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Cimeira no Uganda discute envio de uma força de intervenção ao leste do Congo

6 de agosto de 2012

República Democrática do Congo e o Ruanda sentam à mesma mesa para encontrar solução para os conflitos no Congo que opõe exército e rebeldes do Movimento 23 de março.

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Foto: Reuters

Começou nesta segunda-feira (6.08), na capital do Uganda, Campala, a Cimeira de dois dias para debater o conflito no leste da República Democrática do Congo. Uma desavença que opõe as tropas governamentais aos rebeldes do Movimento 23 de março, conhecido também pela sigla M23.

Porém as relações entre os vizinhos República Democrática do Congo e Ruanda passam por um momento difícil. No entanto, uma solução política e militar para o conflito no leste do Congo não é possível sem esses dois países. Conscientes disso, os chefes de Estado da região dos Grandes Lagos estão reunidos, até terça-feira (7.08), para discutir a constituição de uma força de intervenção conjunta.

Países com interesses diferentes

Em meados de julho, a Conferência Internacional dos Países dos Grandes Lagos (ICGLR), a qual para além do Congo e do Ruanda, pertencem ainda outros nove Estados africanos, decidiu em Adis Abeba criar uma força comum neutra. Se necessário com a ajuda da União Africana e ou das Nações Unidas. Agora, em Campala, esses planos deverão ser concretizados.

Mas os interesses contraditórios dos países tornam difícil implementar essa força, como explica Ilona Auer- Frege, da Rede Ecuménica da África Central. "É difícil conseguir sentá-los em torno de uma mesa. E para que cheguem a um acordo, estão sob pressão dos doadores internacionais."

A força de intervenção conjunta seria uma resposta ao avanço dos rebeldes do M23. Os rebeldes tem sob o seu controle grandes parte da província do Kivu Norte e ameaçaram tomar Goma, a estrategicamente importante capital provincial.

Conflitos no leste do Congo provocaram milhares de refugiados
Conflitos no leste do Congo provocaram milhares de refugiadosFoto: Reuters

Entenda o conflito

O governo congolês acusa o Ruanda de apoiar a rebelião – uma alegação que é sustentada por um relatório das Nações Unidas publicado em junho. O Ruanda, no entanto, rejeita qualquer acusação e considera tratar-se de uma conspiração. Segundo o Ruanda, os indícios apresentados nos relatórios dos peritos das Nações Unidas são insuficientes e tinham como objetivo servir de prova a uma opinião pré-concebida.

Mesmo assim, o Ruanda conseguiu fazer prevalecer, nas negociações da Conferência Internacional dos Países dos Grandes Lagos, que uma eventual força de intervenção deveria atuar não apenas contra o M23, mas contra "todas as forças negativas" no leste do Congo. O Ruanda se refere às milícias restantes da FDLR (Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda), um grupo rebelde ruandês hutu - grupo étnico responsável pelo genocídio de 1994.

O fato do Presidente do Congo, Joseph Kabila, ter pouco apoio no leste do país é um ponto a favor do Ruanda nas negociações. As tentativas de Kabila para entregar à comunidade internacional Bosco Ntaganda, procurado por um mandato de captura, tiveram consequências devastadoras. Bosco Ntaganda, que havia sido integrado nas Forças Armadas Congolesas (FARDC) depois de um acordo de paz em 2009, desertou, marcando assim o início do movimento rebelde, o M23. Este movimento tomou grandes parcelas do país e o exército congolês não ofereceu nenhuma resistência.

Kämpfe Ost Kongo Rebellen Flüchtlinge
Tropas congolesas travam batalhas com rebeldes do M23Foto: Reuters

Cortes na ajuda internacional

Contudo, após o relatório dos peritos da ONU, o Ruanda está sob crescente pressão. Os Estados Unidos, a França, a Holanda e a Alemanha, quatro dos principais doadores suspenderam a ajuda ao Ruanda. Sanções que não ficarão sem consequências, conforme comenta Ilona Auer-Frege:

"Nas negociações, o Ruanda deve demonstrar, pelo menos para fora, que está disposto a envolver-se e isso significa que o Ruanda já está ciente de que não pode mais operar de forma tão aberta e agressivamente, como eles têm feito nos últimos meses."

As quase duas décadas de conflito no Congo foram sempre determinadas pelos vários interesses nacionais dos países dos Grandes Lagos. Somente com a ajuda de alguns países vizinhos, incluindo o Ruanda, Uganda e Angola, Laurent Kabila pode por fim ao regime de 30 anos de seu antecessor, Mobutu, e tornar-se chefe de Estado.

Menos de um ano depois, esse casamento de conveniência desfez-se e com ele, o Congo. Nominalmente as negociações de paz para restaurar a unidade do Congo foram reatadas, todavia poucos beneficiam da segurança e de uma boa e forte estrutura no Congo.

Autor: Philipp Sandner / Helena Ferro de Gouveia
Edição: Bettina Riffel / António Rocha

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