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RENAMO: "Há lições a serem tiradas das eleições em Angola"

29 de agosto de 2022

O maior partido da oposição em Moçambique, a RENAMO, diz que há lições que devem ser tiradas das eleições angolanas de 24 de agosto, tanto pelos partidos como pelos eleitores - a começar pelo controlo dos votos.

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Delegados dos partidos políticos angolanos acompanham o processo eleitoral no bairro da Cuca, em Luanda
Foto: Manuel Luamba/DW

O maior partido da oposição em Moçambique é peremptório: as eleições angolanas devem servir de lição para Moçambique.

O porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), José Manteigas, elogia o "envolvimento profundo" dos angolanos nestas eleições e chama os moçambicanos a fazerem o mesmo em 2024.

"A lição que Moçambique deve tirar é esta: não basta dizer que a RENAMO não controla o processo de votação, quando o próprio cidadão, a população, não faz parte da solução do problema. A sociedade tem de se envolver", disse.

Uma agente da polícia angolana e manifestantes após o encerramento das eleições gerais em Luanda, agosto de 2022
Nestas eleições em Angola, movimentos da oposição apelaram aos eleitores para "votarem e sentarem", para controlar os boletins de voto. Alguns aderiram à campanha (foto de arquivo)Foto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

A "repressão da polícia"

Manteigas diz que os moçambicanos têm vontade de controlar os seus votos, como fizeram os angolanos, mas enfrentam ainda repressão da polícia, como já aconteceu no passado.

"Se não houvesse uso abusivo da polícia, nós não teríamos tido aquele massacre que aconteceu em 1999, por exemplo, quando a RENAMO protestou de forma mais robusta perante aqueles resultados, mas houve uma chacina de cidadãos", acrescentou. 

Outra lição para o principal partido da oposição em Moçambique, diz Manteigas, é a união de movimentos da oposição e da sociedade civil angolana pela alternância política. A RENAMO afirma que já fez isso e nunca negou uma coligação. Mas é preciso que as formações políticas tragam ideias, acrescenta o porta-voz: "Qual é a mais valia que o partido "A" traz? E o número de membros que vai trazer?", questiona.

"É muito constrangedor uma coligação em que não há mais-valia, não há um valor acrescentado; mas nem por isso a RENAMO se fecha a uma união", assegura.

Dércio Alfazema, do Instituto para a Democracia Multipartidária
Dércio Alfazema, do Instituto para a Democracia MultipartidáriaFoto: Romeu da Silva/DW

Observadores eleitorais

O Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), esteve em Angola na qualidade de observador. Dércio Alfazema, diretor de programas da ONG, destaca a divulgação em tempo útil dos resultados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE).

"Em menos de 24 horas já tinham sido contabilizados, e a CNE estava a divulgar resultados equivalentes a mais de 90% das mesas. Isso é importante para reduzir a desconfiança, a tensão e reforçar a transparência", explicou.

O analista chama ainda a atenção para a possibilidade de os partidos libertadores na África Austral passarem para a oposição. Segundo Alfazema, é isso que se nota em Angola com as abstenções de membros do MPLA.

"É preciso que os partidos dominantes nesta região em África - os partidos libertadores - revejam a sua postura, a forma como lidam com o cidadão, com o país, com o dossier do Estado e com os eleitores, para que não prevaleça a imagem, que tende a crescer, de que são partidos cada vez mais distantes", alerta.

Angola Wahl 2022
Neste cartaz, João Lourenço, presidente reeleito pelo MPLA Foto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

"Clivagens internas" no MPLA

À televisão privada STV, parceira da DW África, Tomás Salomão, chefe de observadores da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder), admitiu que as abstenções dos membros do MPLA penalizaram o partido por causa de clivagens internas.

Segundo ele, essa deve ser uma lição para o MPLA. "É preciso continuar a boa governação, o combate à corrupção, mas [também] é necessário trabalhar mais na inclusão, para que os desfavorecidos se sintam mais protegidos", disse. 

O analista Tomás Vieira Mário elogia a organização dos partidos políticos durante a campanha eleitoral em Angola, sobretudo na divulgação dos respetivos manifestos.

"Houve uma grande qualidade de informação pública, acho que nós temos muito que aprender sobre isso. Em termos qualitativos, podemos nos organizar, e creio que aí Angola deu-nos uma boa lição", afirmou.