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Interesses das elites prejudicam economia moçambicana

4 de setembro de 2023

Especialistas previam em 2015 um desenvolvimento que beneficiaria a maior parte da população devido aos recursos naturais de Moçambique. Economistas não duvidam que regressão tem que ver com interesses da elite política.

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Mina de carvão em Tete
Foto: Estacio Valoi/DW

Há cerca de oito anos, havia quem acreditasse que o desenvolvimento económico de Moçambique iria beneficiar a maior parte da população graças à descoberta de recursos naturais.

Chegados a 2023, o que se verifica é o contrário. O Estado já nem consegue pagar a dívida interna, que se situa nos cinco mil milhões de dólares e está acima do Produto Interno Bruto (PIB).

O economista Elcídio Bachita aponta os culpados desta situação: "Existem dirigentes que a nível do Estado, ao nível do Governo usam o seu poder para servirem os seus próprios interesses e não para servir ao povo, razão pela qual existe este fosso elevado entre o pobre e o rico."

Estrela Charles, economista e investigadora do Centro de Integridade Pública (CIP)
Economista e investigadora Estrela CharlesFoto: Romeu da Silva/DW

Estrela Charles, economista e investigadora do Centro de Integridade Pública (CIP), aponta o dedo às elites. "Temos uma indústria extrativa que só beneficia os proprietários que têm as licenças de exploração que são pessoas também ligadas à elite política do nosso país e estamos a ver uma indústria extrativa que não beneficia diretamente a população" , critica.

Elcídio Bachita estranha que numa altura em que se registam cada vez mais pobres em Moçambique continuem a surgir milionários. "Continuamos com a maior parte da população pobre e a situação tem vindo a deteriorar-se a cada dia que passa porque o poder de compra está a baixar para a maior parte da população moçambicana", diz.

Mais ricos beneficiados

A economista Estrela Charles cita números das desigualdades entre ricos e pobres em Moçambique: "Os 10% da população mais pobre consomem apenas 0,9% daquilo que é produzido a nível de Moçambique e os outros 10% dos mais ricos consomem cerca de 43 %, significa que tudo o que nós produzimos beneficia aqueles que tem um rendimento mais alto."

O problema, diz Elcídio Bachita, passa pela fraca participação do empresariado nacional no setor extrativo.

"O que faz com que o Estado moçambicano tenha um menor poder de negociação em relação aos estrangeiros e as elevadas concessões de isenções ou incentivos fiscais faz com que o estado ou os moçambicanos não beneficiem da indústria extrativa, que tem registado um crescimento assinalável dentro da economia nacional", explica.

"Em termos de impostos, cobrar mais aos que têm e menos aos que não têm e poder tentar equilibrar. É o Estado que deve neste momento, com os impostos que cobra, criar condições nos setores sociais", sugere Estrela Charles.