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Moçambique: Mulheres desconhecem direito ao aborto

Jovenaldo Ngovene (Tete)
28 de setembro de 2023

A implementação não adequada da lei do aborto, aprovada há dez anos, coloca em perigo a vida das mulheres, alerta a sociedade civil. O aborto clandestino é a quinta causa de mortalidade materna em Moçambique.

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Mulher grávida
Foto: Alessandro Biascioli/Imago Images

A lei que prevê o aborto seguro nas instituições hospitalares em Moçambique foi aprovada em 2014 e começou a ser implementada em 2017. Mas há barreiras que, até hoje, dificultam a sua implementação de forma efetiva, alerta o Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC) em Tete.

O aborto clandestino é considerado a quinta causa de mortalidade materna em Moçambique. O facto preocupa tanto o Governo, como os seus parceiros e a sociedade civil. Para fazer face a este problema, após prolongados debates, as autoridades optaram por despenalizar a interrupção voluntária da gravidez, em 2014.

Falta de informação

Volvidos dez anos, a sociedade civil na província central de Tete afirma que persistem vários desafios, como a fraca divulgação de informação para as comunidades e a falta de recursos para a expansão e disponibilização dos serviços. Nos 15 distritos que compõem a província, com mais de 150 unidades sanitárias, apenas uma minoria disponibiliza o aborto. A burocracia e a morosidade do processo agravam a situação.

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Por conta destas barreiras, o CESC, organização que trabalha na supervisão dos serviços de saúde, constata que continuam a ocorrer casos de aborto clandestino em números elevados. Segundo a gestora provincial do centro, Kalida Silva, o que mais preocupa é a existência de profissionais que omitem informações acerca do serviço público gratuito para poderem efetuar cobranças ilegais.

Profissionais de saúde abusam da situação

A responsável critica a atitude incorreta por parte de alguns profissionais da saúde, que demonstra uma "falta de deontologia e ética".

Apesar das dificuldades, o número de mulheres que recorre às unidades sanitárias para o aborto tem estado a aumentar graças à legalização, afirmou à DW África Isaltina Lucas, responsável pela área de saúde materno-infantil na direção provincial de saúde em Tete. Só no primeiro semestre do ano, 1286 mulheres beneficiaram destes serviços.

Hospital de Tete, Moçambique
Há profissionais de saúde que cobram ilgalmente pelo abortoFoto: Jovenaldo Ngovene/DW

Perigo de vida

Mas muitas outras continuam em perigo, devido à falta de informação, avisa Lucas. Desconhecendo os seus direitos, muitas mulheres recorrem ao aborto clandestino, "e este aborto periga a vida da mulher".

O Centro Internacional para a Saúde Reprodutiva está a desenvolver um projeto de aborto seguro nos distritos de Cahora Bassa, Mágoe, Angónia e Changara. Para a responsável do projeto na província, Sónia Roia, é preciso aproximar mais os serviços às comunidades mais remotas: "Uma das queixas tem a ver com as distâncias. As pessoas até podem ter acesso à  informação, mas não ter transporte para se deslocar à sede distrital, a fim de ter acesso aos serviços".