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Guiné-Bissau sem atenção internacional um ano após o golpe militar

Johannes Beck / Cristina Krippahl11 de abril de 2013

A 12.04.2012, um golpe derrubou o Governo eleito democraticamente e instalou no poder um executivo que se afirma de transição. Atenção da comunidade internacional voltou-se para outros focos de crise.

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Oficiais militares da Guiné-Bissau na capital do país, a 15.04.2012, alguns dias pós o golpe militar de Estado
Oficiais militares da Guiné-Bissau na capital do país, a 15.04.2012, alguns dias pós o golpe militar de EstadoFoto: Reuters

Na noite de 12.04.2012, militares em revolta invadiram à força a residência do primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior.

É com relutância que ainda hoje o chefe do Governo democraticamente eleito recorda aquela noite, como disse numa entrevista exclusiva à DW África alguns meses mais tarde: "A minha casa ficou totalmente danificada. Saquearam completamente a minha casa. Os mobiliários que não conseguiram abrir, abriram a tiro. Está firmado, está fotografado", lembra Carlos Gomes Júnior.

"Em todo país democrático, tem que haver justiça", constatou o antigo candidato presidencial, que concorria pelo partido governista PAIGC ao cargo mais alto do país em decorrência da morte por doença, em janeiro de 2012, do antigo presidente da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá.

Carlos Gomes Júnior, o primeiro-ministro destituído: poder civil não resistiu à vontade dos militares
Carlos Gomes Júnior, o primeiro-ministro destituído: poder civil não resistiu à vontade dos militaresFoto: Reuters

"E todos estes atos, eu vou traduzi-los à Justiça. Eu vou exigir que essa gente seja traduzida à Justiça", prometeu, na altura, Carlos Gomes Júnior, também conhecido como "Cadogo".

Estava prevista, para aquele dia 12 de abril, a abertura da campanha eleitoral de Cadogo para a segunda volta das presidenciais. O primeiro-ministro era considerado o grande favorito, depois de sair em primeiro lugar na primeira volta, com 49% dos votos, quase a maioria absoluta.

Popularidade versus militares

O chefe do Governo gozava de muita popularidade porque soubera dar ao país, vítima permanente de golpes de Estado, alguma estabilidade que resultou até num crescimento económico.

Militares angolanos deixam Bissau, em junho de 2012: presença de Angola foi um dos motivos para o golpe
Militares angolanos deixam Bissau, em junho de 2012: presença de Angola foi um dos motivos para o golpeFoto: AFP/Getty Images

Não obstante a sua popularidade, o político tinha um adversário de peso: o exército. Na Guiné-Bissau nada se faz contra a vontade dos militares. E estes ressentiram-se da tentativa de modernização das forças armadas levada a cabo pelo Governo com a ajuda de Angola. O objectivo era reduzir o número de soldados e oficiais e subjugá-los ao comando civil.

Carlos Gomes Júnior na presidência significava uma ameaça para o poder militar e o seu envolvimento no narcotráfico. Por isso detiveram o primeiro-ministro, seguidamente forçado a exilar-se em Portugal.

Em lugar do Governo formado pelo seu partido, o PAIGC, os militares revoltados instalaram um executivo civil, mas sem legitimação democrática. Desde então, o único acontecimento digno de nota foi  a detenção em alto mar, na semana passada, por agentes norte-americanos, do Almirante guineense Bubo Na Tchuto, que vai ser julgado por tráfico de drogas.

O novo governo da Guiné-Bissau: Sory Djaló, presidente do Parlamento, Serifo Nhamadjo, presidente, (centro) e Rui de Barros (dir.), primeiro-ministro
O novo governo da Guiné-Bissau: Sory Djaló, presidente do Parlamento, Serifo Nhamadjo, presidente, (centro) e Rui de Barros (dir.), primeiro-ministroFoto: DW

Situação igual, sem eleições

Mas, de resto, pouco se passou nos últimos doze meses, a situação permanece a mesma e as eleições prometidas pelos golpistas não se realizaram. Por isso, o enviado especial das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, o prémio nobel da paz e ex-Presidente de Timor Leste, José Ramos-Horta, exige "a realização de eleições até ao final deste ano, a formação de um governo mais alargado para ser mais legítimo, para gerir o processo até as eleições o mais rápido possível – a partir de abril ou maio, deveria haver um governo mais alargado".

Ramos-Horta também disse querer a mobilização de recursos financeiros e materiais, mas afirmou que esta era "a parte mais simples. A parte mais complexa e sensível é o aspeto político".

Isolamento internacional

Apenas a Comunidade Económica e de Desenolvimento da África Ocidental (CEDEAO) reconheceu o Governo de transição, que se encontra internacionalmente isolado. Mas também a CEDEAO exige eleições até ao final do ano.

Atenção internacional cai um ano após o golpe militar de Estado na Guiné-Bissau

No entanto, adverte o analista Paulo Gorjão, diretor do Instituto português de pesquisa da política internacional (IPRIS), as eleições não são uma panaceia universal: "Não é suficiente repor a legalidade constitucional, embora evidentemente seja muito importante, mas é preciso, de facto, resolver de uma vez por todas os problemas que afetam a Guiné-Bissau: a reforma do sector de segurança e, por sua vez, ligada a isso, uma política mais pró-ativa no combate ao narcotráfico", avalia o especialista.

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