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Cuando Cubango: Sobas contra exploração ilegal de madeira

Adolfo Guerra (Menongue)
9 de novembro de 2022

Líderes tradicionais no Cuando Cubango pedem mais fiscalização à exploração dos recursos naturais e responsabilização dos que praticam atos ilegais. Ativista considera que problema já nasce na concessão de licenças.

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Foto: Adolfo Guerra/DW

Domingos Cambinda é soba do bairro Mucoco, a mais de 60 quilómetros a norte de Menongue, capital do Cuando Cubango. Ele e vários outros líderes tradicionais dizem estar indignados pela forma como os exploradores de recursos naturais saem impunes perante os danos que causam à natureza.

"A madeira que têm cortado e transportado passa muitas vezes nas estradas da província com destino a outros pontos do país. Algum produto é interpelado pela polícia e, supostamente, mencionam o soba como cúmplice," relata.

"Mas quando acontece, em vez de o prenderem, não o fazem. A polícia também tem culpa. Em vez de irem investigar aquela pessoa, não o fazem," refere.

Chamar à responsabilidade

Ainda este ano, durante uma ação de campanha eleitoral no Moxico, o Presidente angolano e líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), João Lourenço, apelou aos órgãos competentes para penalizarem quem destrói as florestas.

"Os investidores que não estão a respeitar a lei, que estão a dar cabo das nossas florestas no Moxico, no Cuando Cubango e noutras partes do nosso país, devem ser seriamente desencorajados a não continuarem com estas práticas. Devem ser tomadas todo o tipo de medidas," declarou.

Presidente angolano, João Lourenço
Presidente angolano, João LourençoFoto: Alexander Nemenov/AFP/Getty Images

Autorização para desflorestar

Outra voz que se levanta contra a destruição das florestas é a do soba Avelino Cambinda, também chamado de Mwene Linenenga.

O líder tradicional conta que os exploradores dos recursos empunham autorizações do Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF) que lhes permitem cortar as florestas e sair impunes da exploração ilegal de madeira.

"Aqui tem madeira e tem diamantes. São coisas muito importantes para a nossa economia," afirma.

"Estas ordens saem sempre do Governo, porque quem está no local explorado não faz nada. Isso é o comportamento destes gatunos. São estes que roubam, como roubaram o dinheiro do Estado pela Casa Militar. É tudo a mesma coisa", diz Avelino Cambinda.

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Mwene Linenenga e vários líderes tradicionais estiveram reunidos na Conferência Regional do Sul sobre recursos naturais - realizada pela plataforma Tchota em Menongue, de 26 a 28 de outubro - e criticaram igualmente o que consideram ser a má-gestão dos recursos naturais.

Para o soba do bairro Hoji-Há-Henda, nos arredores de Menongue, é preciso criar um tribunal ambiental e "uma ordem superior, para que todos ajudemos o Presidente a levar [os que cometem crimes] até às barras do tribunal".

Alberto Viagem, ativista dos direitos humanos e diretor-geral da Associação Juventude Unida para o Desenvolvimento Sadio Sociocultural (AJUDSS), mostra-se preocupado com as consequências da destruição dos recursos naturais. Para Viagem, criar mais um tribunal seria engordar o Executivo. A melhor forma de resolver a questão seria fiscalizar e penalizar os prevaricadores, avalia.

"Entendemos o país que temos, a ânsia pela acumulação de riquezas e também a própria má fiscalização, em termos de controlo daquilo que é a coisa pública, porque as autoridades tradicionais que acompanham quotidianamente as questões da comunidade não têm como evitar que haja essas explorações anárquicas, porque lhes são apresentados documentos que legitimam o trabalho", explica o ativista.

"Agora, a nossa questão é como que certos empresários conseguem documentos para praticar serviços que são indevidos. Eles podem até terem sido legitimados a fazer aquele trabalho, mas a forma como fazem o trabalho não é a que convém", conclui.

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