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Crimes de guerra na Costa do Marfim serão investigados

5 de outubro de 2011

Procurador do Tribunal Penal Internacional recebe autorização para investigar crimes de guerra na Costa do Marfim, cometidos após as eleições de 2010. Quem reconhecer seus erros, poderá vir a ter alguns privilégios.

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Grace Konan (5 anos) foi um dos que fugiu após o início dos conflitos na Costa do MarfimFoto: AP

O procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) Luís Moreno-Ocampo está autorizado a abrir inquéritos sobre crimes contra a humanidade e crimes de guerra que teriam acontecido na Costa do Marfim, depois da eleição presidencial em novembro de 2010.

Porém segundo muitos analistas, a realização desses inquéritos é uma arma de dois gumes para o novo poder costa-marfinense: que espera desembaraçar-se dos rivais, mas poderá ver alguns dos seus apoiantes acusados de crimes violentos

Três mil pessoas mortas

Elfenbeinküste Amnesty International
Milhares de pessoas terão para sempre cicatrizes no corpo e na almaFoto: Amnesty International

O pedido foi apresentado por Moreno-Ocampo aos juízes do TPI, em Haia, no dia 23 de junho passado.

Segundo as Nações Unidas (ONU), três mil pessoas morreram vítimas da guerra civil iniciada após a recusa do ex-presidente Laurent Gbagbo de ceder o poder ao vencedor do escrutínio, Alassane Ouattara, hoje presidente da Costa do Marfim.

Alassane Ouatara solicitou no último mês de maio que o TPI se ocupe com os "crimes mais graves", enquanto a justiça costa-marfinense se encarrega dos crimes econômicos, crimes de sangue e contra a segurança do Estado.

Tribunal vai investigar

Funcionários do tribunal vão deslocar-se urgentemente à Costa do Marfim e quando forem recolhidas todas as provas necessárias, o procurador irá solicitar aos juízes mandatos de prisão.

Elfenbeinküste Amnesty International
Costa-marfinenses também deixaram o país em busca de sobrevivênciaFoto: Amnesty International

Apesar do porta-voz de Laurent Gbagbo, Justin Koné Katinan, ter denunciado a decisão do tribunal de Haia como algo sob influência do presidente Ouattara e da França, Sylvain Miaka Oureto, Presidente interino da Frente Popular marfinense, disse à Deutsche Welle que o campo de Gbagbo está satisfeito com o anúncio e que espera que os verdadeiros responsáveis pelos crimes sejam descobertos.

Miaka Oureto acredita que limitar o inquérito somente ao período pós-eleitoral seria reduzir para a metade o problema.

Inspiração na África do Sul

Elfenbeinküste Amnesty International
Refugiados em Abidjan, junho de 2011Foto: Amnesty International

O anúncio de abertura de um inquérito sobre os crimes cometidos na Costa do Marfim, no ano passado, ocorre uma semana depois da instalação da Comissão "Diálogo, a verdade e a reconciliação" (CDVR), um órgão encarregado de sarar as feridas provocados pelo conflito.

Para o advogado Doumbia Yacouba, vice-presidente do Movimento Marfinense dos Direitos do Homem, o TPI e a CDVR, inspirada na África do Sul, têm missões bem diferentes.

Na opinião dele, não há contradição porque o presidente Ouattara já disse várias vezes que a reconciliação deverá ser feita em paralelo com a justiça. "A criação da comissão não é incompatível com a procura da verdade", defende Yacouba.

A esperança é a última que morre

Para o primeiro exportador mundial de cacau, o processo de reconciliação é considerado vital para o restabelecimento da estabilidade política e a prosperidade económica na Costa do Marfim.

Alguns costa-marfinenses que reconhecerem os seus erros perante a CDVR poderão ser anistiados. Os que cometeram crimes considerados "muito graves" deverão ser julgados.

Autor: António Rocha
Edição: Bettina Riffel