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Cabo Delgado "pode estar a caminhar para o descontrolo"

16 de fevereiro de 2024

Organização cristã ACN alerta para "relatos altamente preocupantes" de populações em fuga após novos ataques insurgentes no norte de Moçambique e alerta para agravamento de situação humanitária já muito precária.

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Foto de arquivo (2022): Famílias deslocadas de Impire, Metuge
Foto de arquivo (2022): Famílias deslocadas de Impire, MetugeFoto: Alfredo Zuniga/AFP

A organização cristã Ajuda à Igreja que Sofre (mais conhecida por ACN, na sigla em inglês) denunciou na quinta-feira (16.02) a fuga de missionários e outro pessoal ligado à Igreja Católica de alguns distritos de Cabo Delgado para a capital provincial, Pemba.

Na origem está o recrudescimento da violência insurgente no norte de Moçambique, que nos últimos dias causou várias mortes e danos materiais.

Paulo Aido, da ACN, teme um descontrolo da situação e alerta para dificuldades na assistência humanitária já precária na província.

DW África: Qual é a situação destas pessoas em fuga em Cabo Delgado?

Paulo Aido (PA): Os relatos que nós temos são preocupantes, pois traduzem aquilo que está a acontecer - uma série de ataques por parte dos grupos terroristas, em diversas aldeias. Em alguns casos, os relatos dão conta de que são ataques quase em simultâneo, em vários locais ao mesmo tempo, e com alguma violência, nomeadamente contra as estruturas da igreja. Em algumas aldeias, a igreja, a capela ou a casa do padre foram queimadas, bem como as estruturas administrativas que existiam nesses locais e também casas de pessoas. Há uma violência crescente.

Cabo Delgado: O conflito estará longe do fim?

Os relatos são muito preocupantes também pelas suas consequências no plano humanitário, que já é extremamente grave nesta região norte de Moçambique. Não podemos esquecer que Cabo Delgado é a região mais pobre de Moçambique, que é, por sua vez, um dos países mais pobres do mundo. Há também aproximadamente um milhão de deslocados.

Estes novos ataques vêm novamente provocar a fuga das populações, depois de um período de certa acalmia e de uma tentativa de regresso das populações às suas aldeias de origem. Neste momento, está a acontecer exatamente o inverso. E esta fuga das populações coincide com uma fase em que as organizações de apoio humanitário, como a Cáritas Diocesana de Pemba, estão com os armazéns vazios. Isto é uma situação duplamente preocupante.

Militares ruandeses em Afungi, Cabo Delgado, em setembro de 2022
Militares ruandeses em Afungi, Cabo Delgado, em setembro de 2022Foto: Camille Laffont/AFP/Getty Images

DW África: Havendo um vazio de segurança na província e até recomendações de governos como o de França aos seus cidadãos para que não permaneçam em Cabo Delgado, é viável para outras organizações continuarem a trabalhar na província nestas condições?

PA:  A Cáritas Diocesana de Pemba e a igreja, por exemplo, continuam presentes na região. Para organizações estrangeiras ou outras entidades ligadas ao apoio humanitário a situação pode vir a tornar-se muito preocupante. Esta informação da embaixada de França em Moçambique é um sinal claro do agravamento da insegurança nesta região. É preciso não esquecer que tem havido alguns confrontos entre os grupos insurgentes no norte de Moçambique, também com forças militares do exército de Moçambique e dos países que estão a dar apoio, e tem havido mortes por parte desses soldados.

A situação pode estar de alguma forma a caminhar para algum descontrolo e as consequências no plano humanitário são altamente preocupantes. Cabo Delgado não tem recursos para apoiar toda esta população que está de mãos completamente vazias e que precisa de ajuda para sobreviver no dia-a-dia.

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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