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Lei de petróleo não agrada sociedade civil em Moçambique

Nádia Issufo4 de abril de 2013

Em Moçambique o CIP, diz que a Lei de petróleo, ainda em revisão, responde aos interesses das empresas petrolíferas, mas não satisfaz as demandas da sociedade civil. A ONG questiona vários aspetos, como a transparência.

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Navio-plataforma Saipem 10K que efetua pesquisas de hidrocarbonetos em Cabo-Delgado, Moçambique
Navio-plataforma Saipem 10K que efetua pesquisas de hidrocarbonetos em Cabo-Delgado, MoçambiqueFoto: ENI East

No seu serviço der partilha de informação pública do mês de março o Centro de Integridade Pública (CIP) questiona alguns aspetos relativos, por exemplo, a transparência, conflitos de interesses, e  consulta pública. A DW África entrevistou William Telfer, jurista moçambicano especializado em direito para gás e petróleo, para conhecer melhor a lei e saber até que ponto ela contém lacunas e omissões.

DW África: A quem satisfaz realmente a lei em revisão?

William Telfer: Primeiro, as empresas de petróleo procuram sempre ter uma lei de petróleo que lhes favoreça. Os lobbies dessas empresas a nível mundial são muito fortes. Então, é difícil as petrolíferas não terem influência nas leis. Segundo, há uma característica de países emergentes na área de petróleo, como Moçambique, por exemplo, Angola acaba de sair desta fase, e onde se constata uma ausência do regulador porque o poder político mantém nas suas mãos o controle sobre a indústria de petróleo. O Governo nunca pode ser um regulador. O Governo faz leis e normas, mas não é por excelência um órgão técnico que possa regular uma indústria tão complexa como a indústria de petróleo e gás.

DW África: E Moçambique está em condições de não aceitar as pressões das empresas petrolíferas?

WT:  Claro que sim. É só ver agora qual é o movimento da CTA, a Confederação das Associações Económicas. Na sua conferência anual do setor privado, há um mês, teceu duras críticas pela ausência de empresas moçambicanas na indústria de petróleo. Isto já é uma pressão ao Governo, e com a participação dos moçambicanos os internacionais têm menos voz activa. Isto significa que Moçambique está em condições de impor regras que possam favorecer não só ao Governo, mas a todas empresas privadas que atuem nesta área no país.

As comunidades das zonas de prospeção de hidrocarbonetos quase passam despercebidas na discussão dos seus interesses
As comunidades das zonas de prospeção de hidrocarbonetos quase passam despercebidas na discussão dos seus interessesFoto: DW/G. Sousa

 DW África: O CIP questiona no seu serviço de partilha de informação aspectos como concorrência nas concessões, transparência, propriedade das empresas, conflitos de interesses. Como ficam os interesses nacionais? Estão salvaguardados?

WT: Até agora, a versão comentada pelo CIP, de julho de 2012, não salvaguarda os interesses das comunidades locais. E gostaria que a lei de petróleo estipulasse certos critérios sobre como as comunidades devem ser compensadas e indemnizadas caso a indústria de petróleo queira instalar-se na sua zona. Penso que a compensação deveria ser diretamente proporcional ao valor que vai ser produzido a partir daquela terra.

DW África: Por exemplo, o CIP diz que a versão final da lei inclui de novo a opção de negociações diretas ou simultâneas, nos termos do artigo 5, o que constitui um retorno para a lei de 2001. No geral, apesar da lei estar ainda a ser revista, ela abre espaço ou não para corrupção e falta de transparência?

WT: Neste aspecto em particular, acredito que o CIP não fez o seu trabalho de casa. A única hipótese que o Governo tem de fazer uma negociação direta é quando se atribui uma área em concurso público a uma empresa e ela desiste da área. Aí o Governo pode fazer uma negociação direta. Aqui o CIP “estica um pouco a corda” para dizer que o Governo vai dar áreas para exploração de petróleo e gás a empresas de governantes. Acredito que isso nunca vai acontecer porque a lei de petróleo tem uma componente internacional muito grande. O Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e outras agências internacionais que têm financiado atividades de pesquisa e documentais na área de hidrocarbonetos e minas estão de olho em Moçambique. E os concursos lançados regem-se por regras internacionais, por isso não há abertura para corrupção, neste aspeto não concordo com o CIP.

Lei de petróleo não agrada sociedade civil em Moçambique