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Bombardeamentos e fome no Sudão

8 de agosto de 2012

O povo núbio aguarda ansioso as negociações de paz entre o Sudão e o Sudão do Sul. A região onde vive, ao longo da fronteira, encontra-se entre duas frentes desde a independência do sul. Enquanto isso, pessoas morrem.

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Foto: Bettina Rühl

A zona em questão passou a pertencer ao norte, embora os núbios desde sempre se tenham considerado um povo do sul. Porém a região é controlada pelo partido da oposição, o “Movimento de Libertação do Povo Sudanês”, SPLM-Norte. O que leva a bombardeamentos regulares de civis pela força aérea de Cartum.

As organizações de assistência retiraram-se do terreno e a situação para a população agrava-se diariamente.

No meio do fogo cruzado

A força aérea do Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, bombardeia a própria população. Um representante do governo rebelde de Gidel, Barabas Kuku explica que tenta resolver alguns problemas das pessoas da localidade. "Algumas querem ir para o outro lado da fronteira. Outros pretendem seguir para o Quénia ou outro lado qualquer".

Tornou-se praticamente impossível sobreviver nas montanhas da Núbia, região situada no vale do rio Nilo e atualmente partilhada pelo Egito e o Sudão.

Cavernas oferecem certa proteção contra as bombas sudanesas
Cavernas oferecem certa proteção contra as bombas sudanesasFoto: Bettina Rühl

Os pilotos das aeronaves que bombardeiam parecem apontar intencionalmente sobre as pessoas que aguardam em bichas a sua vez para tirar água do poço, ou guardam gado.

Já se tornou impossível contar o número de mulheres e crianças vitimadas por estes ataques. Muitas pessoas estão desistindo de cultivar as terras que lhes pertencem devido a alta mortalidade de camponeses, assassinados.

A população passa fome e a assistência internacional tornou-se impossível desde que o Presidente al Bashir fechou a única estrada que conduz do norte do país às montanhas. Deste modo, ele impede o fornecimento de ajuda humanitária. De qualquer forma, quase todas as organizações fugiram dos bombardeios.

"Fui atingida por uma bomba"

Os únicos que ainda não desistiram foram alguns padres e freiras de diversas ordens e da diocese de El Obeid. Esta mantém um hospital em Gidel. Os quartos estão atafulhados de camas. Ao todo são 300 leitos num edifício construído para 80.

Uma das camas é ocupada por uma jovem de 22 de nome Malda. Ela tem queimaduras graves no rosto, nos braços e nas pernas.

"Fui atingida por uma bomba. Quando veio o avião, estava na minha cabana. Tentei fugir com os meus filhos. Mas era tarde demais. Éramos cinco: os meus dois filhos, eu e mais duas mulheres. Os meus filhos e uma mulher tiveram morte imediata”.



O médico norte-americano, Tom Catena, que se ocupa dos pacientes no hospital, diz que nos últimos tempos viu muitas pessoas com queimaduras terríveis. Catena está convencido de que se trata de bombas incendiárias e não de armas convencionais. "Se não for napalm, é algo parecido."

Ataques aéreos tornaram o trabalho no campo muito perigoso
Ataques aéreos tornaram o trabalho no campo muito perigosoFoto: Bettina Rühl

Ele acredita existir um aditivo de combustível que provoca uma enorme bola de fogo", como ele explicou. "As queimaduras são mesmo terríveis. Estranhamente, todas as vítimas apresentam o mesmo padrão. É sempre nos dois braços, nas pernas, no rosto e nas costas.”

Numa das camas da pediatria está Cholda, de oito anos. Ele está coberto de queimaduras de terceiro grau. Não tem pele, está em carne viva. Djamila, de nove anos, é quadriplégica desde que foi atingida por um estilhaço ao pé do poço onde tinha ido buscar água. E Daniel Omar, de 15 anos, foi atingido quando guardava o rebanho: perdeu os dois braços.

Há muito mais vítimas como estas, resultado de uma guerra pensada para aterrorizar a população.

Autora: Bettina Rühl / Cristina Krippahl
Edição: Bettina Riffel / António Rocha

08.08 núbios Sudão - MP3-Mono

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