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Crescimento forte, oposicão fraca - uma tentativa para explicar a vitória arrasadora do MPLA nas eleições legislativas em Angola

Um comentário de Johannes Beck8 de setembro de 2008

O MPLA venceu as eleições para o novo parlamento angolano com uma vitória esmagadora. Um comentário de Johannes Beck da Deutsche Welle sobre o resultado do escrutúnio em Angola.

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Comício do MPLA, partido do governo, na campanha para as eleições em AngolaFoto: picture-alliance/ dpa

Aproximadamente 20 por cento de crescimento económico neste ano e nos dois anos passados. Graças as receitas petrolíferas, Angola é a economia que mais cresce no mundo. Não consigo imaginar um governo a perder eleições numa situação dessas.

De facto o MPLA não poderia ter escolhido um melhor momento para realizar as tão esperadas, segundas eleições na história do país. Para o próximo ano há previsões de um abrandamento do crescimento económico. E o governo ainda está a colher os dividendos da paz. Recuperou nos últimos anos estradas, aeroportos e edifícios governamentais. As inaugurações culminaram num frenesim antes das eleições.

Para muitos angolanos a situação pessoal melhorou nos últimos anos. Muitos citam a paz como melhoria mais significante. E nestas circunstâncias, a falta da transparência sobre o destino de mil milhões de dólares das receitas petrolíferas não impediu este resultado para o MPLA. Muitos também não questionaram como a família do Presidente Eduardo dos Santos consegue investir milhões de dólares no estrangeiro e porque Angola apesar de tanta riqueza ainda apresenta a segunda maior taxa de mortalidade infantil no mundo.

Falta liberdade de imprensa em Angola

Porem, na minha opinião, as eleições não foram sem defeito. O governo usou os meios de comunicação do estado sem vergonha para a sua campanha eleitoral. Os partidos da oposição ficaram muitas vezes reduzidos apenas aos poucos minutos diários legalmente concedidos na TV e rádio pública. Nos noticiários reinavam no entanto as inaugurações feitas pelo Presidente da República.

A pior situação se vive fora de Luanda. Para além das rádios internacionais, ali quase não há meios de comunicação livres. Isto porque as rádios não controladas pelo MPLA – a Rádio Ecclésia e a Rádio Despertar – são impedidas de alargarem a sua área de cobertura para além da província de Luanda. A imprensa escrita também sofreu restrições. Dois editores de semánarios independentes foram postos no tribunal por causa de alegadas difamações e calúnias da primeira-dama respectivamente de ex-membros do governo.

Penso que num país realmente democrático o panorama dos meios de comunicação devia ser outro, devia ser realmente livre.

As fraquezas da oposição

Mas os partidos da oposição também ajudaram a cavar o seu túmulo. Passaram demasiado tempo com disputas internas e a lamentar a falta de financiamento em vez de melhorar os seus programas eleitorais. Mesmo assim, cada partido recebeu do Estado nada menos que um milhão de dólares – até em Angola isto representa bastante dinheiro. Mas muitos partidos nem conseguiram actualizar as suas páginas na internet antes das eleições – e isto se faz quase sem dinheiro.

Penso que se o MPLA realmente quer democracia, devia renunciar à tentação de alterar a constituição segundo o seu gosto com a nova maioria qualificada agora obtida. Devia permitir estações de rádio e televisão livres fora da província de Luanda. O MPLA também devia tornar transparentes as receitas petrolíferas. E finalmente devia realmente diminuir a pobreza absoluta em que ainda vive a maior parte dos angolanos.