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Chuvas e cheias já fizeram 40 mortos em Moçambique

25 de janeiro de 2013

40 mortos, milhares de casas destruídas e dezenas de milhares de famílias afetadas. Este é o último balanço dos danos causados pela época chuvosa que ameaça tornar-se uma das mais dramáticas na história do país.

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Chuvas e cheias já fizeram 40 mortos em Moçambique
Chuvas e cheias já fizeram 40 mortos em MoçambiqueFoto: Gerald Henzinger

Moçambique está a viver uma situação dramática, de autêntica calamidade natural, devido à combinação de cheias e a queda contínua de chuvas no interior do território nacional e nos países vizinhos a montante.

Pessoas empoleiradas em árvores ou em cima de casas horas a fio, clamando por socorro, fortes correntes de água que arrastam tudo por onde passam, infraestruturas como estradas e pontes destruídas e localidades sitiadas. Este é o cenário provocado pelas actuais cheias e chuvas em algumas regiões do centro e sul de Moçambique.

"Ainda temos pessoas que estão ou nas árvores ou em cima de casas e o resgate vai continuar", garante a administradora do distrito de Chibuto, na província de Gaza, Olinda Langa.

Cheias paralisam cidades

Só na quinta (24.01) e sexta-feira (25.01) foram resgatadas mais de oito mil pessoas em Chibuto. A região mais crítica na província de Gaza é a cidade de Chókwè, que ficou completamente inundada, paralisando a vida naquele local. 

Tal como em Chibuto, muitas pessoas permaneceram várias horas empoleiradas em árvores ou em cima de casas na quarta e quinta feira para fugirem à fúria das águas, enquanto esperavam ser resgatadas. São pessoas que se recusaram a abandonar as suas residências para locais mais seguros, preferindo manter-se junto das suas machambas e de outros haveres, apesar dos apelos das autoridades.

Na foto, de 2010, habitantes de Munamicua (Sofala), participam num exercício de prevenção de desastre, em caso de cheias
Na foto, de 2010, habitantes de Munamicua (Sofala), participam num exercício de prevenção de desastre, em caso de cheiasFoto: GIZ

Autoridades políticas estão no terreno

O primeiro-ministro, Alberto Vaquina, que partiu de Maputo no último domingo para percorrer as zonas atingidas pela calamidade, defende uma maior intervenção dos líderes comunitários e religiosos na mobilização das populações. "Poderiam ajudar-nos a vermos que tipo de mensagem é importante fazer chegar às comunidades, às famílias, às pessoas, para que elas percebam que estão numa situação em que podem morrer de um momento para o outro, quando a sua morte podia ser evitada", afirma Vaquina.

Nesta sexta-feira, o rio Limpopo transbordou e começou a inundar a planície e alguns bairros da parte baixa da capital provincial de Gaza, Xai Xai, a cerca de 200 quilometros de Maputo, esperando-se que as cheias atinjam o seu pico no fim de semana.

O Presidente da República, Armando Guebuza, trabalhou esta sexta feira nas zonas afectadas na província de Gaza, para se inteirar in loco da situação e transmitir uma mensagem de solidariedade e encorajamento. De acordo com Guebuza, "esta calamidade veio retardar o desenvolvimento sócio-económico nacional". As cheias, afirma, "deixaram um rasto de destruição de estradas, pontes, escolas, unidades sanitárias e sistemas de abastecimento de água".

O presidente cancelou mesmo a sua deslocação à Etiópia, onde deveria participar na Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana, no próximo fim de semana.

Mais meios para combater tragédia

No terreno, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais desdobra-se em operações de socorro nas províncias afectadas. O Director do Instituto, João Ribeiro, anunciou nesta sexta feira o reforço dos meios de socorro, adiantando que "vai ser iniciada uma operação de busca e salvamento com meios aéreos e marítimos para ver se retirarem as populações que ainda se encontram em cima dos telhados e das árvores".

Há cerca de 3 anos atrás, num exercício de prevenção, população de Munamicua ensaiava a evacuação da zona, em caso de inundações
Há cerca de 3 anos atrás, num exercício de prevenção, população de Munamicua ensaiava a evacuação da zona, em caso de inundaçõesFoto: GIZ

João Ribeiro explica que "essa é a missão a ser realizada hoje", a par do encaminhamento "de todos os recursos de assistência humanitária para os centros de acomodação, no sentido de minimizar o sofrimento da população".

Em alguns destes centros de acolhimento das vítimas das calamidades começam a ser reportados casos do registo de algumas doenças como diarreias e malária, afetando sobretudo crianças.

Chuvas devem continuar até Março

Muitas famílias perderam as suas culturas e todos os seus haveres. É o caso de Rosa Chivali, que contou à DW África que os moçambicanos perderam "muita coisa". "Por exemplo, eu, na minha machamba, tinha couve, repolho, pepino...mas tudo isso está dentro de água", relata.

As torres de transporte de energia de Moçambique para a África do Sul não escaparam ao mau tempo que se faz sentir, tendo afectado o fornecimento de energia aquele país vizinho.

Em Moçambique, a época chuvosa só termina no próximo mês de março. Até lá, prevê-se que o país continue a registar chuvas acima do normal em algumas regiões, o que poderá agravar ainda mais a situação de emergência, numa época chuvosa que, estando ainda a meio, ameaça vir a ser das mais dramáticas na história do país.

Autor: Leonel Matias (Maputo)
Edição: Maria João Pinto/ António Rocha

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