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Tunísia quer formar governo apartidário após assassinato de opositor

7 de fevereiro de 2013

Esquerdista Chokri Belaid (pôster) foi morto na quarta-feira. Era um conhecido crítico do governo da Tunísia, liderado pelos islamitas do Ennahda. Novo governo, formado por tecnocratas, deverá preparar novas eleições.

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Tunisian protesters shout slogans during a rally outside the Interior Ministry to protest against the assassination of Tunisian opposition leader and outspoken government critic Chokri Belaid (poster) on February 6, 2013, in Tunis. The protesters, who massed on Habib Bourguiba Avenue, epicentre of the 2011 uprising that ousted former dictator Zine El Abidine Ben Ali, pelted the police with bottles and the police responded by firing tear gas, chasing the protesters and beating them with batons. AFP PHOTO / FETHI BELAID (Photo credit should read FETHI BELAID/AFP/Getty Images)
Tunesien Unruhen Protest Ermordung Chokri BelaidFoto: AFP/Getty Images

A Tunísia está em choque com o assassinato do opositor de esquerda, Chokri Belaid. E entretanto a política está em alvoroço.

Belaid era um conhecido crítico do governo tunisino, que é liderado pelos islamitas do Ennadha. Depois do assassinato do político, o primeiro-ministro tunisino, Hamad Jebali, anunciou que vai formar um novo governo, apartidário, formado por tecnocratas. O novo Executivo deverá preparar caminho para novas eleições no país, a serem realizadas tão depressa quanto possível.

Esta quarta-feira (06.02), o assassínio do opositor Chokri Belaid fez com que milhares de pessoas fossem para as ruas protestar. Muitas chegaram a entrar em confronto com a polícia em várias cidades tunisinas.

A correspondente em Tunes, Sarah Mersch, descreveu o cenário em frente ao hospital para onde o corpo de Belaid foi levado na capital do país do norte africano que foi o primeiro a protagonizar o movimento de protestos populares que acabou ficando conhecido como Primavera Árabe, há dois anos atrás.

Hamad Jebali, primeiro-ministro tunisino, anunciou que vai formar novo governo
Hamad Jebali, primeiro-ministro tunisino, anunciou que vai formar novo governoFoto: AFP/Getty Images

Cerca de mil pessoas juntaram-se ali. Homens e mulheres, idosos e estudantes choravam a morte do opositor político, que foi morto a tiro à saída de casa. Os autores do assassínio, ainda desconhecidos, dispararam cinco tiros para a cabeça e para o peito do político.

"Somos todos tunisinos. De direita ou de esquerda, é indiferente. A Tunísia não é assim. Não é possível que aconteça uma coisa destas no nosso país", indignou-se uma manifestante.

Ameaças de morte

É a primeira vez que um político é morto a tiro na Tunísia desde os anos 50. Na noite antes do seu assassínio, Belaid tinha alertado para a possibilidade de assassinatos políticos num talk-show na televisão tunisina. Ele próprio recebeu várias ameaças de morte.

Muitos políticos da oposição também se juntaram frente ao hospital. Iyed Dahmani, deputado do partido de centro-esquerda Al Joumhouri responsabiliza indiretamente a coligação governamental pelo assassinato: "Este é um assassinato político, um golpe contra a revolução [de finais de 2010]", constata Dahmani.

Tunísia quer formar governo apartidário após assassinato de opositor

"São responsáveis aqueles que durante meses ignoraram a violência política. Cada vez que fazíamos avisos, eles diziam 'eles são os nossos filhos, temos de entrar em diálogo com eles'. Hoje vemos que este diálogo com os fundamentalistas islâmicos e extremistas conduz a assassinatos políticos", acrescenta.

Durante a tarde de quarta-feira (06.02), vários milhares de pessoas reuniram-se frente ao Ministério do Interior em Tunes: "Água e pão, mas Ennahda não" clamaram os manifestantes, lembrando os slogans da Revolução de há dois anos na Tunísia. Os manifestantes pediam a demissão do governo e a convocação de uma greve geral.

"Este governo está a levar-nos para um beco sem saída", disse um dos manifestantes. "Votámos nele, porque pensámos que são justos. Mas em vez disso só estão interessados nos seus cargos. Deus proteja o nosso país."

Alertas contra nova ditadura na Tunísia

Chokri Belaid era um dos mais duros críticos do governo liderado pelo Ennahdha. E alertou vezes sem conta para os perigos de uma nova ditadura. Em cooperação com outros partidos da oposição, o político de 47 anos fundou no ano passado a Frente Popular, a terceira maior forca política na Tunísia, segundo sondagens.

O professor universitário Mohammed Souissi conhecia Belaid desde os tempos de estudante. E ainda está a tentar perceber o que aconteceu. "Belaid trouxe novas ideias. Era um homem do povo, um político corajoso, que se tornou desconfortável para o Ennahdha e para os salafistas. Era um homem que fazia as pessoas pensar e é isso que a Tunísia precisa. Agora, o país está a acordar", afirma.

Chokri Belaid, conhecido opositor do governo liderado pelo Ennahda, terá se tornado desconfortável para o partido no poder
Chokri Belaid, conhecido opositor do governo liderado pelo Ennahda, terá se tornado desconfortável para o partido no poderFoto: by-sa/Rais67

Autores: Sarah Mersch/GCS/ap/dpa
Edição: Renate Krieger

Manifestantes tunisinos foram às ruas em várias cidades do país do norte africano: temores de uma nova ditadura
Manifestantes tunisinos foram às ruas em várias cidades do país do norte africano: temores de uma nova ditaduraFoto: AFP/Getty Images