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EducaçãoGuiné-Bissau

Guiné-Bissau: "Como é possível aprender sem professores?"

Djariatú Baldé
26 de fevereiro de 2024

Sucessivas greves, falta de professores, materiais escolares inadequados, infraestruturas em más condições e curriculum escolar desatualizado são algumas das queixas dos alunos ouvidos pela DW.

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Lehrerstreik in Guinea-Bissau
Foto: DW/Braima Darame

Os professores da Guiné-Bissau voltaram a entrar em greve esta segunda-feira (26.02). Exigem o pagamento de salários em atraso e reclamam da falta de condições de trabalho. É a segunda paralisação este mês. Mas não são só os professores que se queixam do estado das escolas e da educação no país. Os alunos também denunciam bastantes dificuldades. 

Hibraim Bacar Baldé, de 19 anos de idade, frequenta o ensino secundário numa das escolas públicas em Bissau e lamenta que "haja alunos no décimo ano que não sabem ler, nem escrever bem. Têm dificuldades em falar a língua portuguesa. E se alguém não compreende bem a língua portuguesa, como é que essa pessoa pode compreender a matéria?"

"Eu, enquanto aluno que estuda na escola pública, sinto dificuldades. Sinto-me diferente dos alunos que estudam nas escolas privadas, porque eles apreendem melhor do que nós", acrescenta.

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O aluno diz que, no seu liceu, o problema da falta de professores é particularmente grave. Sem professores, não é possível aprender as matérias e cumprir o programa letivo: "Eu sou aluno do 11º ano e não tenho professor de Geografia. Na nossa escola, um liceu com mais de 40 salas, temos falta de 17 professores em todos os níveis. Isso reflete-se na nossa aprendizagem."

Hibraim Bacar Baldé questiona: Como é possível que "a aprendizagem evolua" sem professores?

Impacto das sucessivas greves

As constantes greves dos professores, como a que começou esta segunda-feira, também afetam a aprendizagem dos alunos, afirma Flávio Cá, de 25 anos, que estuda noutro liceu público na capital. "Porque muitas das vezes, em comparação com as escolas privadas, nós ficamos mais penalizados. Ficamos sempre atrasados", afirma.

Nos últimos três anos, as escolas públicas quase não funcionaram. A pandemia desestabilizou o calendário escolar e as greves levaram a constantes interrupções. Em consequência, vários alunos foram para escolas privadas.

Flávio Cá quer candidatar-se este ano para a universidade, mas lamenta que os alunos não estejam a ter o ensino que precisam. Ainda há outro problema. "Não há uma uniformização das matérias nas escolas públicas", refere.

Dados do Governo indicam que 60 mil alunos saíram do sistema educativo. No interior do país, a situação é pior do que na capital. Muitos alunos abandonam as escolas ainda no ensino básico. Segundo a UNICEF, só 12% das crianças guineenses entre os 7 e os 14 anos têm competências de leitura.

"Elevar o bolo orçamental"

Em declarações à DW, a presidente da Confederação Nacional das Associações Estudantis da Guiné-Bissau (CONAEGUIB), Rosália Djedju, critica as "inconsistências" do Governo no setor da educação, a começar pela forma como trata os professores.

"Nós estamos a ter professores a trabalhar só por trabalhar. No fundo, não há um amor verdadeiro à educação, e isso acaba por complicar. É muito visível que a educação na Guiné-Bissau está muito mal. É necessário que o Governo trabalhe seriamente no setor educativo e uma das coisas que precisa fazer é resolver a situação dos professores."

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O Sindicato Nacional dos Professores da Guiné-Bissau (SINAPROF), que iniciou esta segunda-feira uma nova greve, alega que falta vontade ao Executivo para revolver os problemas que afetam o setor educativo, incluindo os salários em atraso e a falta de condições de trabalho.

Tiago Seide, jornalista e professor desde 2005, queixa-se do mesmo: "É preciso que sejam definidas as prioridades no domínio da educação e haja vontade política."

Priorizar a educação passa por "elevar o bolo orçamental" destinado ao setor, acrescenta Tiago Seide. De acordo com os últimos dados da UNICEF, relativos a 2024, a percentagem para a educação no Orçamento do Estado ronda os 10%.

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