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"Só nós podemos trazer a mudança", diz ativista angolano

António Cascais27 de março de 2013

Um grupo de jovens angolanos prepara uma nova manifestação para o dia 30 de março. Os jovens pedem à população para sair às ruas de Luanda e protestar contra o desaparecimento de dois ativistas em Angola.

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Jovens protestam em Luanda contra irregularidades no processo eleitoral em Agosto de 2012Foto: picture-alliance/dpa

O denominado Movimento dos Jovens Revolucionários condena o desaparecimento de Alves Kamulingue e Isaías Kassule, quando participavam num protesto na capital angolana, Luanda, a 27 de maio de 2012. Além disso, o movimento reivindica "uma Angola livre de ditadura, opressão, exclusão social e neocolonialismo" e rejeita também um país "onde os ricos cada vez ficam mais ricos e os pobres cada vez ficam mais miseráveis".

Mbanza Hamza tem 27 anos e é um dos porta-vozes do movimento. Em entrevista à DW África, o ativista explicou as razões deste novo protesto e aproveitou para pedir aos jovens angolanos para saírem às ruas a 30 de março:

Mbanza Hamza
Jovem ativista angolano, Mbanza HamzaFoto: privat

DW África: Porquê a nova manifestação?

Mbanza Hamza (MH): Apelo a todos os jovens e cidadãos para participarem. Quanto mais sairmos à rua e fizermos exigências, mais os detentores do poder vão mudar e ver que são reclamações puramente humanas. Então, vamos acreditar: só nós mesmos poderemos trazer a mudança que queremos. E vamos começar a construí-la agora.

DW África: Quais são as vossas principais reivindicações?

MH: Desta vez, o tema da manifestação é "direito à vida e liberdade de quem pensa diferente". Há dois ativistas desaparecidos há dez meses, mas há também casos que datam de há muito mais anos. É o caso de Ricardo de Mello, assassinado em 1995, de Mfulupinga N'landu Victor, um político que foi assassinado em 2004, ou de um jornalista da Rádio Despertar [Alberto Tchakussanga], que foi assassinado em 2010 – é uma lista de vítimas de que ninguém fala. Então, desta vez, a nossa maior reivindicação é pedir para que se respeitem as divergências.

DW África: Tem medo que se volte a assistir a cenas de repressão, à semelhança do que aconteceu noutras manifestações?

MH: Todos nós temos medo. Mas vamos ter medo até quando? A nossa determinação é mesmo ir à rua. Cumprimos com a lei, demos a conhecer [a manifestação] ao Governo provincial, por meio de uma carta. Mas vamos continuar a ser o que sempre fomos – pacíficos.

Demonstration in Benguela Angola
Polícia de intervenção dispersa grupo de manifestantes em Benguela, em março de 2012Foto: DW

DW África: Qual a evolução no caso do desaparecimento dos dois ativistas, Alves Kamulingue e Isaías Cassule?

MH: Na última reunião que tivemos com o ministro do Interior e outros servidores públicos, eles garantiram-nos que abriram um inquérito e começaram a falar com os familiares. Mas depois a coisa parou – dois meses depois não aconteceu nada. Aliás, esta manifestação vem no seguimento daquilo que já aconteceu em Dezembro [a 22 de dezembro de 2012, os jovens angolanos já tinham protestado em Luanda para exigir uma explicação oficial sobre o paradeiro dos dois ativistas angolanos]. Não vemos quase nada, exceto essas promessas de "vamos investigar".

DW África: As mudanças que vocês desejam terão de ser conquistadas pelos próprios angolanos ou os países estrangeiros terão também uma quota-parte da responsabilidade para fazer valer essas mudanças?

MH: As nossas reivindicações devem ser conquistadas primeiramente pelos angolanos. A imprensa internacional tem-nos ajudado, mas queremos que as nossas vitórias sejam conquistadas fundamentalmente pelo nosso povo.

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