidade e a frenagem em caso de emergência. Os trens antigos são incompatíveis com o novo sistema, portanto tiveram que ser descartados.

Trem da S-Bahn parado em estação
Os novos trens, modelo 484, que estão sendo adotados na rede da S-Bahn de BerlimFoto: Maurice Tricatelle/Zoonar/picture alliance

Esteticamente, o 485 também revela sua idade. Em forma de bloco, com para-brisas planos no vagão do condutor, os trens têm um visual antigo em comparação com a elegância e alta tecnologia da nova série 484, que a S-Bahn de Berlim comparou a um "rápido iPad".

"Os trens, equipados com ar-condicionado, monitores modernos e tecnologia de câmera, oferecem maior conforto, capacidade e confiabilidade aos nossos passageiros", disse Peter Buchner, diretor administrativo da S-Bahn de Berlin, ao anunciar a desativação da série 485. "Após 36 anos de serviço, podemos dizer adeus à série 485, para sua merecida aposentadoria."

Despedida oficial

A S-Bahn Berlin fará uma despedida dos 485s em grande estilo.

Neste domingo, a cada hora das 9h57 às 13h57, quatro trens 485, vindos de todas as direções, irão se encontrar na estação Schöneweide e ficarão lado a lado para uma homenagem silenciosa. Após os quatro "encontros", dois trens deixarão a rede. Os outros dois farão uma viagem final, transitando em direções opostas ao longo da linha circular de Berlim, a Ringbahn, e irão parar uma vez na estação Beusselstrasse antes de seguir até seu destino final em Schöneweide. Horário de chegada planejado: 15h17min.

História alemã nos trilhos

A história do modelo 485 acompanhou a transformação da Alemanha após a Reunificação.

A fábrica na qual os trens foram construídos recebeu o nome de Hans Beimler, um político comunista e combatente da resistência nazista que escapou da prisão no campo de concentração de Dachau e foi um herói louvado pela RDA.

Após a queda do Muro de Berlim, a fábrica, que produzia de tudo, de trens elétricos a eletrodomésticos e móveis de jardim, foi dividida e vendida. A divisão de trens foi absorvida pelo grupo alemão AEG antes de ser comprada pelo grupo canadense Bombardier. Ao longo desse processo, a maioria dos funcionários da fábrica foi demitida.

Para comemorar a desativação dos últimos 485s, a S-Bahn de Berlim está vendendo várias centenas de assentos dos trens, dando aos assentos de estofamento espesso uma segunda vida como mobília ou lembrança para os entusiastas de trens.

E nem todos os vagões virarão sucata. Berlim planeja manter um modelo 485 intacto. Ele será doado ao Museu Alemão de Tecnologia para fazer parte de sua exposição permanente.