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Tensão acentua-se antes das eleições no Congo

21 de novembro de 2011

A República Democrática do Congo prepara-se para um duplo escrutínio, presidenciais e legislativas, a 28 de novembro. Joseph Kabila enfrenta uma oposição dividida. E os analistas receiam a violência pós-eleitoral.

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Com o sufrágio a aproximar-se na RDC aumenta também a tensão
Com o sufrágio a aproximar-se na RDC aumenta também a tensãoFoto: AP

Os apelos à realização de eleições serenas na República Democrática do Congo, um gigante africano ainda fragilizado por duas guerras (1996-1997 e 1998-2003), têm-se multiplicado nas últimas semanas após confrontos violentos entre apoiantes dos onze candidatos que se apresentam às urnas. A CENI, Comissão Nacional Eleitoral Independente, rejeitou mexer na data do sufrágio apesar das queixas de várias associações de defesa dos direitos do homem, que gostariam de o ver adiado porque nem todas as condições, nomeadamente logísticas, estão reunidas.

Mais de dezoito mil candidatos disputam os 500 lugares no Parlamento e onze apresentam-se na corrida presidencial. O clima político que antecede as eleições preocupa os observadores, uma vez que a oposição acusa o presidente cessante Joseph Kabila, no poder há dez anos, de ter criado as condições para a sua reeleição utilizando os meios do Estado.

Para o politólogo David Zounmenou, do Instituto de Estudos de Segurança (ISS), em Pretória, “Kabila tem poderes de um presidente cessante e portanto grandes meios para mobilizar o povo congolês na sua campanha eleitoral”. Por outro lado, salienta Zounmenou , “ele conseguiu reenquadrar o espaço político congolês ao criar leis que foram feitas para lhe facilitar a tarefa, como por exemplo não haverá uma eleição com duas voltas, mas sim com uma que ele conta ganhar”.

O analista David Zounmenou do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) em Pretória
O analista David Zounmenou do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) em PretóriaFoto: Institute for Security Studies

A situação política alterou-se no leste da RDC

Todavia, Joseph Kabila não terá a vida facilitada, porque a oposição mesmo dividida, continua a beneficiar da insatisfação popular que marcou o mandato presidencial que chega ao fim. “A oposição insiste que a Comissão Eleitoral Independente é dirigida por um amigo próximo de Kabila e que portanto desconfia da sua transparência”.

David Zounmenou aponta que a “situação política se alterou no leste da RDC onde Kabila, gozava de apoio total, mas com a entrada na corrida de Vital Kamerhe, tudo ainda não foi jogado. Mas, insisto, Kabila tem grandes possibilidades enquanto presidente cessante de ganhar essa eleição”.

Riscos pós-eleitorais

Uma imagem de uma assembleia eleitoral em 2006
Uma imagem de uma assembleia eleitoral em 2006Foto: AP

Para além de Vital Kamerhe, um outro candidato, Etiénne Tshissekedi, de 78 anos, antigo primeiro ministro de Joseph-Desiré Mobutu, e um veterano da política congolesa também goza de muita popularidade, nomeadamente na capital, Kinshasa.

Segundo David Zounmenou, Tshisekedi pode receber o apoio daqueles que pensam que Vital Kamerhe (antigo aliado de Kabila e muito popular no leste do país) realmente pode não ter um papel importante nessa eleição.

“Tshisekedi na verdade é um candidato sério. Agora resta saber se os dois principais candidatos irão aceitar, qualquer que seja o resultado, o veredicto das urnas e não provocar desordens, instabilidade e violência pós-eleitoral”.

Contudo, existem indícios que inquietam tanto a população como a comunidade internacional sobre o que se passará no período pós eleitoral.

“Tshisekedi vê a multidão que o acolhe nas suas deslocações enquadradas na campanha eleitoral e pensa que já foi eleito Presidente da República. E se o resultado da eleição for diferente do que espera, poderá optar por actos de violência”, explica David Zounmenou.

Por outro lado, Joseph Kabila “não pensa perder as eleições. Ele fez tudo para permanecer no poder. Portanto considero o desafio crítico para a consolidação da paz na RDC. Mas qualquer que seja o resultado deste escrutínio, acredito que existe um potencial risco de violência. A comunidade internacional deve estar preparada para qualquer eventualidade”.

Autor: António Rocha/ Helena de Gouveia
Edição: Madalena Sampaio